Morreu nesta
quarta-feira (23), aos 87 anos, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna. Ele
deu entrada no Real Hospital Português na noite de segunda-feira (21), onde
recebeu diagnóstico de Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico e foi
submetido a uma cirurgia. Estava internado em coma, e respirava com a ajuda de
aparelhos. De acordo com o boletim médico, Suassuna morreu às 17h15, depois de
uma parada cardíaca.
Sua obra mais conhecida, O Auto da Compadecida, falava poeticamente a definição
da morte: "Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal
irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra,
aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados,
porque tudo o que é vivo morre".
Em 2013, Suassuna havia sofrido um infarto agudo do miocárdio, no dia 21 de
agosto. Foi internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Português, no
Recife, e recebeu alta no dia 27, mas dois dias depois teve um mal estar e
voltou à unidade médica, onde ficou internado por mais uma semana. O tratamento
do escritor continuou em casa, nos 30 dias que se seguiram.
Vida e obra
Ariano Suassuna ocupava a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras
desde 3 de agosto de 1989 e exercia o cargo de secretário da Assessoria
Especial do Governo de Pernambuco. Nascido na cidade de Paraína, atual João
Pessoa (PB), ele passou os primeiros anos de sua vida no sertão nordestino, na
Fazenda Acauhan, e se mudou com a Família para Taperoá em 1933, após perder o
pai, João Suassuna, morto por motivos políticos.
Foi nesta cidade que Suassuna começou a estudar e assistiu pela primeira vez a
uma peça de mamulengos e um desafio de viola. A improvisação daquelas
apresentações se tornaria, mais tarde, uma das marcas registradas em suas obras
teatrais.
Na década de 1940, Ariano Suassuna passou a viver no Recife, cursou Direito e
conheceu Hermílio Borba Filho, com quem fundou o Teatro do Estudante de
Pernambuco. Sua primeira peça foi Uma Mulher Vestida de Sol, de 1947. Se formou
em 1950 e chegou a exercer a advocacia, mas nunca deixou de escrever teatro. Em
1955 fez o Auto da Compadecida, que o projetou para todo o país e ganhou
versões para a televisão e o cinema.
Em 1956, Suassuna passou a ser professor de Estética da Universidade Federal de
Pernambuco - atividade que exerceu até 1994, quando se aposentou. Três anos
depois, fundou, também ao lado de Hermílio Borba Filho, o Teatro Popular do
Nordeste.
Uma de suas maiores contribuições para a cultura brasileira foi a idealização
do Movimento Armorial, que visa e desenvolver o conhecimento das formas de
expressão populares tradicionais e, a partir delas, criar uma arte erudita. A
Literatura de Cordel é tida como a bandeira do movimento.
Para o dramaturgo, os versos tradicionais nordestinos eram a manifestação
artística mais completa da cultura popular brasileira. "No folheto (de
cordel) se condensam três artes: a literatura, através da poesia narrativa que
tem lá, uma arte plástica, porque a gravura da capa pode apontar um caminho
pras artes plásticas do Brasil, e a música porque aquilo é cantado, e
acompanhado normalmente por viola e rabeca", afirmava.
Ariano Suassuna participou em 2012 do quadro Papo Cabeça, do programa Almanaque
Brasil, da TV Brasil. Relembre o que o escritor falou sobre o Almanaque
Armorial e como ele se apaixonou pelos livros
Além da obra teatral, Ariano Suassuna dedicou uma parte de sua vida à poesia e
à prosa de ficção. Publicou o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue
do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao
Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular
brasileiro”. Foi também secretário de Cultura do Estado de Pernambuco entre
1994 e 1998.