cadaminuto
//
Novo relatório publicado pela
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aponta a operadora Oi como a pior
prestadora de serviços de internet banda larga em Alagoas. Os dados se referem
ao último mês de junho e avaliam seis indicadores de qualidade. Em três deles,
a prestadora Oi não atingiu as metas mínimas estabelecidas pela Entidade
Aferidora de Qualidade (EAQ), órgão autônomo e independente criado pela Anatel
para medir a qualidade da banda larga no país, que divulga os resultados das
medições mensalmente.
O quadro é o mesmo em todos os
estados do Nordeste, onde a Oi aparece como a operadora que menos atinge as
metas. Em Alagoas, a prestadora deixou a desejar nos quesitos velocidade média
da banda larga móvel – onde a meta é alcançar no mínimo 70% da velocidade
contratada – e latência e perda de pacotes da banda larga fixa. As demais
operadoras atingiram todas as metas nos seis indicadores, com exceção da Vivo
quanto à velocidade instantânea.
Outro dado chama atenção em
relação à internet fixa no estado: a velocidade média das conexões dos planos
com mais de 2Mbps (megabits por segundo) da Oi é a menor entre as três
operadoras pesquisadas. Enquanto a GVT registra 20.36 megabits por segundo e a
Net marca 16.00 Mbps, a Oi aparece em último lugar com 6.88 Mbps.
A universitária Ana Flávia
Machado, 22 anos, é usuária da internet móvel da Oi e sente na pele, ou melhor,
na tela do smartphone os efeitos da baixa qualidade do serviço apontada pela
pesquisa. Ela relata que tem dificuldades, todos os dias, para acessar a rede
devido à lentidão da conexão. “A internet é péssima, lenta demais. Leva muito
tempo para enviar fotos ou áudios e também para baixar algum arquivo. Até para
abrir um navegador e acessar qualquer site é complicado”, afirma Ana Flávia,
que se diz totalmente insatisfeita com o serviço.
As mesmas queixas fizeram a
estudante cancelar o plano fixo da Oi Velox e contratar outra operadora. “Além
de lenta, a conexão caía muito. Cheguei a passar dias inteiros sem internet e
só à noite voltava a funcionar. Daí resolvi mudar e hoje estou satisfeita”,
conta.
Os problemas relatados pela
usuária podem ser explicados pela deficiência da Oi em alguns dos fatores
medidos pela EAQ, segundo o professor doutor Heitor Ramos, do Instituto de
Computação da Ufal (Universidade Federal de Alagoas). O especialista em redes
afirma que a velocidade média implica, justamente, na lentidão sentida pela
estudante ao acessar a internet pelo celular.
Já as quedas de conexão da
internet fixa podem estar relacionadas ao fator perda de pacotes, no qual a Oi
também não atingiu o limite mínimo estabelecido. “Na internet, a informação é
dividida em ‘pacotinhos’. Se um desses pacotes de dados se perde e não chega ao
usuário, ele tem que ser reenviado para que a informação chegue completa ao seu
destino. Isso reflete em lentidão, pois o pacote perdido tem que ser
retransmitido, então é como se o
processo começasse todo de novo”, explica Heitor. “E se o índice de perda de
pacotes for muito alto, a sensação para o usuário é de que não há internet”, completa.
A latência, terceiro indicador em
que a Oi foi reprovada, significa o atraso na chegada dos dados. “É o tempo que
a informação que você solicitou leva para chegar ao seu receptor. Se a latência
for alta, isso atrapalha uma chamada no programa Skype, por exemplo. Você vai
sentir atraso nas falas. É aquela demora para responder, que atrapalha a
comunicação”, explica o professor.
Setor público é o que mais sofre
O mercado corporativo e o setor
público são os mais prejudicados quando o assunto é internet. De acordo com o
professor Heitor Ramos, são poucas as opções de operadoras que ofertam os
serviços de banda larga para esses públicos. A falta de concorrência faz com
que essas empresas, entre elas a Oi, usem infraestruturas de décadas atrás e
cobrem preços altos por um serviço de baixa qualidade.
“Sabendo que o setor público tem
dificuldade em mudar de fornecedor, por depender de licitações, as operadoras
nos vendem infraestrutura de décadas atrás. Elas vendem internet a preço de
ouro, com baixíssima qualidade. E a gente tem que engolir, já que só elas
prestam o serviço. Nesse sentido, o setor público e corporativo sofre mais que
as pessoas físicas, que podem cancelar o plano a qualquer hora e mudar de
operadora”, afirma Heitor.
“Algumas grandes operadoras
herdaram a infraestrutura da época das privatizações e relutaram muito em
investir em tecnologia. Se as operadoras menores não tivessem surgido no
mercado, estaríamos usando tecnologia ainda mais antiga, porque as grandes
[operadoras] não faziam a mínima questão de investir. Foi a concorrência que
forçou o investimento em infraestrutura”, finaliza.
Investimentos em infraestrutura
poderiam resolver problemas, diz especialista
Uma gestão planejada e mais
investimentos em infraestrutura melhorariam a prestação do serviço, na opinião
do professor Heitor Ramos. O problema da perda de pacotes, por exemplo, seria
resolvido com mais infraestrutura para evitar falhas no circuito ou aguentar a
sobrecarga de usuários simultâneos.
“Os técnicos sabem, em média,
quantos usuários a rede pode suportar simultaneamente. As exceções são aqueles
dias em que ocorre uma tragédia que chama a atenção de todo mundo, como o
ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos. Mas num dia normal, eles sabem a
capacidade média do circuito. Só que as empresas vendem mais planos do que
podem suportar e acabam não conseguindo dar conta da demanda”, afirma o
especialista.
O doutor defende sanções mais
duras às operadoras, como multas altas. “Teria que haver sanções mais pesadas
para esse tipo de comportamento. Porque quando atinge o bolso, eles repensam se
não valeria mais a pena investir em tecnologia e infraestrutura do que gastar
com as multas”, opina Ramos.