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Saúde
01/12/2014 10:31:54

Primeiro de Dezembro: Dia Mundial de Combate a AIDS

Primeiro de Dezembro: Dia Mundial de Combate a AIDS
Ilustração

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fernando botelho

 

O dia 1 de dezembro foi escolhido como Dia Mundial de combate à AIDS, quando o mundo une forças para a conscientização sobre esta doença. Desde o final dos anos 80, o Dia Mundial de combate à AIDS vigora no calendário de milhares de pessoas ao redor do mundo.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, ao final de 2007, 33 milhões de pessoas conviviam com o vírus do HIV, sendo que, diariamente, surgem 7.500 novos casos.

 

No Brasil, desde 1980 a junho de 2007, foram registrados mais de 470 mil casos, segundo o Ministério da Saúde.

 

 Atraso no diagnóstico é desafio para combate à aids no Brasil  

agência brasil

paulo laboisière

 

Entre os desafios do combate à aids no Brasil, está o atraso no diagnóstico da doença. Para o presidente do Fórum de Organizações Não Governamentais (ONGs) Aids do estado de São Paulo, Rodrigo de Souza Pinheiro, ainda faltam informações e campanhas nesse sentido.

 

Segundo Pinheiro, o Estado cumpre seu papel de certa forma, mas ainda há muitos desafios. “Um deles é a questão do diagnóstico tardio, muitas pessoas ainda demoram para ser diagnosticadas, então acho que deveríamos ter mais campanhas, mais serviços que pudessem atender e conscientizar a população a fazer o teste de HIV”, afirma.

 

“Outro grande desafio no Brasil é a inclusão de pessoas soropositivas na sociedade. O preconceito com as pessoas que convivem com HIV/aids é muito grande. Uma das questões que temos trabalhado é para que realmente venha a diminuir essa questão do preconceito e da discriminação”.

 

O Fórum de ONG's Aids de São Paulo tem 122 organizações associadas, mas existem outras entidades no estado que atuam no combate à doença. Elas trabalham em parceria com os municípios, para atender populações que o Poder Público não consegue atingir.

 

Cada ONG tem um tipo de atuação, algumas trabalham com prevenção, outras com direitos humanos, e o fórum faz um trabalho de articulação de políticas públicas. “Temos uma reunião mensal aqui em São Paulo onde são discutidas as questões prioritárias, como falta de medicamentos, e levamos essas questões ao governo. Temos vários tipos de atuação para melhorar a qualidade de vida das pessoas soropositivas”, relata Pinheiro.

 

De acordo com ele, é importante que as pessoas tenham mais informações sobre a transmissão do vírus HIV. Outra atitude que o fórum está tomando é tentar aprovar na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 6.124/2005 que criminaliza a discriminação de pessoas que vivem com o HIV.

 

“A questão da prevenção também é um grande desafio, principalmente para as populações mais vulneráveis, e o Estado deixa a desejar nesse sentido. Se a gente analisar, no Brasil temos falhado muito na questão do acesso, tanto das pessoas que vivem com o HIV, quanto das demais que precisam do serviço de saúde. Isso é um grande desafio para o governo que está assumindo. É necessário também facilitar acesso aos preservativos e aos testes. Em alguns estados, principalmente do Norte e Nordeste, isso ainda é muito complicado, e é onde a epidemia tem mostrado um nível de crescimento”.

 

Com o número de novas infecções pelo vírus HIV estabilizado no país e as mortes em tendência de queda, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, acredita que a resposta para o que chama de sucesso do programa brasileiro de combate à aids seja o Sistema Único de Saúde (SUS).

 

“Todos os países do mundo que não dispõem de um sistema universal, de qualidade, com grande capilaridade, fracassaram no combate à aids. No Brasil, o sucesso aconteceu porque o programa é de muito boa qualidade e se desenvolve no contexto de um sistema articulado e integrado”, disse.

 

Em entrevista à Agência Brasil, Temporão destacou, entretanto, que o problema da discriminação de pessoas que vivem com aids ainda é grande. “É um desafio permanente”, avaliou. Para o ministro, é preciso que a população brasileira entenda que o avanço da ciência faz do portador do HIV uma pessoa com doença crônica e não mais alguém com uma sentença de morte.

