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07/04/2014 15:56:41

Dia 7 de Abril: Dia Nacional dos Jornalistas - A classe, os parabéns da TRIBUNA UNIÃO

Dia 7 de Abril: Dia Nacional dos Jornalistas - A classe, os parabéns da TRIBUNA UNIÃO

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Um pouco de história


Você sabe por quê se comemora o Dia do Jornalista em 7 de abril?


A versão mais consistente para a escolha desta data como Dia do Jornalista remonta ao período do Império: a data é comemorada em 7 de abril em homenagem a João Batista Líbero Badaró, médico e jornalista que morreu assassinado por inimigos políticos, em São Paulo, em 22 de novembro de 1830; essa morte gerou um movimento popular que levou à abdicação de D. Pedro I, no dia 7 de abril de 1831. Por causa disso, a data foi escolhida para marcar a fundação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por Gustavo de Lacerda, em 1908. E a própria ABI foi quem a instituiu como Dia do Jornalista nas comemorações de um século da abdicação de D. Pedro I, em 1931. Agora, a própria ABI, que está fazendo 99 anos em 2007, dá início oficialmente, a partir deste dia 7 de abril, às comemorações de seu centenário de fundação.

Isto não parece um nariz-de-cera. É. E dos bem grandes e pretensiosos, tanto que tem até letra de música/lyrics e título em três linhas, metade em francês (très chic, n’est pas?). Tudo para falar do futuro do jornalista, ou do jornalismo – não ficou muito bem definido, pois nossas fontes, executivos de grandes redações, bons jornalistas que são, não se ativeram à pauta sugerida e derivaram ora para um, ora para outro, ou falaram dos dois. Não importa. Importa é que o teor do que escreveram sobre o futuro do jornalis(mo)ta, sem que combinações prévias houvesse, tem um eixo comum: ele não será obra do destino, o que Deus quiser, whatever will be, will be, mas com certeza reforça o adágio popular francês de que quanto mais muda, mais fica do mesmo jeito. Pois o conceito que perpassa quase todos os depoimentos, qualquer que seja o enfoque de cada um, é que as competências básicas do bom jornalista não mudaram, nem mudarão, com a diversificação das mídias e o advento das novas tecnologias – antes, as reforçaram.


A maioria dos onze executivos que J&Cia ouviu sobre o tema enfatizou a qualificação dos profissionais como essencial ao futuro do jornalismo. Rodolfo Fernandes, de O Globo, resumiu: “Ainda não inventaram a fórmula de fazer um veículo de comunicação qualificado sem jornalistas qualificados. (...) O nome desse jogo é: profissional preparado e veículo com credibilidade – hoje ou no futuro”. Já Augusto Nunes, da CBM, afirmou que “nada substitui o talento humano, esse sim decisivo e imprescindível para a perenidade do jornalismo, em qualquer tempo, independentemente de meios e tecnologias”; e Bruno Thys, do Infoglobo, muito apropriadamente simplificou: “Se o jogador não for bom, a bola não ajuda”.

O papel do jornalista como intérprete dos fatos para audiências cada vez mais exigentes também mereceu destaque. Paulo Nogueira, da Editora Globo, por exemplo, fez referência à “missão essencial de um jornalista – ontem, hoje, sempre. Sob quaisquer circunstâncias, em qualquer mídia – tradicional, nova, novíssima. Ajudar o público a entender o mundo”. Abordagem semelhante usou Marcelo Rech, da RBS: “Para nós ficará reservado o papel mais fundamental: fazer as conexões da realidade e traduzi-las em linguagem atraente e compreensível, imprimindo cada vez mais estilo pessoal, seja em textos ou fotos e ilustrações”. O mesmo enfoque teve Otávio Frias Filho, da Folha de S.Paulo, mas para comparar os papéis dos veículos: “É plausível esperar que os sites se especializem na informação breve e imediata (além de material de pesquisa e comunicação interativa), enquanto os jornais impressos se dediquem a oferecer uma síntese analítica que organize o excesso de informação divulgada a cada 24 horas”. Idêntica direção seguiu Ricardo Gandour, de O Estado de S. Paulo, ao afirmar que “a nova mídia se consolida naquilo que tem de peculiar e vai sedimentando suas características mais fortes – interatividade, instantaneidade, possibilidades audiovisuais. E o leitor ou internauta começa a perceber, de novo, o valor do conteúdo editado. E sobressai a análise, a construção de contexto, de nexo – e aí tanto faz, se no papel ou na web”.Amauri Melo, da Brasil Digital, limitou-se a criticar a excessiva valorização da tecnologia e a afirmar que, “para o futuro, devemos evitar que o jornalismo vire marketing, essa praga que não tem compromisso com o País”.

