O padre Marcelo Rossi teve seus
passos, CDs, livros, missas e aparições na TV seguidos de perto pelo Vaticano
do final dos anos 90 até cerca de quatro anos atrás.
A investigação, que durou quase 10
anos, foi provocada por uma denúncia feita por um religioso brasileiro, que
acusou o padre de culto ao personalismo, exibicionismo por ir demais às TVs, de
desvirtuar as práticas católicas e de transformar a missa em uma espécie de
"circo".
A investigação foi comandada pela
Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo cardeal Joseph Ratzinger, que
mais tarde se tornaria o papa Bento 16. A Congregatio pro Doctrina
Fidei é o novo nome que o Vaticano dá para a assassina Inquisição.
O UOL apurou com
exclusividade que, entre o final dos anos 90 e a década de 2000, a Congregação
recebia regularmente vídeos com as participações do padre Marcelo em programas
como o de Gugu Liberato no SBT e de Fausto Silva, na Globo.
A Cogregatio matou na fogueira,
por asfixia ou afogamento centenas de milhares de pessoas no mínimo entre os
séculos 12 e século 19 (mas há relatos de incipientes matanças já no século
10).
A Inquisição também calou,
excomungou ou proibiu de ensinar milhares de padres e freiras ao redor do mundo
até o presente.
Procurada, a assessoria do padre
Marcelo e do bispo dom Fernando, da Mitra de Santo Amaro, superior direto do
padre, disseram desconhecer a investigação. A assessoria do padre afirma que,
"se isso realmente ocorreu, trata-se de um fato do passado."
O Vaticano, por meio de sua
"embaixada" no Brasil, se recusou a se manifestar a respeito.
Procurada por telefone e por
e-mail durante vários dias, a CNBB também se calou sobre o fato.
A investigação foi feita no
Vaticano ao mesmo tempo em que ocorriam outras centenas de investigações a
respeito de outros padres, freiras e bispos ao redor do mundo.
A Congregação costuma se reunir
aos sábados, no Vaticano.
PERTO DA SUSPENSÃO
A reportagem do UOL
levantou junto a fontes da Santa Sé que o padre Marcelo Rossi e o bispo dom
Fernando estiveram a ponto de serem chamados ao Vaticano para prestar contas,
no final de 2004 e início de 2005.
O padre esteve próximo de
ter suas atividades suspensas, bem como a publicação de livros e CDs --por
pressão do denunciante, o qual a identidade o Vaticano mantém oculta sob sete
chaves. Ele não poderia mais celebrar missas, ouvir confissões e dar
a hóstia.
Curiosamente, o que acabou
por livrar padre Marcelo da punição foi a morte do papa João Paulo 2º, em abril
de 2005, quando praticamente toda a atividade da Congregação para a Doutrina da
Fé foi interrompida com a eleição de Ratzinger para o posto de novo papa. Ele
era o "prefeito" da congregação.
BARRADO NO BAILE
Em 2007, padre Marcelo
tentou se reunir com papa Bento 16 durante a visita deste ao Brasil.
No entanto, o padre foi impedido de se encontrar com Bento 16.
Segundo dados obtidos pelo UOL,
quem impediu o papa de aceitar o encontro foram funcionários da Congregação que
estavam presentes na comitiva de Bento 16.
Segundo eles, não cairia
bem ao papa receber um religioso que estava "sob investigação". Bento
16 concordou e se recusou a receber Marcelo Rossi no mosteiro de São Bento. O
padre o aguardara desde as 5h e mal havia dormido, de tão ansioso que estava
pelo encontro.
Na ocasião,
o UOL publicou
reportagem contando o ocorrido, sobre o impedimento do padre, com
exclusividade. Padre Marcelo então negou veementemente que isso tivesse
acontecido.
Dois anos
atrás, porém, em entrevista à revista "Veja", o padre se retratou e
confirmou que a reportagem estava correta e que, sim, fora barrado pela
comitiva de Bento 16.
O que o
padre não sabia era que o veto se devia à investigação a que ele estava sendo
submetido pelo Vaticano.
No final de
2009, a Congregação decidiu encerrar as investigações sobre padre Marcelo. Ele
foi inocentado de todas as falsas "acusações".
Em janeiro de 2010, o padre
finalmente foi recebido por Bento 16, no Vaticano, e este lhe outorgou um
prêmio de Evangelizador Moderno, concedido pela Fundação São Mateus.
Foi o final feliz para quase dez
anos de suspeitas sobre o trabalho do padre, que chamou a atenção desde que um
de seus CDs vendeu quase 3,5 milhões de cópias e se tornou um fenômeno social e
midiático.