tribunahoje //
congresso em foco
Procuradores denunciam presidente do Senado por
improbidade administrativa. Para eles, despesas com filha e ex-amante do
peemedebista foram bancadas por lobista de empreiteira em troca de emendas ao
orçamento.
Sete anos após renunciar à presidência do Senado para escapar da
cassação, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), volta a enfrentar
problemas na Justiça com a denúncia de que teve despesas pessoais pagas pelo
lobista de uma empreiteira em troca de emendas ao orçamento. O Ministério
Público Federal em Brasília denunciou o senador por improbidade administrativa
na 14ª Vara Federal do DF no último dia 2. Na ação, os procuradores acusam
Renan de se enriquecer ilicitamente, de ter evolução patrimonial incompatível
com o cargo e de forjar documentos para comprovar que tinha dinheiro para
bancar despesas pagas, segundo a denúncia, pela Mendes Júnior.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo, que teve
acesso com exclusividade à ação que pede à Justiça que Renan, a Mendes Júnior e
o lobista Cláudio Gontijo sejam tratados a partir de agora como réus. A
Procuradoria da República também recomenda a perda do mandato do senador em
caso de condenação.
Em 2007, o peemedebista foi acusado pela jornalista Mônica Veloso, sua
ex-amante, de usar dinheiro do lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes
Júnior, para pagar suas despesas com a pensão da filha e o aluguel de um
imóvel. Essa foi a principal de uma série de denúncias que o parlamentar
alagoano enfrentou no Conselho de Ética do Senado naquele ano. Por duas vezes,
ele escapou da cassação no plenário em votação secreta.
Cabeça de gado
Para comprovar que tinha condições de arcar com os gastos sozinho, o
senador apresentou notas fiscais de vendas de bois. Mas a Polícia Federal
concluiu que aqueles documentos não garantiam recursos para quitar a pensão e
que os papéis não comprovavam a venda de gado. Havia a suspeita de que as notas
eram frias.
Por esse motivo, em janeiro do ano passado, o então procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, recomendou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que
abrisse ação penal contra o senador por peculato, falsidade ideológica e uso de
documento. O parecer, noticiado em
primeira mão pelo Congresso em Foco, foi apresentado às vésperas da
eleição que marcou a volta de Renan à presidência do Senado. Quase dois anos
depois, os ministros do Supremo ainda não analisaram o pedido do
ex-procurador-geral.
Intermediário
A ação por improbidade é desdobramento na esfera cível dessas
investigações. Segundo os repórteres Ricardo Brito e Beatriz Bulla, o
Ministério Público afirma agora que a Mendes Júnior pagou pelo menos R$ 246 mil
para Mônica Veloso. O lobista e o senador confirmaram, na época, os repasses à
jornalista. Mas alegaram que o dinheiro pertencia a Renan. “Não é minimamente
crível que o senador tivesse preferido sacar o dinheiro, entregá-lo ao
requerido Cláudio para então repassá-lo à senhora Mônica, quando poderia tê-lo
feito diretamente”, afirmam os procuradores no processo.
A ação sustenta, ainda, que Renan não conseguiu comprovar de que maneira
pagou uma dívida de R$ 100 mil de pensão alimentícia da filha. De acordo com a
acusação, o peemedebista beneficiou a empreiteira com emenda ao orçamento nos
anos de 2005 e 2006, ao sugerir o direcionamento de recursos para obras tocadas
pela empresa no Porto de Maceió.
Por meio de sua assessoria, Renan informou que não vai se manifestar
sobre o assunto. A Mendes Júnior também não se pronunciou. Já Cláudio Gontijo
não foi localizado.