Outro ponto comum aos depoimentos é que, sem dúvida, o jornalista do futuro – e já do presente – terá que ser muito mais versátil, polivalente, aquele que o adepto do futebol diz que “cobra o escanteio e corre na área pra cabecear”. O “pauteiro-repórter-redator-editor-diagramador, o profissional-síntese”, como o classificou Fernando Mitre, da TV Bandeirantes. Ou, como disse de outro modo Carlos Marques, da Editora Três, “o Jornalismo, na Era da convergência, da notícia em tempo real e de produtos sendo formatados de maneira personalizada para cada leitor ou espectador, está a exigir dos profissionais um conhecimento mais apurado das ferramentas disponíveis e criatividade para colocá-las em prática”.

Os veículos, a Academia e a formação profissional do jornalista
Aonde quer que se vá, já nos acostumamos a ouvir queixas quanto à baixa qualidade da educação formal no Brasil e que ela é um dos grandes inibidores ao desenvolvimento do País. Agora mesmo acabamos de ser informados sobre um grande pacote de medidas governamentais que, mais uma vez, pretende resolver, igualmente de vez, o problema da baixa qualidade do ensino brasileiro. Num cenário como esse, como não poderia deixar de ser, o Jornalismo não é exceção. Uma das queixas mais comuns diz respeito à proliferação de faculdades por todo o território nacional sem a adequada contrapartida tanto de infraestrutura (laboratórios de jornalismo, rádio e tevê, por exemplo) quanto de um corpo docente apto a preparar os futuros profissionais para um mercado em constante mutação, que enfrenta a concorrência efetiva da figura do repórter-cidadão, dos milhões de blogs que hoje disseminam informação por todos os poros da humanidade, das centenas e milhares de sites e portais alojados na web, das rádios e tevês digitais, da telefonia móvel e do que mais está por vir.

Face a esse quadro, pedimos a representantes da Academia e de veículos de comunicação reflexões sobre como encontrar caminhos comuns para aproximar uma de outros, o quê fazer para que essas instituições recuperem o poder de reflexão, de pensar a atividade, de sair do mecanicismo, de formar gerações mais críticas, criativas, ousadas.

De uma forma geral, representantes dos veículos de comunicação, naturais e principais destinos dos jovens jornalistas que todos os anos são, literalmente, despejados no mercado (estima-se algo em torno de 5 mil), não fazem críticas contundentes às instituições de ensino. Alguns até as elogiam. Muitos inclusive preferem afirmar que seus programas internos de treinamento visam atender a necessidades específicas do trabalho de cada um e não a preencher lacunas da formação profissional de jornalistas. Ana Estela de Sousa Pinto, da Folha de S. Paulo, enfatiza que a grande deficiência na formação profissional, hoje, é não se encontrarem pessoas interessadas em desenvolver as características básicas do jornalista e que as faculdades não estimulam os alunos a tê-las; ela as especifica: “Ter conhecimento para interpretar os fatos que cobre e capacidade para contá-los de forma correta – e, se possível, com graça; ser curioso, investir na sua própria formação, ler muito para ampliar o seu espectro cultural e ser esperto o suficiente para perceber quando o querem enganar”. Embora considere que a atual geração tem uma formação “um pouco melhor” do que a de vinte anos atrás, Nívia Carvalho, de O Globo, diz que os jovens de hoje escrevem bem, mas seus textos são pasteurizados, têm um conhecimento diversificado, mas sem profundidade, desconhecem o que foi feito no jornalismo nos últimos anos e não têm o hábito de ler jornal: “A grande vantagem deles é o domínio de ferramentas; é a primeira geração que entra nas redações sem precisar aprender o básico”. Francisco Ornellas, do Estadão, garante haver motivos mais do que suficientes para continuar acreditando no jornalismo e usa como justificativa para essa opinião os 510 novos jornalistas que os cursos internos do jornal ajudaram a formar entre 1990 e 2006: “A maioria absoluta deles – 96% –  atua hoje em grandes redações do País. São os jovens que fazem a imprensa hoje e habitam as redações. Não há como negar-lhes competência, eficiência, empenho, ética”. Para Ricardo Stefanelli, de Zero Hora, a universidade não tem que preparar o estudante para a prática: “Ela deve instigá-lo a questionar, deixar a sua mente aberta para o debate e, claro, dar-lhe os fundamentos teóricos. E isso, a meu ver, as faculdades de jornalismo do Rio Grande do Sul têm feito muito bem. As novas gerações me parecem cada vez mais bem preparadas e mais precoces. Nós é que vamos ensinar a prática a esses estudantes”. E Hamilton dos Santos, da Abril, arrisca uma proposta para aproximar os futuros jornalistas brasileiros da realidade do mercado editorial: “Basta deixar de lado as obsessões ideológicas ultrapassadas e centrar fogo em pesquisas que resultem em boas saídas para a produção de conteúdos em multiplataformas, digitais e analógicas”.

