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fernando botelho
O dia 1 de dezembro foi escolhido como Dia Mundial de combate à AIDS,
quando o mundo une forças para a conscientização sobre esta doença. Desde o
final dos anos 80, o Dia Mundial de combate à AIDS vigora no calendário de milhares de
pessoas ao redor do mundo.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, ao final de 2007, 33 milhões de pessoas
conviviam com o vírus do HIV, sendo que, diariamente, surgem 7.500 novos casos.
No Brasil, desde
1980 a junho de 2007, foram registrados mais de 470 mil casos, segundo o Ministério da Saúde.
Atraso
no diagnóstico é desafio para combate à aids no Brasil
agência brasil
paulo laboisière
Entre os
desafios do combate à aids no Brasil, está o atraso no diagnóstico da doença.
Para o presidente do Fórum de Organizações Não Governamentais (ONGs) Aids do
estado de São Paulo, Rodrigo de Souza Pinheiro, ainda faltam informações e
campanhas nesse sentido.
Segundo Pinheiro,
o Estado cumpre seu papel de certa forma, mas ainda há muitos desafios. “Um
deles é a questão do diagnóstico tardio, muitas pessoas ainda demoram para ser
diagnosticadas, então acho que deveríamos ter mais campanhas, mais serviços que
pudessem atender e conscientizar a população a fazer o teste de HIV”, afirma.
“Outro grande
desafio no Brasil é a inclusão de pessoas soropositivas na sociedade. O
preconceito com as pessoas que convivem com HIV/aids é muito grande. Uma das
questões que temos trabalhado é para que realmente venha a diminuir essa
questão do preconceito e da discriminação”.
O Fórum de ONG's
Aids de São Paulo tem 122 organizações associadas, mas existem outras entidades
no estado que atuam no combate à doença. Elas trabalham em parceria com os
municípios, para atender populações que o Poder Público não consegue atingir.
Cada ONG tem um
tipo de atuação, algumas trabalham com prevenção, outras com direitos humanos,
e o fórum faz um trabalho de articulação de políticas públicas. “Temos uma
reunião mensal aqui em São Paulo onde são discutidas as questões prioritárias,
como falta de medicamentos, e levamos essas questões ao governo. Temos vários
tipos de atuação para melhorar a qualidade de vida das pessoas soropositivas”,
relata Pinheiro.
De acordo com
ele, é importante que as pessoas tenham mais informações sobre a transmissão do
vírus HIV. Outra atitude que o fórum está tomando é tentar aprovar na Câmara
dos Deputados o Projeto de Lei 6.124/2005 que criminaliza a discriminação de
pessoas que vivem com o HIV.
“A questão da
prevenção também é um grande desafio, principalmente para as populações mais vulneráveis,
e o Estado deixa a desejar nesse sentido. Se a gente analisar, no Brasil temos
falhado muito na questão do acesso, tanto das pessoas que vivem com o HIV,
quanto das demais que precisam do serviço de saúde. Isso é um grande desafio
para o governo que está assumindo. É necessário também facilitar acesso aos
preservativos e aos testes. Em alguns estados, principalmente do Norte e
Nordeste, isso ainda é muito complicado, e é onde a epidemia tem mostrado um
nível de crescimento”.
Com o número de
novas infecções pelo vírus HIV estabilizado no país e as mortes em tendência de
queda, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, acredita que a resposta para o
que chama de sucesso do programa brasileiro de combate à aids seja o Sistema
Único de Saúde (SUS).
“Todos os países
do mundo que não dispõem de um sistema universal, de qualidade, com grande
capilaridade, fracassaram no combate à aids. No Brasil, o sucesso aconteceu
porque o programa é de muito boa qualidade e se desenvolve no contexto de um
sistema articulado e integrado”, disse.
Em entrevista à
Agência Brasil, Temporão destacou, entretanto, que o problema da discriminação
de pessoas que vivem com aids ainda é grande. “É um desafio permanente”,
avaliou. Para o ministro, é preciso que a população brasileira entenda que o
avanço da ciência faz do portador do HIV uma pessoa com doença crônica e não
mais alguém com uma sentença de morte.
