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agência rbs
No interior de Alagoas, a equipe de reportagem do Canal
Rural flagrou cortadores de cana-de-açúcar trabalhando sem equipamentos de
segurança e sem carteira assinada. O trabalho é tão rudimentar que a cana ainda
é carregada no lombo do burro. A crise do setor sucroenergético resultou no
fechamento de quatro usinas no Estado em um ano.
O procedimento manual, sem estrutura e proteção, é ilegal.
– A gente aqui, estamos trabalhando clandestino (sic). Aqui não tem ninguém
fichado. Agora, quem trabalha fichado ja é outro tipo de serviço. Tem uma
ficha, tem o seguro desemprego, tem fundo de garantia e tem tudo. E aqui a
gente não tem, não vou mentir pra ninguém – conta o cortador Ingrácio Gomes da
Silva.
Ingrácio não usa luvas para proteger as mãos, ele é cortador de cana há 50
anos. Começou a trabalhar no canavial quando ainda era criança. Corta, por dia,
entre duas e três toneladas, conforme a disposição. Quando era mais novo, diz
que fazia entre cinco e seis toneladas diárias.
Muitos trabalhadores não conseguem emprego nas usinas devido à crise
financeira. José Edson do Carmo Oliveira, proprietário de 12 hectares de cana,
diz que não tem condições de registrar os trabalhadores.
– As usinas estão fechando, a maioria, não todas, estão quebrando e não tem
emprego pra eles. Os trabalhadores ficam parados. Aí, eles rezam pra não acabar
as minhas caninhas, que um mês, três meses que eles trabalham comigo, já ajuda
no dinheirinho dos filhos deles – declara o fornecedor de cana-de-açúcar.
A maior parte da cana de Alagoas é produzida pelas usinas. Mas o Estado tem
mais de sete mil fornecedores independentes, que produzem sete milhões de
toneladas, o que representa cerca de 30% da safra local.
A cana cortada manualmente é acumulada e depois separada em feixes do mesmo
tamanho, para facilitar o transporte. Depois de acumular uma certa quantidade,
esta cana é colocada no lombo do burro, que aguenta até 200 Kg. O burro segue
pelo terreno acidentado até a estrada, onde o caminhão é carregado.
No município de Murici, o custo para o corte manual e o transporte até a usina
é de R$ 50 por tonelada. O produtor recebe R$ 80, o mesmo valor pago na safra
passada. Mas, às vezes, a usina não paga. Por isso, parte da cana de Fabrício
Machado, não recebeu trato neste ano. O resultado é um canavial feio e com
baixa produção.
– A gente aqui na fazenda, tem o objetivo de todo ano renovar em torno de 20%
do nosso canavial. Mas de três anos pra cá, com toda esta crise, a gente vem
renovando em torno de 10%. Então, ano a ano a gente vem perdendo a
produtividade, vem perdendo na quantidade de cana – lamenta o produtor.
O mês de setembro é início da safra no Estado, aí as chuvas começam a
escassear. A cana desenvolve, brota bem, mas depois ela passa três, quatro,
cinco meses sem nada, diz o diretor técnico da Associação dos Plantadores de
Cana de Alagoas (Asplana), Antonio José Rosário Souza.
Há três anos, os pequenos fornecedores de cana do Nordeste recebem subsídio do
governo federal. São R$ 12 por tonelada, para no máximo dez mil toneladas por
produtor. Para a Asplana, esta ajuda não resolve a crise do setor.
– O que nós precisamos é de uma política pública permanente, continuada, que o
governo veja o setor sucroenergético com uma política definida em cima do
etanol – declara Lourenço Lopes, presidente da Associação.