Pelo lado da Academia, Carlos Chaparro, da ECA-USP, enfatiza a importância do jornalismo para os processos da construção democrática (“Não há como pensar em democracia sem jornalismo.”), mas ressalva que os jornalistas terão de se capacitar – técnica, ética e intelectualmente – para atuarem nesses processos como narradores confiáveis de uma atualidade cada vez mais complexa: “Terão de ser profissionais que sabem alcançar e compreender o âmago dos conflitos, capazes, portanto, de enxergar nos fatos não apenas o que eles são, mas, principalmente, o que significam”. E José Marques de Melo, fundador da ECA-USP, embora faça uma veemente defesa dos jornalistas hoje diplomados no que chama de “instituições de qualidade” (“... possuem competência suficiente para ocupar postos de trabalho nas redações das empresas do ramo...”), identifica que falta uma maior interação com o mercado e a sociedade: “O restabelecimento do estágio ajudaria a refinar o treinamento profissional. O controle da qualidade do ensino pela corporação jornalística, mediado pelo governo, poderia separar o joio do trigo, colocando em quarentena as ‘fábricas de diploma’ (escolas de baixo nível)”.

A demanda por cursos de jornalismo em Salvador incentivou o surgimento de faculdades particulares em curto espaço de tempo. A abertura de novos cursos tornou mais fácil o acesso à profissão, já que antes somente era possível obter essa formação pela Universidade Federal da Bahia, por meio da Faculdade de Comunicação Social. De 2000 para cá, Salvador ganhou oito faculdades privadas. Atualmente, cerca de 20 estão autorizadas pelo MEC a ensinar Jornalismo na Bahia.


A Facom, criada pela ABI, funciona desde o fim da década de 50, mas com um vestibular bastante concorrido, muitas pessoas não conseguiam nela ingressar. O aparecimento de outros cursos favoreceu a entrada de quem não era aprovado na universidade pública. Há quatro anos como coordenador do curso da Facom, Maurício Tavares avalia como de baixa qualidade a maioria das faculdades privadas, nas quais muitas vezes são formadas pessoas sem nenhum dom ou habilidade jornalística. “Não existe um órgão, a exemplo da OAB para os advogados, que aplique uma prova para filtrar esses alunos. Além disso, com a proliferação dessas faculdades, fica impossível colocar todo mundo no mercado. Hoje em dia, é comum contratarem alunos da Facom como estagiários porque os profissionais sabem que eles passaram por um processo mais rigoroso”, esclarece Tavares. Para ele, a concorrência é boa no sentido de avaliar e comparar a estrutura dos cursos com o da UFBA.


