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ricardo senra
Eles associaram suas fotografias ao site "Nordestinos Sim"
(http://nordestinosim.com.br/), criado há menos de três semanas para celebrar,
por meio de um mosaico de diferentes cores, idades e gêneros, o orgulho de quem
nasce na região.
Lançado em 8 de outubro, o site ganhou fôlego durante a onda de
mensagens discriminatórias publicadas nas redes sociais na reta final das
eleições. E não foi só ele.
Em resposta a mensagens como "só foram feitos para comer farinha,
fazer filho e ganhar Bolsa Família", outras manifestações de defesa à
cultura e aos cidadãos nordestinos se espalharam pelas redes.
Caso da hashtag #SouDoNordesteMesmoEComOrgulho, que em menos de uma
semana foi compartilhada mais de 100 mil vezes e ganhou adeptos como o escritor
Paulo Coelho e o rapper MV Bill. Logo após a divulgação do resultado das
eleições, no domingo, a frase chegou ao topo da lista de assuntos mais
discutidos no Twitter em todo o mundo.
'Unir
rostos'
"O ódio a determinadas regiões, origens, classes sociais não leva a
lugar nenhum. Nossa ideia então foi unir nossos rostos para promover
união", explica o publicitário sergipano Ricardo Cardoso, criador do
projeto "Nordestinos sim".
Ele diz que o site não visa estimular rivalidades, mas convidar
brasileiros de todos os Estados a "mostrarem a cara e registrar que somos
todos iguais, com os mesmos defeitos e qualidades".
Mais do que conquistar adeptos no Sul, Sudeste e Centro-Oeste do país, o
"Nordestinos sim" também reúne imagens de brasileiros que vivem nos
Estados Unidos, Espanha, Itália, Argentina, Alemanha, Austrália, Angola,
Luxemburgo e França.
A modelo Daniele Magalhães, que nasceu em Aracaju e mora no interior de
Minas Gerais, é uma delas. Ao #SalaSocial, ela afirmou ter feito questão de
mostrar suas origens depois de ler em sua timeline comentários pejorativos
sobre o voto de seus conterrâneos.
"Não costumo discutir política, e não discuti em momento algum, mas
a verdade é que fiz questão de deixar claro minha indignação com a forma
arrogante que algumas pessoas se referiam aos nordestinos", diz.
"Algumas pessoas não sabiam de onde eu venho", afirma
Magalhães, que não se abateu pelos comentários. "Sim, hoje mais do que
nunca eu me orgulho por ser a nordestina que sou".
Direitos
humanos
Para Camila Lippi, professora da Universidade Federal do Amapá e
coordenadora o Observatório Amazônico de Direitos Humanos, o direito à
liberdade de expressão - argumento de muitos para manifestações preconceituosas
- tem limites.
"Qualquer sociedade democrática precisa respeitar e defender os
direitos de grupos políticos, étnicos, sexuais, quais forem", diz.
"Isso está nos tratados internacionais de direitos humanos: eles proíbem
apologia ao ódio, como proíbem propaganda a favor de guerras."
A professora, que diz ter ficado surpresa com o nível das campanhas no
Rio de Janeiro, onde esteve no fim de semana eleitoral, afirma que as
manifestações na internet reproduzem discursos cotidianos de ódio.
"Eles são proferidos diariamente por muitos nas ruas, sem que o
autor se dê conta que está falando de seus vizinhos, seus colegas de trabalho,
seus amigos", afirma.
Na opinião da especialista em redes sociais Anna Haddad, a discussão tem
aspectos "superpositivos para uma sociedade pouco politizada como a
brasileira".
"Esse fenômeno traz um movimento importante. As pessoas acompanham
os comentários, ouvem opiniões distintas e isso estimula a busca por educação
política.
Essa interação enorme ajuda a construir novas reflexões, destruir velhos
paradigmas, e traz efeitos vão desde um like ou comentário novos, até uma
crítica inesperada, a criação de novos movimentos políticos, a criação de um
novo partido", diz.