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fábio amato
O empréstimo
bancário de R$ 17,8 bilhões tomado pelo governo para socorrer as distribuidoras
de energia – cujos gastos subiram por conta da falta de chuvas, que
"secou" os reservatórios das hidrelétricas – vai custar R$ 26,6
bilhões aos consumidores. A informação está em um relatório do Tribunal de
Contas da União (TCU) ao qual o G1
teve acesso.
A diferença
de R$ 8,8 bilhões, aponta o documento do TCU, se refere aos custos bancários da
operação, ou seja, aos juros, que também serão pagos pelos consumidores. Pela
regra definida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel),
o empréstimo será repassado às contas de luz dos brasileiros entre 2015 e 2017.
Consultorias ouvidas pelo G1
apontaram que as tarifas podem aumentar entre 20% e 30% apenas no ano que vem,
por conta dessa fatura.
Segundo o
relatório do TCU, no primeiro ano serão repassados às contas de luz R$ 5,9
bilhões. Em 2016 serão R$ 13,3 bilhões e, em 2017, outros R$ 7,4 bilhões,
totalizando os R$ 26,6 bilhões. O empréstimo será pago em 34 parcelas.
Essa
operação financeira faz parte de um plano anunciado pelo governo em março, em
meio a uma crise no setor elétrico provocada pela disparada no custo da energia
no Brasil. O dinheiro veio socorrer as distribuidoras, que alegavam não ter
recursos para fazer frente aos gastos extras bilionários.
Energia
mais cara
A crise no setor elétrico tem duas motivações. A primeira é o uso mais intenso
das termelétricas nos últimos meses. Por conta da queda no nível de água
armazenada nos reservatórios das hidrelétricas, resultado da falta de chuvas,
essas usinas vêm gerando menos eletricidade, para poupar água. Para suprir a
demanda, o país vem usando todas as termelétricas disponíveis. O problema é que
as termelétricas, movidas a combustíveis como óleo e gás, produzem energia mais
cara.
A segunda
razão foi a alta no preço da energia no mercado à vista, outra consequência da
estiagem. Recorrem ao mercado à vista, onde os preços flutuam, as distribuidoras
que não têm contratada, a preço fixo, toda a eletricidade que precisam para
atender seus consumidores. No início deste ano, várias distribuidoras tinham
esse problema, apesar de lei do setor determinar que elas devem sempre estar
contratadas, por meio de leilões de energia promovidos pelo governo.
Pela regra,
tanto o custo extra com as térmicas, como aquele gerado pela necessidade de
compra de energia mais cara no mercado à vista, deveriam ser pagos pelas
distribuidoras, no primeiro momento, e depois repassados às contas de luz por
meio dos reajustes que ocorrem todos os anos.
Adiamento
Além de socorrer as distribuidoras, a solução encontrada pelo governo para
pagar esses gastos extras por meio do empréstimo bancário também evita que eles
sejam cobrados dos consumidores de uma só vez, o que levaria a aumentos na
conta de luz superiores aos que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)
tem autorizado nos últimos meses, alguns acima de 30%.
No final de
julho, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio
Zimmermann, informou que o repasse dos empréstimos seria diluído em 3 anos
(2015 a 2017) e resultaria em alta média nas contas de luz de 2,6% em 2015, 5%
em 2016 e 1,4% em 2017.
Porém, esse cálculo leva em conta, entre outros fatores, a relicitação de
hidrelétricas cujas concessões vencem nos próximos meses, e que têm potencial
para gerar 5 mil MW médios. Se isso for feito, a energia dessas usinas chegaria
aos consumidores a preços cerca de 70% mais em conta, o que contribuiria para
reduzir o preço médio da eletricidade no país.
Trata-se de hidrelétricas administradas por concessionárias como a Cemig, de
Minas Gerais, que não aderiram ao plano de barateamento da energia anunciado
pelo governo em 2012. Além de prazo necessário para preparar o leilão, a
relicitação pode sofrer atrasos devido a ações na Justiça.
O governo
tomou dois empréstimos: o primeiro, de R$ 11,2 bilhões, em abril, só foi
suficiente para pagar 3 meses dos gastos no setor. Assim, o governo se viu
obrigado a sacar um segundo, de R$ 6,6 bilhões, totalizando os R$ 17,8 bilhões.
A operação é intermediada pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE).
O primeiro
empréstimo foi fechado com um grupo de dez bancos e prevê taxa de juros de 1,9%
acima do CDI, que é a taxa de juros cobrada nos empréstimos entre os bancos.
Para o segundo, tomado junto a 13 bancos, os juros foram fixados em 2,35%, mais
a variação da CDI.
Dos R$ 17,8
bilhões, 53% foram emprestados por bancos públicos: Banco do Brasil e Caixa, com R$ 3,3
bilhões cada, e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes),
com R$ 2,7 bilhões.