A Faculdade Integrada da Bahia deu início à propagação e estendeu a oportunidade a todos de cursarem jornalismo, sendo a primeira a implantar o curso, em 2000. Segundo sua coordenadora de Comunicação Social, Mônica Celestino, havia demanda de profissionais em Salvador e isso exigiu a formação do curso para poder suprir as carências do mercado que recebia apenas alunos da Federal. “Nos primeiros vestibulares, tivemos uma grande concorrência, muita gente tentou”, relembra Mônica. Hoje, devido à quantidade de cursos, a concorrência não é como antes e a faculdade forma aproximadamente 30 alunos por ano. “Muitos alunos acabam desistindo em função de não poderem custear os estudos ou por não terem afinidade com a área escolhida. Mas os que permanecem aqui têm a oportunidade de estudar diferentes mídias, além de aprender todas as ferramentas, técnicas, planejar estratégias e ações de comunicação”, comenta Mônica.


Já na Faculdade 2 de Julho, onde o curso existe desde 2001, o número de formados é maior. Em 2005, foram 56, e no ano passado, 45. “O aluno tem que se instrumentar para atender o mercado de trabalho. Se ele sabe fazer, está dentro; se não souber, está fora. A faculdade o prepara para atuar com webjornalismo, tevê, impresso, revista e assessoria. Temos ainda aqui um jornal-laboratório que é voltado para a sociedade, com informações de utilidade pública; assim damos voz à população e prática aos alunos”, diz o coordenador Deval Gramacho, que é formado pela Facom e está no cargo desde 2004.


Também em 2001, a Faculdade de Tecnologias e Ciências abriu o curso de Jornalismo. Em média, a FTC forma 50 alunos a cada ano. De acordo com o professor e coordenador Bernardo Carvalho, esse número tem decrescido devido à queda na procura do vestibular. Ele acredita que o crescente aumento de cursos seja um dos principais motivos para essa redução. “Damos condições efetivas aos nossos alunos para fazerem rádio e impresso. Possuímos ilhas de edição, laboratórios de tevê, internet e um semestre dedicado à disciplina de Assessoria de Comunicação. O aluno tem uma visão ampla do que é requerido pelo mercado, mas reconheço que nem todos conseguem emprego na área”, diz. Bernardo ministra a disciplina de Jornalismo Especializado e, como professor, pede aos alunos que busquem novos nichos de mercado e novas demandas para se destacarem da concorrência.


A Faculdade Regional da Bahia ainda não formou nenhuma turma, pois só implantou o Jornalismo no ano passado. A Unibahia, Faculdade da Cidade de Salvador, Faculdade Social da Bahia (FSBA) e a Faculdade Jorge Amado também oferecem Jornalismo. Com grades curriculares parecidas, elas investem em tecnologia e materiais, como câmeras digitais, filmadoras, microfones, gravadores, estúdios de tevê e rádio. Mas profissionais atuantes afirmam que os recém-formados chegam com muita técnica e pouca bagagem humanística, ou seja, sem muita reflexão sobre a conduta e a vida humana. Para Linda Bezerra, chefe de Reportagem e colunista do Correio da Bahia e editora na TV Band, as faculdades deveriam dar mais espaço às disciplinas que ensinam o aluno a refletir e analisar o homem. “Eu tenho visto textos informativos, mas não são interessantes. Um texto tem que provocar o leitor. Nele, o jornalista tem que transmitir suas vivências culturais e pessoais. Não sei se as faculdades estão preocupadas somente com quantidade e andam se esquecendo da qualidade. Mas acho que deveriam investir mais em disciplinas como a Sociologia”, ressalta. Ela analisa a proliferação de escolas como uma forma de obter lucro e considera algumas faculdades “fábricas de ganhar dinheiro”.


A presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sindijor-BA), Kardé Mourão, afirma que o órgão não é responsável pelo controle dos cursos de Jornalismo. Esta, segundo ela, seria tarefa de um Conselho Federal de Jornalismo, que ainda não foi criado. “Não é ruim ter novas faculdades. O sindicato não é contra a abertura de novos cursos, mas a favor de um controle das suas condições físicas e da didática. Nós defendemos a formação de nível superior específica em jornalismo e, hoje, lutamos pela regulamentação da profissão”, comenta. Para ela, a exigência do diploma é quesito primordial e não pode ser considerada apenas uma questão burocrática. “Vemos o nosso mercado ocupado por pessoas que não são jornalistas formados pelo ensino superior. Ter um diploma é exigir respeito porque ele é um investimento financeiro e pessoal”, complementa. Sobre o mercado saturado, Kardé explica que o Sindicato realiza constantemente debates nas faculdades para alertar os alunos. Além disso, a falta de mobilização dos jornalistas deixa a categoria sem força para impor melhores condições de trabalho e salários justos.


