cadaminuto //
lucas Alcântara
O secretário
de Estado da Articulação Social, Claudionor Araújo, foi feito refém por
integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), na tarde desta
terça-feira (15), quando negociava a desocupação de um canteiro de obras do
Canal do Sertão, em Inhapi. Os trabalhos estão paralisados desde a manhã
de ontem (14) em virtude da invasão. Além do gestor, um representante da
Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) também foi alvo dos trabalhadores, que
fizeram uma série de reivindicações ao Governo do Estado.
Situado no
km 74 da rodovia BR 423, o canteiro invadido pelos integrantes do MST é o local
onde está instalada a Construtora OAS, uma das responsáveis pelas obras do
Canal. Segundo Claudionor Araújo, o objetivo da visita ao local foi negociar a
liberação do espaço, cuja ocupação interrompeu o andamento da construção. Mas,
de acordo com o secretário, ele e o representante da Seinfra logo foram
mantidos reféns pelos trabalhadores, que inicialmente se mostraram intolerantes
a qualquer diálogo e disseram que só os liberariam caso as reivindicações
fossem atendidas.
“Conversamos
com 20 representantes, mas no acampamento tinham mais de 300 trabalhadores,
todos armados até os dentes, com facões, enxadas e foices”, disse o
secretário à reportagem do CadaMinuto, declarando ainda a insatisfação diante
da reação dos militantes.
“Ficamos
presos no acampamento por mais de três horas. Durante todo o tempo,
escutamos o que eles querem, mas muita coisa não tinha como atender de imediato
e o que foi possível nós já garantimos. A meu ver, foi desrespeito com o
governador, que mantém a gestão completamente aberta ao diálogo com o MST”,
completou o gestor.
Segundo
Araújo, as reivindicações são inúmeras e devem ser discutidas em reunião
agendada para a próxima quarta-feira (23), em Delmiro Gouveia. De imediato, o
secretário disse que o Estado vai liberar lonas e cestas básicas aos
trabalhadores e, pela OAS, também foi garantido o transporte para levar as
famílias de volta aos acampamentos de origem. “O canteiro será liberado ainda
nesta terça-feira”, garantiu.
Participarão
da reunião uma comissão dos trabalhadores, representantes da Secretaria de
Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), da Seinfra, da
Codevasf, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), do
Instituto de Terras de Alagoas (Iteral), e do Centro de Gerenciamento de
Crises.
Exigências
dos trabalhadores
Entre as
reivindicações, o secretário disse que os trabalhadores pedem que o governo
adquira e doe ao MST uma área de dois mil hectares para cultivo e acampamento.
Os trabalhadores rurais exigiram também perímetros irrigados que, segundo
Araújo, a responsabilidade é do Governo Federal e da Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
“Não
tínhamos como garantir a compra do terreno de imediato, até por questões
burocráticas sobre a localização e propriedade. Sobre os perímetros, a
responsabilidade não é do Governo de Alagoas e os trabalhadores têm consciência
disso, mas nós iremos intermediar as negociações para viabilizar o atendimento
da reivindicação”, explicou.
Outra
exigência dos integrantes foi quanto às estradas de acesso aos acampamentos.
Segundo relataram os trabalhadores ao secretário, as “passagens molhadas” ficam
intransitáveis nos períodos chuvosos. Sobre a queixa, Araújo reconheceu que
“ainda não foi feito investimento para sanar este problema, mas, a partir de
agora, os pontos serão mapeados e será apresentado ao governador um projeto
para adequação”.
“São mais de
16 pontos. Mapearemos e, assim que for determinado, iniciaremos o trabalho”,
garantiu o secretário.
Durante a
conversa com os trabalhadores, Araújo disse que chegou a questionar a atitude
de manter os gestores reféns e, como resposta, ouviu que “até então não era uma
prática, mas de hoje em diante seria”. “Eles disseram que não queriam conversar
e que passaríamos quantos dias fossem preciso, mas só nos liberariam quando
tudo estivesse acertado. Conversamos por mais de três horas e, depois de tudo,
o diálogo acabou prevalecendo. O que fizeram foi uma violência contra o governo
de Alagoas”, concluiu o secretário.