 

“Fazendo o acompanhamento adequado, ela pode ter uma vida normal como qualquer outra pessoa. Pode trabalhar, casar, ter filhos”, explicou. Segundo o ministro, o país tem se destacado na luta contra a discriminação por meio de campanhas ousadas, como a do beijo entre um parceiro soropositivo e outro não. “Sempre vejo essas polêmicas como positivas porque são questões complexas, que têm a ver com a sexualidade e com os sentimentos mais íntimos. Fazer diferente é bom para chamar a atenção”, disse.

 

Este ano, a campanha do Ministério da Saúde tem como tema O Preconceito como Aspecto de Vulnerabilidade ao HIV/Aids, com foco em jovens de 15 a 24 anos. O grupo, de acordo com a pasta, tem maior número de parceiros casuais em relação a adultos e cerca de 40% deles declararam não usar preservativo

 

Para marcar o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, pessoas que vivem com o vírus HIV relataram à Agência Brasil suas experiências. Nas conversas, elas contam como encaram a doença, a relação com a família e os amigos e a questão do preconceito.

 

É o caso da estudante Nelma Borges, 17 anos, que vive com a doença desde que nasceu, transmitida pela mãe durante a gravidez. Ela diz que a aids não a assusta, mas que nem sempre foi assim. “Quando criança, era difícil. Para mim, a vida tinha acabado. A partir do momento em que aprendi a entender o que era, como era, comecei a ver a vida de forma mais tranquila”, disse a jovem, moradora do Distrito Federal (DF).

 

Nelma conta que lidou com o preconceito na escola e nas relações pessoais. “As pessoas que andavam comigo tinham bastante [preconceito]. Alguns namoradinhos também. Na escola, convivi com um colega que tinha. Quanto à família, não sofri nenhuma discriminação. Os amigos de verdade nunca deixaram de conviver comigo por conta disso”.

 

Assim como Nelma, CF*, 18 anos, também contraiu o vírus por transmissão vertical (de mãe para filho). Aos 13 anos, descobriu a doença. Por decisão da família adotiva, ele revelou sua sorologia positiva apenas a pessoas próximas. Morador também do Distrito Federal, CF admite que não enfrentou  o preconceito, porém conhece quem já passou pela situação. “Eu nunca sofri, mas sei de pessoas que tiveram de mudar de escola”, conta.

 

Sobre o futuro, disse que os projetos de vida continuam os mesmos e que a aids é apenas “ um detalhe a mais para ter cuidado”.

 

Aos 43 anos, o servidor público aposentado Edson dos Santos, de Santo André (SP), fala com tranquilidade sobre a doença com a qual convive desde 1997. A descoberta foi por acaso, quando fez exame para detectar uma tuberculose. “O médico ficou sem graça de me dar o resultado. Eu mesmo falei que nem era preciso pedir uma segunda amostra. Não tive a sensação de que iria morrer”, disse Edson, que contraiu a doença pelo sexo sem preservativo.

 

Como agente administrativo, Edson exerceu a função até 2006, quando foi obrigado a se aposentar devido à saúde debilitada - teve seis tuberculoses e ficou em coma cerebral. Atualmente, é ativista  do Movimento de Prevenção à Tuberculose e da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids.

Para ele, o apoio familiar e dos amigos foi importante para lidar com a doença e impedir que fosse vítima de qualquer tipo de preconceito. “Quando falei para minha mãe que tinha aids, ela disse que eu não era o primeiro e nem o último. Nunca permiti que fizessem isso comigo [preconceito]. Temos que encarar e mostrar que estamos vivendo”, relata.

 

Na opinião do contador Júlio Rodrigues, 46 anos, os portadores do HIV não devem esconder o vírus da sociedade e dos parentes. Outra sugestão dada por ele é a busca de conhecimento sobre a doença, atitude que tomou há dez anos quando recebeu o diagnóstico.  “Naquela época, eu não tinha informação nenhuma. Tive que procurar informações. Eu li bastante”, disse o coordenador da Associação Katiró, organização de apoio a portadores do vírus HIV em Manaus (AM).