O Sindijor-BA tem 2.000 associados, mas o número de registros profissionais na Bahia é bem maior. O mercado da cidade de Salvador é restrito para os jornalistas. Existem apenas três jornais impressos, cinco emissoras de tevê e duas emissoras de rádio com jornalismo diário, além de dois portais (A Tarde Online e IBahia). O maior mercado é o de assessorias de comunicação, que conta hoje com cerca de 30 empresas. Porém, elas não conseguem absorver todos os recém-formados. Como a quantidade de profissionais que se formam é maior do que o mercado atual pode admitir, a carreira acaba por se tornar mais difícil e concorrida.
* Diretor da Contraponto Comunicação e correspondente de J&Cia em Salvador

 

Aos que contam e fazem a história
Engel Paschoal*

Ao me convidarem para esta homenagem, não titubeei: vou falar de alguns para cumprimentar todos. Sempre admirei jornalistas, os historiadores modernos, que nos colocam no meio do que acontece. Em qualquer lugar do mundo.


E começo pelo primeiro, Hippolyto Joseph da Costa Pereira Furtado de Mendonça, o Hipólito José da Costa. Gaúcho de Sacramento, saiu bem no retrato. Bacharel em leis e filosofia pela Academia de Coimbra, fez carreira diplomática no governo português, com missões nos EUA. Apesar de próximo do poder, não se deixou seduzir por ele. Para fugir da Inquisição, exilou-se na Inglaterra. De lá, lançou em 1º. de junho de 1808 o “Correio Braziliense”, o primeiro jornal brasileiro. Brochura clandestina mensal, chegava ao Rio de Janeiro nos porões dos navios.

Os jornalistas daqui estavam muito próximos da corte e não apenas fisicamente. José Luís de Mendonça, entretanto, fez o primeiro jornal radicalmente oposicionista em 1817, no Recife: o “Preciso” teve um único número, mas era semente para germinar.
Cipriano José Barata de Almeida foi o pioneiro do jornalismo revolucionário no Primeiro Reinado. Baiano, em abril de 1823 lançou no Recife a “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”. Passou sete anos na cadeia entre Pernambuco e Rio de Janeiro, sempre publicando o jornal de alguma forma. Saiu da prisão em 1830, aos 68 anos, como herói, mas, frágil e doente, afastou-se do jornalismo.

A distância da corte alimentava a ousadia. Frei Joaquim do Amor Divino, Frei Caneca, porque filho de tanoeiro, lançou, em dezembro de 1823, o “Tifis Pernambucano”. Seguiu criticando o governo até a eclosão da Confederação do Equador, movimento separatista republicano do Recife. Preso em combate, morreu fuzilado em 1825.
Antonio Mariano de Azevedo Marques, o Mestrinho, também em 1823, lançou o primeiro jornal de São Paulo, “O Paulista”, pois até então a imprensa praticamente se limitava ao Rio e Nordeste. Mas logo surgiram outros “paulistas”.

João Baptista Líbero Badaró, médico genovês e deputado fugido da Itália, chegou a São Paulo em 1826 e três anos depois colocou em circulação “O Observador Constitucional”. Será que não influenciou outro genovês 130 anos depois? Mino Carta, apesar de não dirigir, veio criar a “4 Rodas”, depois “Jornal da Tarde”, “Veja”, “IstoÉ”, “Jornal da República”, “Senhor” semanal e “Carta Capital”. Badaró, vítima de um tiro, agonizou 24 horas e deixou a frase célebre: "Morre um liberal, mas não morre a liberdade". Mino cria seu emprego. E, polêmico, se diz honrado por 31 colegas recusarem o convite para entrevistá-lo no “Roda Viva”, em 2000. O recorde anterior, 17 recusas, era de ACM.

