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Encravado no “polígono da maconha”, região pernambucana famosa pela
produção da erva em áreas irrigadas pelo rio São Francisco, o município de
Cabrobó (a 531 km do Recife) vem se tornando conhecido por um “souvenir”
peculiar: uma cachaça artesanal com raiz de maconha, a “Pitúconha”.
É fácil encontrá-la em bares e carrinhos que vendem espetinhos de carne.
Os interessados encontram o produto tanto em dose (R$ 1) como em garrafa.
Com o rótulo que se apropria da tradicional marca pernambucana de aguardente
Pitú, essa caninha sai por R$ 30.
“Aguardente de cana adoçada com raiz de maconha”, informa, sem pudor, o rótulo
da garrafa de 965 ml. “O Ministério do Transporte adverte: o perigo não é um
jumento na estrada. O perigo é um burro no volante”, completa, em tom jocoso, o
aviso da embalagem.
ILEGAL
Segundo a Polícia Federal, ainda não há clareza sobre a situação legal da
bebida. Perícia feita pela PF no ano passado indicou pequenas concentrações de
THC (tetraidrocanabinol), o princípio ativo da maconha, nas raízes.
Desde o início do ano, policiais federais e colaboradores que participam das
operações de erradicação de plantações da droga foram proibidos de trazer e
distribuir as raízes, que, ao contrário do restante da planta, não são
incineradas.
Se você for levar ao pé da letra, seria crime [a comercialização da raiz
e, consequentemente, da bebida] porque tem o princípio ativo. Só que a
concentração é baixíssima. É uma questão que ainda não se tem uma posição
definida”, afirma Carlo Correia, chefe da Delegacia de Repressão a
Entorpecentes da Polícia Federal em Pernambuco.
De acordo com o artigo 2º da lei 11.343/2006, “ficam proibidas, em todo o
território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a
exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou
produzidas drogas”.
A exceção é para autorizações legais e para o que estabelece a Convenção de
Viena (1971) a respeito de plantas de uso “ritualístico-religioso”.
“A lei não especifica a quantidade de THC. A questão é de ordem prática: a
concentração é muito pequena. Não existe uma repressão sistematizada até hoje”,
diz o delegado.
Correia afirma que há quem peça raízes aos policiais para tratar dor na coluna,
problemas de estômago e asma. “Não existe nenhuma comprovação científica de que
a raiz de maconha tenha alguma função terapêutica”, diz o delegado.