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fábio amato
Em meio ao agravamento da
situação nos reservatórios das principais hidrelétricas do país, entra em vigor
neste domingo (19) o horário de verão. A expectativa do governo é que a redução
no consumo de energia no período contribua com uma queda de 0,4% no uso da água
dessas represas.
A 39ª edição do horário de
verão terá duração de 126 dias e terminará no dia 22 de fevereiro. À 0h
(meia-noite) de sábado para domingo, os moradores de dez estados, além do
Distrito Federal, terão que adiantar os relógios em uma hora
Economia de água
Para especialistas do setor elétrico, a economia de água dos reservatórios das
hidrelétricas, apesar de pequena, é importante diante do cenário de crise. Por
conta da falta de chuvas, na quinta (16) o nível nos reservatórios do Sudeste e
Centro-Oeste, que respondem por 70% da capacidade do país de gerar energia,
estava em 22,09%, o pior resultado para essa época desde 2001, quando o país
passou por racionamento.
“Essa economia [de 0,4%] não
é de se jogar fora diante da atual circunstância”, diz Roberto Brandão,
pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Os benefícios não são
gigantescos, mas ainda são significativos, continua valendo a pena. Qualquer
economia de água dos reservatórios é válida”, diz o presidente do instituto,
Claudio Sales.
De acordo com dados do
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entre 2010 e 2014 o horário de
verão resultou em economia de R$ 835 milhões para os consumidores, devido à
eletricidade que deixou de ser gerada pelo uso da luz do sol. Para a edição
2014/2015 do horário de verão, a economia estimada é de R$ 278 milhões, 31%
menos do que na edição passada (R$ 405 milhões).
Esses valores, porém, são
muito pequenos diante dos gastos do setor elétrico e não chegam ter impacto nas
contas de luz. Apenas os empréstimos bancários para fazer frente aos gastos
extras no setor elétrico em 2014 vão custar aos consumidores R$ 26,6 bilhões,
de acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU).
Benefícios
Além da economia de energia, o governo defende a manutenção do horário de verão
alegando que a medida evita investimentos de cerca de R$ 4 bilhões ao ano, com
mais geração e sistemas de transmissão de eletricidade. Segundo o Ministério de
Minas e Energia, ele permite um melhor aproveitamento da luz solar e “maior racionalidade
no uso da eletricidade.”
Outra vantagem, diz o
ministério, é o aumento da segurança do sistema elétrico e maior flexibilidade
para a realização de manutenções, além de redução da pressão sobre o meio
ambiente e nas tarifas cobradas pelo serviço. O horário de verão foi aplicado
no Brasil pela primeira vez no verão de 1931/1932.
Consumo na ponta
Entretanto outro efeito do horário de verão, que é o de evitar picos de consumo
de energia no chamado horário de ponta (entre 18h e 21h), “perdeu um pouco da
relevância” nos últimos anos, aponta Roberto Brandão, da UFRJ.
Por conta do aumento no uso
do ar-condicionado no país, mais recentemente os picos de consumo de
eletricidade durante o verão começaram a ser registrados no início ou meio da
tarde, entre 14h e 16h. Na quinta (16), por exemplo, ele aconteceu às 14h47,
informou Brandão.
No passado, esse pico era
registrado entre 18h e 21h, devido ao aumento do consumo gerado pelo uso de
eletrodomésticos quando as pessoas saem do trabalho e voltam para as suas
casas, junto com a iluminação pública nas cidades.
“Nos últimos anos, o horário
de verão perdeu um pouco da sua relevância porque houve mudança no padrão de
horário de ponta no Brasil”, diz o pesquisador. Ele aponta, porém, que continua
sendo importante equilibrar a demanda por energia no fim do dia.
Para o professor de
engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Shayani, o
horário de verão continua sendo importante para “evitar a sobrecarga” do
sistema elétrico durante o verão e até mesmo apagões. “O horário de verão é
necessário na medida em que a demanda por energia no Brasil está crescendo e o
setor elétrico não consegue acompanhá-la. Ela visa evitar um apagão”, diz ele.