Às 11h de 4 de janeiro de 1875, saiu o primeiro número de “A Província de São Paulo”, reunindo republicanos moderados em um empreendimento que foi o maior da imprensa brasileira até então. Júlio César Ferreira de Mesquita, o Júlio de Mesquita, de colaborador virou dono do jornal, cujo nome mudou, em 1890, para “O Estado de S. Paulo”. O “Estadão” foi um marco, tendo em suas páginas gente como Euclides da Cunha, cujo “Os Sertões” nasceu depois das reportagens que fez para o jornal. Júlio colocou o nome Mesquita na história do jornalismo, com filhos e netos, entre eles outros dois Júlios e um Ruy.

Jornalistas não só relataram a história, como a fizeram. Uma entrevista de Carlos Lacerda com o oposicionista José Américo de Almeida, em 1945, que rompeu com o silêncio imposto pelo DIP, apressou a queda do Estado Novo. Cinco anos depois, uma entrevista de Getúlio Vargas para Samuel Wainer recolocou o ditador no centro da política brasileira e no poder federal.

Cásper Líbero, nascido em 1889 em Bragança Paulista, SP, fundou aos 22 anos a Agência Americana, a primeira agência de notícias do Brasil. Em 1918, comprou “A Gazeta”, vespertino fundado em 1906. Revolucionário, lançou vários suplementos e “A Gazeta Esportiva”, provavelmente o primeiro dedicado ao assunto no País, e criou a Corrida de São Silvestre. Em 1947, quatro anos depois dele ter morrido num desastre aéreo, em seu nome foi criada a primeira Faculdade de Jornalismo do Brasil.
Cláudio Abramo não foi dono de jornal, mas fez muito pelos dois maiores de São Paulo. Contratado por Octavio Frias de Oliveira, publisher da ”Folha”, porque tinha sido do “Estadão”, ajudou a ultrapassar o concorrente.
Carlos Castello Branco foi um marco na política com a “Coluna do Castello”, que começou em 1º. de janeiro de 1962 na “Tribuna da Imprensa” e depois foi para o “Jornal do Brasil”. Escreveu a mais famosa coluna política da imprensa brasileira até a morte, em 1993. Vários seguiram o jeito dele de tratar a política como se deve.
Janio de Freitas é um exemplo. Nascido em 1932, em Niterói, RJ, é jornalista desde 1955. Participou, junto com Odylo Costa, filho, Armando Nogueira, Reinaldo Jardim e José Ramos Tinhorão da grande reforma gráfica e editorial do “Jornal do Brasil”.

Outro é Elio Gaspari, também da “Folha” e mais um italiano que se abrasileirou. O 30 de dezembro de 1978 era o último dia dele como editor de Política do “Jornal do Brasil”, pois no dia seguinte ia para ficar dois anos em Nova York como correspondente. O Congresso Nacional havia decidido que em 31 de dezembro, à meia-noite, terminaria a vigência do AI 5. Todo mundo sabia, mas só ele não se esqueceu. No dia seguinte o “JB” foi o único a dar a notícia, com cinco páginas. Ele guarda até hoje a lauda com a manchete "O regime do AI-5 acaba à meia-noite de hoje" que foi levada para ser composta na oficina do jornal.

O Ricardo Noblat, também. Pernambucano de Recife, é jornalista desde 1966. Acabou com a imagem “chapa branca” do “Correio Braziliense” e há três anos criou “o primeiro blog de política a partir de Brasília” (Castellinho acessa todo dia lá em cima).
Mário de Moraes, de “O Cruzeiro”, ganhou em 1956, junto com Ubiratan de Lemos, o primeiro Esso de Jornalismo, com a matéria “Uma tragédia brasileira: os paus-de-arara”. Durante 11 dias, viajaram incógnitos com 102 retirantes, num “pau-de-arara”, de Pernambuco à Baixada Fluminense.

Sergipano de Aracaju, Joel Silveira começou a lida em 1935. O semanário “Diretrizes”, lançado por Samuel Wainer e Azevedo Amaral em 1937, deu a ele a oportunidade de se transformar no nosso primeiro grande repórter. Em 1943, passou uma semana em São Paulo, onde, com ajuda de Di Cavalcanti, fez a ferina reportagem “Grã-finos em São Paulo”. Em 1944, pelos Diários Associados foi à Itália junto com seis mil pracinhas combater o Eixo em Monte Castelo.

