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anna claudia almeida
A demissão de médicos e
redução da carga horária do Programa Saúde da Família (PSF) pegaram vários
profissionais da área de surpresa em Viçosa, na Zona da Mata de Alagoas. A
determinação do prefeito Flaubert Filho é justificada na contenção de gastos
principalmente pela falta de recursos, após a queda no Fundo de Participação
dos Municípios (FPM).
Médicos, enfermeiros,
odontólogos e outros profissionais das demais especialidades foram dispensados
pelo gestor; já aqueles concursados que trabalham nos postos do PSF serão, a
partir do mês de novembro, remanejados para outras funções, com redução da
carga horária e salarial. Apenas os clínicos gerais foram mantidos e o efeito
dessa decisão deverá ser sentido nos próximos dias: a população precisará ir a
Maceió para atendimento.
Segundo apurou o
CadaMinuto com profissionais da saúde, o comunicado foi feito durante reunião,
esta semana, com a secretária de Saúde, Kenya Valença, dando a justificativa de
que a falta de verba vem dificultando os trabalhos na cidade. Isso acarretou
nas demissões e remanejamentos dos servidores concursados.
“Ainda não sabemos para
onde vamos ser remanejados. Mas fomos informados que em novembro teremos a
carga horária reduzida de 40h semanais para 20h, assim como o salário. Ou seja,
uma redução salarial de quase um terço do valor líquido. Dificuldade nas contas
não é motivo para retroceder e com essa determinação é exatamente isso que irá
acontecer; a cidade vai se transformar num caos”, disse uma servidora.
A cidade dispõe de um
baixíssimo efetivo de profissionais da saúde concursados. Enfermeiros,
dentistas e agentes de saúde do PSF deixarão de dar atenção à população, um
trabalho essencial, mas que já era desenvolvido no limite. Cinco equipes do
programa atendiam 15 mil pessoas, o que significa 60% da população local.
“O PSF é um programa de
extrema importância, mas com um número pequeno de profissionais, não conseguíamos
atender toda a população. Encerrando esse trabalho, Viçosa vai viver momentos
de caos na saúde”, acrescentou um servidor.
Como ninguém consegue
contato com o prefeito, os servidores afirmam que irão comunicar o caso ao
sindicato e, se preciso, adotar medidas legais no Ministério Público Estadual.
“Não somos leigos, conhecemos o estatuto do município e sabemos que isso que
está acontecendo em Viçosa é ilegal. Somos concursados e não se pode reduzir
nossos salários nem a carga horária. A população vai sofrer com essa decisão da
prefeitura”, finalizou.
A demissão de
profissionais da saúde, das mais diversas especialidades, já é percebida pela
população. Quem procura atendimento nos postos e hospitais, volta pra casa sem
a consulta marcada ou realização de exames. Com isso, o município que é
referência na região deixará de prestar atendimento e os pacientes precisarão
seguir para a capital.
O que diz a prefeitura
Em nota encaminhada ao
CadaMinuto, através da assessoria de comunicação, a prefeitura de Viçosa
informou que assim como o Fundo de Participação dos Municípios, o Fundo de
Saúde também vem sofrendo baixas, o que implica em uma maior contrapartida da
prefeitura na remuneração dos profissionais da área que ficam cada dia mais
caros. Dessa maneira algumas especialidades médicas tiveram que ser cortadas,
já que não haveria forma de arcar com esses custos, em um determinado momento
os salários (que nunca deixaram de ser pagos) começariam a atrasar.
Quanto ao PSF (Programa
de Saúde na Família), Secretaria de Saúde informa que não será extinto, apenas
haverá uma redução na carga horária, antes 40h passará para 20h, pois a verba
do Governo Federal destinada ao programa é de 10 mil reais, mas os custos
chegam a 45 mil, o que obviamente exige da prefeitura uma contrapartida de 35
mil e com queda do FPM esse custeio torna-se praticamente impossível de ser
efetuado.
A queda do FPM e seus
efeitos
Alguns municípios
alagoanos paralisaram suas atividades administrativas no último dia 15 de
outubro, em protesto à defasagem do repasse do Fundo de Participação dos
Municípios (FPM). Na ocasião, além da prefeitura de Viçosa, as atividades
foram paralisadas em São José da Lage, Matriz do Camaragibe, Quebrangulo,
Japaratinga, Paulo Jacinto, Porto Real do Colégio, Tanque D'Arca, Estrela de
Alagoas, Lagoa da Canoa, Feira Grande, Porto de Pedras e Igaci.
Dados da Confederação
Nacional dos Municípios (CNM) apontam que o repasse previsto para outubro para
os municípios alagoanos é quase 8% menor que o referente ao mês de setembro.
No mês anterior, Alagoas recebeu R$ 94.616.521,33 para ser rateado entre
os municípios. Segundo a AMA, os recursos que os municípios recebem
atualmente são insuficientes diante da grande carga de responsabilidades que os
prefeitos têm.
Segundo a Associação dos
Municípios Alagoanos (AMA), com os repasses do FPM defasados , o crescimento
nas despesas está tornando cada dia mais difícil a situação financeira,
impedindo que os prefeitos possam honrar, em dia, os compromissos com
fornecedores e funcionários. As responsabilidades repassadas pelo Congresso
Nacional às prefeituras têm aumentado. Na contramão, não há recursos o
suficiente para atender tantas atribuições. A crise começa por ai e se torna
mais grave quando os gestores assumem tarefas que não são dever dos Municípios.
Para o presidente da
AMA, Jorge Dantas, é necessário um novo pacto que altere a repartição do bolo
tributário. Hoje os municípios recebem apenas 12,5% de tudo que é arrecadado.
As prefeituras precisam administrar com os mesmos recursos que não acompanham
os aumentos como de salários, alimentação, combustível e custeio.
O Fundo de
Participação dos Municípios (FPM) é a maneira como a União (Governo
Federal do Brasil) repassa verbas para os municípios brasileiros, cujo
percentual, dentre outros fatores, é determinado principalmente pela proporção
do número de habitantes estimado anualmente pelo IBGE.