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Embora a inflação
média, de acordo com o governo, esteja sob controle, isso não impede que os
preços pareçam estar muito altos
Dona
Maria e Seu José bateram boca dia desses por causa de dinheiro. Na tevê, a
presidente garantia: a inflação está sob controle. No sofá, a senhora
resmungava ao marido: uma ova, essa presidente não deve fazer compras!
Seu
José deu razão à presidente. Ruim era antes, minha querida. A gente ficava
sabendo da promoção e, quando chegava lá, tudo custava mais caro. Lembra? 20 anos trás? Pegávamos mais
dinheiro no banco e, quando a gente voltava pra comprar nossas coisinhas, tudo
já tinha subido ainda mais.
A
esposa concordou – mas nem tanto. Eu sei, Zé, tá certo, a vida melhorou. Mas
por que tudo parece custar tão caro?
Silêncio
na sala de estar. Eles esperaram acabar a novela e foram dormir, sem
respostas.
Estivesse
com eles, o professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva, diria que, “mesmo
com inflação relativamente baixa, segundo comparações com experiências
passadas, as pessoas podem ter uma percepção de que os preços estão muito
caros”.
À
essa percepção, diz o professor, damos o nome de carestia. E os dois fatores, inflação e
carestia, caminham juntos. Mas uma coisa é uma coisa e outra coisa, como
sempre, é outra.
A
primeira, a inflação, é uma medida mais objetiva. Está nos índices divulgados
na imprensa. Mensura o ritmo médio de alta ou baixa dos preços de um ou mais
produtos durante algum tempo que passou. Assim, é possível tentar prever o que
está por vir.
A
segunda coisa, a carestia, é a sensação positiva ou negativa do consumidor, no
presente, em relação aos preços. É quando tiramos uma nota de R$ 5 do bolso,
por exemplo, mas já precisamos de duas delas para comprar seja lá o que for.
Ok,
valeu, obrigado. Mas e aí? Por que tudo parece custar tão caro no Brasil mesmo?
Bom,
as explicações são variadas. Há quem diga que a culpa é do endividamento, que
tem corroído parte dos salários e o poder de compra do brasileiro. Ou que é o
governo que gasta demais. Ou que a culpa é do olho grande do empresário, que
joga os preços lá para o alto. Tem ainda o custo Brasil, a carga tributária, a
mão de obra onerosa, o descompasso entre a oferta, baixa, e a demanda, alta,
etc, etc, etc e tal. Mas, resposta vai, resposta vem, seguimos nos perguntando,
em vão:
Por
que tudo custa tão caro no Brasil? (Só até aqui, contando a Dona Maria, já
perguntamos três vezes a mesma coisa.)
A
pretensão do De olho nos
preços não é a de matar essa charada. Mas é ficar, como o
nome diz, de olho nos preços. Contaremos histórias, traremos dados, perguntas e
algumas respostas que nos ajudem a pensar um pouquinho além do sobe e desce dos
índices. E, claro, sempre que possível, queremos ajudar você no que interessa:
economizar.