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Nesta segunda-feira
(17), Dia Mundial do Combate ao Câncer da Próstata, médicos e pacientes falam
sobre a importância do diagnóstico precoce e da realização de exames para o
tratamento da doença.
“É uma situação
muito ruim. É uma mutilação que ninguém vê. Mas a opção à cirurgia é morrer”. A
constatação é forte, mas o músico Rafael Prista, 60 anos, fala isto sem dramas.
Em abril do ano passado ele passou por uma cirurgia para retirada do câncer de
próstata. Um ano e meio depois, vida normal e o alívio permanente de ter identificado
a doença ainda no estágio inicial.
Ele descobriu
que tinha um câncer de próstata do tipo agressivo por meio dos exames de sangue
de rotina. A taxa do PSA deu alta e o
clínico-geral falou para ele marcar uma consulta com um urologista. “Eu não
sentia nada. Nada de ardência, problemas sexuais nada. Estava nas fases
iniciais que são absolutamente assintomáticas”, disse. Um mês depois do
diagnóstico, Prista operou.
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O diagnóstico
precoce também foi uma característica do caso do bancário Otávio Jose de Medeiros
Carreiro, de 56 anos. Em janeiro deste ano ele descobriu o câncer em fase
inicial e foi operado por uma cirurgia robótica, método minimamente invasivo.
“Optei pelo método mais avançado que tinha, queria resolver isso logo. Hoje
estou super bem e curado”, disse.
O câncer de
próstata tem 68 mil novos casos por ano no Brasil, com cerca de 520 mil mortes
estimadas. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata
é o com maior incidencia entre os homens em todas as regiões do país.
Porém, pesquisa
da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que entrevistou 5 mil homens em
2013, revelou que 47% dos entrevistados nunca realizaram exames para detectar o
câncer depróstata, 44% jamais se consultaram com o urologista e 51% nunca
fizeram exames para aferir os níveis de testosterona (hormônio masculino) no
sangue.
As causas do
câncer de próstata não são totalmente esclarecidas e também não existe
prevenção. “Todas as teorias sobre alimentos que previnem o câncer de próstata
foram por água a baixo e possíveis remédios estão ainda em testes. O fato é que
depois dos 50, um a cada seis homens vai ter câncer de próstata”, afirma o
urologista Cesar Câmara, do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
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PSA
De acordo com o
urologista Daher Chade, do Instituto do Câncer de São Paulo Chade, o ideal é
que entre 40 e 45 anos o homem faça uma avaliação clínica para estimar fatores
de risco e definir a partir de quando precisa fazer o acompanhamento. “Algumas
pessoas precisam fazer antes dos 50 e outras depois dos 50”, diz.
Como não existe
prevenção, as campanhas focam no diagnóstico precoce que é determinante. Entre
cada dez casos de câncer descobertos logo no início, nove têm chances de cura.
“Além de o diagnóstico precoce ser importante para que o tratamento já aconteça
nas fases iniciais, quanto mais elevado o estágio, aumenta a chance de efeitos
colaterais”, afirma o urologista Bruno Benigno, do Hospital AC Camargo Cancer
Center, em São Paulo.
Há um risco de
incontinência urinária entre 5% e 10% dos pacientes e de dificuldade de ereção
entre 20% (para mais novos de 65 anos) e 40% (para mais velhos de 65 anos).
"Todo mundo que
opera esquece a vida sexual por um tempo e torce para não ter incontinência
urinária. Porque leva um ano para tratar mais ou menos. Eu sofri muito, não
tive incontinência urinária e problema sexual cada vez está mais normal. Hoje
eu levo uma vida normal e até voltei a correr os meus 10 quilômetros”, diz
Prista.
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finasterida contra câncer de próstata
Os especialistas
afirmam que para todos os efeitos colaterais existe tratamento. “Muitas vezes o
tratamento melhora a performance do paciente. Sem contar que ele passa a se
cuidar mais . “O que vale ressaltar é que é uma troca pela vida”, diz Chade.
Tanto Prista
quanto Carreiro descobriram o câncer a partir do PSA alterado. “Mas vale
ressaltar que apenas 70% dos casos de PSA alterado são diagnosticados com
câncer de próstata. É preciso fazer o exame de toque para verificar possíveis
nódulos e depois a biópsia”, explica Benigno.
O exame de toque
retal é apontado ainda como temido por muitos homens, mas é o melhor exame para
detectar anomalias na próstata. “O preconceito tem diminuído muito. Vejo que se
tem um serviço disponível os pacientes fazem o exame. Acredito que o problema é
falto de acesso a urologistas”, afirma Câmara.
“Mulher também
não faz um bando de exame invasivo? Porque que a gente não vai fazer um. Tem
que fazer”, disse Carreiro. Prista concorda e lamenta que ainda hoje exista
quem prefira morrer de câncer a se cuidar. “É uma coisa ridícula achar que
fazer um exame vai ferir a masculinidade de uma pessoa. É bom lembrar que a
alternativa é morrer”, diz.