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james gallagher
Os esforços pela descoberta da cura para a
diabetes tipo 1 recentemente "deram um tremendo passo", afirmaram
cientistas da Universidade de Harvard.
A doença ocorre quando o sistema imunológico do
corpo humano destrói as células que controlam o nível de açúcar no sangue. Uma
equipe de Harvard usou células-tronco para produzir centenas de milhares dessas
células em laboratório.
Testes em ratos mostraram que elas podem tratar
a doença, procedimento que especialistas descreveram como "potencialmente
um grande avanço médico".
Células beta no pâncreas produzem insulina para
baixar os níveis de açúcar no sangue.
Mas o próprio sistema imunológico do organismo pode
se voltar contra as células beta, as destruindo e deixando a pessoa com uma
doença potencialmente fatal, pois o corpo passa a não conseguir regular o nível
de açúcar no sangue.
A doença tipo 1 é bem diferente da diabetes tipo
2, que é de incidência mais comum por ser causada por um estilo de vida pouco
saudável.
Coquetel perfeito
A equipe de Harvard foi liderada pelo professor
Doug Melton, que começou sua busca pela cura da doença quando seu filho foi
diagnosticado há 23 anos. Mais tarde ele teve outra filha diagnosticada com a
doença.
Ele está tentando substituir aproximadamente 150
milhões de células beta usando a tecnologia das células-tronco.
O professor descobriu o coquetel perfeito de
agentes químicos para transformar células-tronco de embriões em células beta
funcionais.
Testes feitos com ratos – cujos resultados foram
publicados no jornal científico Cell – mostrou que as células produzidas
em laboratório poderiam produzir insulina e controlar os níveis de açúcar no
sangue por muitos meses.
"Foi gratificante saber que podemos fazer
algo que sempre acreditamos ser possível", disse Melton. "Estamos
atualmente a um passo pré-clínico para cruzar a linha de chegada".
Seus filhos, porém, não se mostraram tão
impressionados: "Acredito que, como crianças, eles sempre pensaram que
como eu disse que faria isso, eu conseguiria".
Mas quando as células beta forem injetadas em
uma pessoa, elas também serão atacadas e destruídas pelo sistema imunológica.
Por isso, será necessário fazer mais pesquisas antes que o recurso se
transforme em uma cura.
Mudança de rumo
Sarah Johnson, da organização beneficente JDRF,
que financiou o estudo, disse à BBC: "Não é uma cura, é um grande passo
nesse caminho. É um tremendo passo à frente".
"Substituir as células que produzem insulina
e desligar a resposta imunológica que causa a diabetes é um objetivo de longo
prazo".
O professor Chris Mason, um cientista
especializado em células tronco da University College London afirmou: "A
descoberta científica é fazer células funcionais que curem um rato diabético,
mas uma descoberta médica maior é conseguir produzir células funcionais em uma
escala grande o suficiente para tratar todos os diabéticos".
"Se essa tecnologia de escala provar que
funciona tanto na área clínica quando na área de manufatura, o impacto no
tratamento de diabetes vai ser uma descoberta revolucionária semelhante aos
antibióticos em relação às infecções bacterianas."
A pesquisadora Gillian Morrison, da Universidade
de Edinburgh, concorda que isso "representa um avanço real no campo".
"O próximo desafio importante será
encontrar maneiras de manter essas células dentro do corpo para que elas se
protejam da resposta do sistema imunológico para terem uma função de longo
prazo".
O Brasil é o quarto país do mundo em número de
portadores de diabetes, atrás de China, Índia e Estados Unidos, de acordo com a
International Diabetes Federation (IDF). Os números levam em conta pessoas com
idade entre 20 e 79 anos.
No ano passado, o Brasil tinha 13 milhões de
portadores, número que poderá subir para 592 milhões em 2035, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Diabetes. Para cada caso diagnosticado, estima-se que
haja um sem diagnóstico e, deste total, 1 milhão são crianças.