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gilca cínara
O número da população
carcerária de Alagoas, recentemente divulgado pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), pode ser superior a 2.531 detentos que cumprem pena no
sistema prisional do Estado. De acordo com o advogado França Junior, integrante
da Coordenação Nacional de Acompanhamento do Sistema Carcerário Brasileiro
(COASC) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), os presos recolhidos nas
carceragens das delegacias do Estado não são contabilizados.
Em dados reais, o número
de detentos que estão sob a guarda de policiais civis ultrapassa a faixa de 500
presos. A diferença entre os dados apresentados pelo CNJ, e o número
real, é devido à falta de informatização do Sistema de Execução Penal de
Alagoas. Segundo o advogado, as informações sobre os presos que estão nas
delegacias não são computadas.
Para França Junior, a
situação da superlotação nas unidades é considerada ruim, pois entre as falhas
apresentadas pelo Sistema Prisional de Alagoas, a escassez de servidores é a
maior delas. “Não tem como operar acima da capacidade e com um material humano
muito pouco”, acrescentou ele. A COASC já visitou os sistemas prisionais nos
estados de Minas Gerais, Tocantins, Ceará e recente esteve no Pará.
Comparando a situação
entre os outros estados, França Junior destacou que Alagoas não apresenta um
quadro degradante ao qual foi visto. “O sistema prisional de Alagoas está longe
de ser considerado um dos piores do país. Alagoas não chega a se enquadrar nos
cinco primeiros piores sistemas, mas é preciso uma intervenção rápida para que
se não agrave ainda mais a situação”, afirmou o advogado.
As instalações do
sistema prisional do Pará foram classificadas pelo advogado como “um cenário de
horror”. “Presenciei coisa dentro da unidade que só tinha visto em filmes
americanos. Tinham presos tomando água dos vasos sanitários, partes do corpo de
presos em putrefação, ratos e baratas disputando espaço com os presos. Numa
situação daquela não tem como um pessoa ser ressocializada”, relatou ele.
No relatório sobre o
sistema prisional de Alagoas, entregue para OAB/AL, o advogado recomendou
diversos pontos a que deverão ser corrigidos para melhor a operacionalidade dos
presídios. “É preciso profissionalizar o Sistema de Execução Penal. Estão
tratando a segurança pública de uma forma arcaica, através de um modelo que não
aplica mais. É preciso articular as ações”, pontuou França Junior.
Algumas medidas
apontadas foram a realização de concurso público para agentes penitenciários,
com a capacitação e estimulação dos profissionais que atuam no sistema
prisional; acabar com a detenção de presos nas carceragens das delegacias,
assim como ocorreu em outros estados; e a intermediação do presidente da OAB/AL
junto com os políticos da bancada federal do Estado para conseguir mais
recursos do Fundo Penitenciário Nacional (FPN).
“Existem muitas
reclamações sobre a burocracia para conseguir verba do Fundo Penitenciário
Nacional para Alagoas, que conta com uma verba de R$ 2 bilhões para todo o
país. No entanto, entendo que falta interesse político para trazer algum
recurso para o estado”, ressaltou o advogado.