“Fazendo o
acompanhamento adequado, ela pode ter uma vida normal como qualquer outra
pessoa. Pode trabalhar, casar, ter filhos”, explicou. Segundo o ministro, o
país tem se destacado na luta contra a discriminação por meio de campanhas
ousadas, como a do beijo entre um parceiro soropositivo e outro não. “Sempre
vejo essas polêmicas como positivas porque são questões complexas, que têm a
ver com a sexualidade e com os sentimentos mais íntimos. Fazer diferente é bom
para chamar a atenção”, disse.
Este ano, a campanha do Ministério da Saúde tem como tema O Preconceito como Aspecto de Vulnerabilidade ao HIV/Aids, com foco em jovens de 15 a 24 anos. O grupo, de acordo com a pasta, tem maior número de parceiros casuais em relação a adultos e cerca de 40% deles declararam não usar preservativo
Para marcar o
Dia Mundial de Luta Contra a Aids, pessoas que vivem com o vírus HIV relataram
à Agência Brasil suas experiências. Nas conversas, elas contam como encaram a
doença, a relação com a família e os amigos e a questão do preconceito.
É o caso da
estudante Nelma Borges, 17 anos, que vive com a doença desde que nasceu,
transmitida pela mãe durante a gravidez. Ela diz que a aids não a assusta, mas
que nem sempre foi assim. “Quando criança, era difícil. Para mim, a vida tinha
acabado. A partir do momento em que aprendi a entender o que era, como era,
comecei a ver a vida de forma mais tranquila”, disse a jovem, moradora do
Distrito Federal (DF).
Nelma conta que
lidou com o preconceito na escola e nas relações pessoais. “As pessoas que
andavam comigo tinham bastante [preconceito]. Alguns namoradinhos também. Na
escola, convivi com um colega que tinha. Quanto à família, não sofri nenhuma
discriminação. Os amigos de verdade nunca deixaram de conviver comigo por conta
disso”.
Assim como
Nelma, CF*, 18 anos, também contraiu o vírus por transmissão vertical (de mãe
para filho). Aos 13 anos, descobriu a doença. Por decisão da família adotiva,
ele revelou sua sorologia positiva apenas a pessoas próximas. Morador também do
Distrito Federal, CF admite que não enfrentou o preconceito, porém
conhece quem já passou pela situação. “Eu nunca sofri, mas sei de pessoas que
tiveram de mudar de escola”, conta.
Sobre o futuro,
disse que os projetos de vida continuam os mesmos e que a aids é apenas “ um
detalhe a mais para ter cuidado”.
Aos 43 anos, o
servidor público aposentado Edson dos Santos, de Santo André (SP), fala com
tranquilidade sobre a doença com a qual convive desde 1997. A descoberta foi
por acaso, quando fez exame para detectar uma tuberculose. “O médico ficou sem
graça de me dar o resultado. Eu mesmo falei que nem era preciso pedir uma
segunda amostra. Não tive a sensação de que iria morrer”, disse Edson, que
contraiu a doença pelo sexo sem preservativo.
Como agente
administrativo, Edson exerceu a função até 2006, quando foi obrigado a se
aposentar devido à saúde debilitada - teve seis tuberculoses e ficou em coma
cerebral. Atualmente, é ativista do Movimento de Prevenção à Tuberculose
e da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids.
Para ele, o
apoio familiar e dos amigos foi importante para lidar com a doença e impedir que
fosse vítima de qualquer tipo de preconceito. “Quando falei para minha mãe que
tinha aids, ela disse que eu não era o primeiro e nem o último. Nunca permiti
que fizessem isso comigo [preconceito]. Temos que encarar e mostrar que estamos
vivendo”, relata.
Na opinião do
contador Júlio Rodrigues, 46 anos, os portadores do HIV não devem esconder o
vírus da sociedade e dos parentes. Outra sugestão dada por ele é a busca de
conhecimento sobre a doença, atitude que tomou há dez anos quando recebeu o
diagnóstico. “Naquela época, eu não tinha informação nenhuma. Tive que
procurar informações. Eu li bastante”, disse o coordenador da Associação
Katiró, organização de apoio a portadores do vírus HIV em Manaus (AM).