O jovem cinéfilo Alberto Dines começou no jornalismo em 1950. Doze anos depois, com uma carreira feita em jornais e revistas, foi para o “Jornal do Brasil”, onde promoveu uma grande mudança. Depois de 12 anos (o nome dele tem 12 letras, Zagalo), o “JB” o demitiu. Magoado, foi para os EUA. Voltou a convite da “Folha”, na qual fez a coluna “Jornal dos Jornais”, de crítica aos meios de comunicação, um pioneirismo adotado via ombudsman pela própria “Folha” anos depois.

Audálio Dantas começou jornalista em 1950, aos 20 anos. Por volta de 1963 estava em “O Cruzeiro”, quando descobriu Maria Carolina de Jesus, moradora de favela, que tinha um diário. Com a matéria dele, o diário acabou publicado como “Quarto de Despejo”, livro de sucesso no Brasil e exterior. Audálio aliou ao faro de repórter a veia política, presidiu o Sindicato dos Jornalistas nos anos de chumbo, com importante papel quando do assassinato do Vlado, em 1976, e chegou a deputado federal.
Thomaz Souto Corrêa é o revisteiro-mor do Brasil. De Mirassol, SP, veio fazer economia no Mackenzie. Quando resolveu trabalhar, não fez economia: chegou a ter quatro empregos ao mesmo tempo. Em março de 1963, depois de quase oito anos de “Estadão”, foi chamado por Luis Carta, diretor de “Claúdia”. Luis era irmão do Mino e filho de Giannino Carta, um dos chefes de Thomaz no “Estadão” (como filho de italiano jamais trai o pai, pode acreditar que Giannino “vendeu” Thomaz ao Luis).
Descendente de alemães, Joelmir Beting veio de Tambaú, SP. "Fui bóia-fria aos sete anos de idade. Desembarquei em São Paulo com a roupa do corpo, literalmente empurrado pelo padre Donizetti Tavares de Lima, meu guru”. Assim surgiu o homem que passou o jornalismo no meio das pernas do economês.

José Hamilton Ribeiro veio do campo: nasceu em Santa Rosa do Viterbo, SP. E para o campo voltou: hoje está no “Globo Rural”. Mas entre um e outro, ganhou vários Esso, rodou o mundo, perdeu uma perna no Vietnã. É unanimidade rara no meio.
Clóvis Rossi, nascido no Bexiga, além de grande jornalista, é um jornalista grande. Repórter, colunista e membro do Conselho Editorial da “Folha”, é um dos mais internacionais (para compensar não ter feito diplomacia, sonho de jovem).

Réplicas e tréplicas entre jornalistas são comuns. Entre pai e filha, só uma. Ricardo Kotscho, são-paulino de Porangaba, tem carreira reconhecida. Mas acabou contestado pela filha, que reclamou do texto do pai falando bem de São Paulo no “No Mínimo”.
O corintiano Juca Kfouri foi diretor de “Playboy” e de “Placar”. Em 1982, comandou uma das matérias mais explosivas do esporte: a da máfia da loteria esportiva. Não foi pra Passargada, mas era amigo do rei. A amizade acabou por causa do acordo de Pelé com o presidente da CBF. Perdeu a amizade, mas ganhou o processo que a CBF ("Casa Bandida do Futebol" nas colunas que escrevia na “Folha”) moveu contra ele.

 Lillian Witte Fibe foi a primeira Luluzinha a entrar para o então clube do Bolinha da economia. E ainda, irrequieta, em julho de 2000 foi pro “Terra” fazer “um novo canal de notícias multimídia”. Mas nunca escondeu que, atrás da coleguinha bem-sucedida, tem um Alexandre Gambirasio.

Só uma mulher? Bom, como elas estão tomando conta das redações, o Edu Ribeiro pode convidar uma para escrever o texto o ano que vem.

* Editor da coluna “Responsabilidade Social e Ética” no UOL e Globo Online, escreveu “O Relógio de Urupa” (Melhoramentos/1988); “Jornalistas Brasileiros, Quem é Quem no Jornalismo de Economia” em parceria com Eduardo Ribeiro (Mega Brasil/2005); e “A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira” (Mega Brasil/2006 e Publifolha/2007).