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agência Brasil
Em 2012, 154 pessoas morreram, por dia, no Brasil. A maioria tinha menos de 29 anos. O número recorde coloca o país em sétimo lugar em uma lista de 100 países violentos
Em 2012, foram
registrados 56337 homicídios no Brasil. Jovens entre 15 e 29 anos foram vítimas
em 53,7% dos casos. É o que mostra o Mapa da Violência 2014, divulgada nesta
quarta-feira (2). De acordo com a pesquisa, esse número saltou nos últimos 30
anos. Em 1980, homicídios vitimavam 19,6 jovens a cada grupo de 100. Em 2012, a
cifra passou para 57,6.
Os dados de 2012, último ano da série projetada pelo mapa, mostram ainda que, a
partir dos 13 anos de idade, o percentual de jovens assassinados começa a
crescer. Passa de quatro homicídios a cada 100 mil habitantes para 75, quando
se chega aos 21 anos de idade.
Os homicídios também vitimam majoritariamente negros, isso é, pretos e pardos.
Foram 41.127 negros mortos, em 2012, e 14.928 brancos.
Considerando toda
a década (2002 – 2012), houve “crescente seletividade social”, nos termos do
relatório. Enquanto o número de assassinatos de brancos diminuiu, passando de
19.846, em 2002, para 14.928, em 2012, as vítimas negras aumentaram de 29.656
para 41.127, no mesmo período.
A morte de jovens
não é a única tendência verificada pelo mapa a preocupar. Os dados também
mostram a disseminação e aumento da violência nos últimos dez anos. Em
2012, 112.709 pessoas morreram em situações de violência no país. O número
equivale a 58,1 habitantes a cada grupo de 100 mil, e é o maior da série
histórica do estudo, divulgado a cada dois anos. Desse total, 56.337 foram
vítimas de homicídio, 46.051, de acidentes de transporte (que incluem aviões e
barcos, além dos que ocorrem nas vias terrestres), e 10.321, de suicídios.
Entre 2002 e
2012, o número total de homicídios registrados pelo Sistema de Informações de
Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, passou de 49.695 para 56.337, também
o maior número registrado. O número significa que, naquele ano, 154 pessoas
morreram por dia no país
Segundo o responsável pela análise, Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da
Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais,
ainda não é possível saber “se o que ocorreu em 2012 foi um surto que vai
terminar rapidamente ou se realmente está sendo inaugurado novo ciclo ou nova
tendência”. Ele lista situações que podem ter gerado o aumento, como greves de
agentes das forças de segurança ou ataques de grupos criminosos organizados.
A violência também se espalhou pelo país. Os números absolutos apenas não
cresceram no Sudeste do país, entre 2002 e 2012. Na região Norte o número quase
triplicou – pulou de 2.937 em 2002 para 6098 dez anos depois. O Amazonas,
Pará e Tocantins tiveram o dobro de assassinatos registrados no mesmo intervalo
de tempo. No Nordeste, o Maranhão, a Bahia e o Rio Grande do Norte mais que
triplicaram os homicídios.
Na década, o Sul
e o Centro-Oeste tiveram incrementos percentuais de 41,2% e 49,8%,
respectivamente. No Sudeste, a situação foi mais variada, com diminuição
significativa em estados importantes, como o Rio de Janeiro e São Paulo.
Já em Minas Gerais, os homicídios cresceram 52,3% entre 2002 e 2012.
Nesse período,
houve crescimento dos homicídios em 20 das 27 unidades da Federação. Sete delas
tiveram crescimento explosivo: o Maranhão, Ceará, a Paraíba, o Pará, Amazonas
e, especialmente - registra o estudo -, o Rio Grande do Norte e a Bahia. Nos
dois últimos, as taxas de mortalidade juvenil devido a homicídios mais que
triplicaram.
Sétimo entre 100 países
Ao todo, ao longo dessa década, morreram 556 mil pessoas vítimas de homicídio,
o que “excede largamente o número de mortes da maioria dos conflitos armados
registrados no mundo”, afirma o texto. Comparando 100 países que registraram
taxa de homicídios, entre 2008 e 2012, para cada grupo de 100 mil habitantes, o
estudo conclui que o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking dos analisados.
Fica atrás de El Salvador, da Guatemala, de Trinidad e Tobago, da Colômbia,
Venezuela e de Guadalupe.
O Brasil já
ocupou posições piores no ranking. A situação foi amenizada tanto por políticas
de enfrentamento à violência desenvolvidas internamente, que frearam o
crescimento exponencial das mortes, quanto pelo fato de países, especialmente
da América Central, estarem vivendo “uma eclosão de violência”. Sobre isso, o
relatório destaca que mesmo os países com menores taxas da América Latina,
quando comparados com os da Europa ou da Ásia, assumem posições intermediárias
ou mesmo de violência elevada. Nesses continentes, segundo a pesquisa, os
índices não chegam a três homicídios em 100 mil habitantes.
Entre as
políticas desenvolvidas internamente, o estudo destaca a Campanha do
Desarmamento e o Plano Nacional de Segurança Pública, em nível nacional, e
ações em nível estadual, como as executadas em São Paulo e no Rio de Janeiro,
que geraram quedas nos índices de homicídio em meados dos anos 2000. O tamanho
das populações desses lugares pesou na redução dos índices e possibilitou a
leve melhora na posição do país no ranking mundial.