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"A mulher mais ciumenta
do mundo" virou notícia nos jornais britânicos na última semana por
submeter seu marido a testes em um detector de mentiras toda vez que ele chega
em casa.
O ciúme de Debbi Wood, de 31
anos, é patológico e ela foi diagnosticada com "síndrome de Otelo".
O nome é inspirado na famosa
obra de Shakespeare, Otelo - na qual o personagem principal, possuído por um
ciúme doentio, mata sua esposa, Desdêmona.
As pessoas que têm síndrome de
Otelo sofrem com o delírio de que seus parceiros ou parceiras são infiéis.
"A pessoa fica obcecada
com a ideia de traição e infidelidade e tenta fazer de tudo para buscar provas
que mostrem que ela está certa", explicou à BBC o psiquiatra Walter
Ghedin.
"Por exemplo, ela tenta
fuçar no computador ou no celular do parceiro ou se mostra violenta, humilhando
o outro."
Casos extremos
Em casos extremos, a pessoa
que sofre com o transtorno pode chegar a matar o objeto de seu ciúme.
"Quando se chega ao
homicídio é porque existe outro tipo de personalidade patológica, que se
desenvolve a partir de uma paranóia ou em um ciúme delirante", diz o
especialista.
Segundo Ghedin, há casos em
que o ciúme é reforçado pela influência de terceiras pessoas.
Ele lembra que na obra de
Shakespeare, Yago ajudou a convencer Otelo que Desdêmona seria infiel.
"As pessoas ciumentas
podem ser influenciadas pelas opiniões de outras pessoas - ou pelos meios de
comunicação", diz o psiquiatra.
Segundo o especialista, a
melhor forma de tratar a síndrome de Otelo é buscar ajuda o quanto antes e
entender as causas do problema.
A psicoterapia seria uma
grande ajuda e, nos casos extremos, se recomenda medicação.
"Em alguns pacientes a
ideia de infidelidade é tão forte, tão recorrente no pensamento, que altera as
relações com outras pessoas. Nesses casos, uma medicação pode atenuar a
intensidade dessa ideia fixa", diz Ghedin.
Tipos de ciúme
O ciúme só é considerado um
distúrbio psiquiátrico quando domina as pessoas e altera drasticamente suas
vidas.
Segundo Ghedin, há quatro
tipos de ciúmes:
- Reação emocional normal:
trata-se de um sentimento transitório, que não condiciona a vida de quem o
sente.
- Reação emocional desmedida:
afeta sobretudo as relações amorosas. Pode ou não ter sido precedida de
situações de infidelidade
- Ciúme como traço distinto da
personalidade: típico dos que têm personalidade desconfiada. O ciúme afeta
todas as áreas da vida de uma pessoa: família, amor e relações de trabalho. Em
geral é característico de pessoas calculistas, que veem ameaças onde elas não
existem e estão convencidas de que seu ponto de vista é uma verdade
indiscutível. Está ligado ao chamado Transtorno Paranoico de Personalidade.
- Síndrome de Otelo: como dito
anteriormente, um distúrbio caracterizado por pensamentos delirantes de ciúme.
O delírio que alimenta o ciúme pode ser parte de um transtorno crônico ou
paranóia, mas também pode indicar um quadro de demência por deterioração do
córtex cerebral ou de alcoolismo crônico.
Homens
A síndrome de Otelo é mais
comum em homens do que em mulheres. Segundo Ghedin, isso acontece por razões
psicológicas e culturais.
No homem, "o apego real e
simbólico à figura da mãe" atuaria inconscientemente gerando sentimentos
"ambivalentes" de amor e ódio com relação a outras mulheres.
No que diz respeito a
influência da cultura, segundo o psiquiatra, o problema é que em muitas
sociedades ainda é forte a ideia de poder e dominação dos homens sobre as
mulheres.
Como resultado, alguns homens
esperam que suas companheiras se submetam a suas regras e qualquer conduta de
autonomia é vista como suspeita.