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São
José ou José de Nazaré ou José, o
Carpinteiro é, segundo o Novo
Testamento, o esposo de Maria e o pai de Jesus. O nome José é
a versão lusófona do hebraico Yosef (????), por meio do latim Iosephus.
Descendente da casa real de Davi, é venerado como santo pela Igreja
Ortodoxa, Igreja
Anglicana, e Igreja
Católica, que o celebra como seu padroeiro universal. A Liturgia Luterana
também dedica um dia ? 19 de março ? à sua memória, sob o título de "Tutor
de Nosso Senhor". Operário, é tido como "Padroeiro dos Trabalhadores",
e, pela fidelidade a sua esposa e dedicação paternal a Jesus, como
"Padroeiro das Famílias", emprestando seu nome a muitas igrejas e
lugares ao redor do mundo.
Os Evangelhos
e a Sagrada Tradição Apostólica afirmam que o
verdadeiro genitor de Jesus é Deus Pai: Maria, já tendo sido prometida em
casamento a José, concebeu miraculosamente, sem que houvesse tido relações
maritais com ninguém, por intermédio do Espírito
Santo. Para o casal, tratou-se de um momento dramático, uma vez que,
quando tomou ciência de que a esposa estava grávida de um filho que não era
seu, José sentiu-se decepcionado e resolveu romper com ela, mas sem expô-la
publicamente. O evangelista Mateus assim relata o episódio:
“ |
A
origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento
com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José,
seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu
repudiá-la em segredo. |
” |
|
— Evangelho segundo Mateus, I,18-19, Bíblia de Jerusalém, |
No entanto, após uma experiência mística num sonho, no qual um Anjo lhe aparecera, voltou
atrás e reconheceu legalmente o Menino Jesus como seu legítimo filho.
“ |
Eis
que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em um sonho, dizendo: 'José, filho
de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem
do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de
Jesus, pois ele salvará o seu povo dos seus pecados'. (...) José, ao
despertar do sono, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em
sua casa sua mulher. |
” |
|
— Idem, I,21-24, Bíblia de Jerusalém, |
Tendo assumido a guarda do menino, José ficou conhecido como suposto pai
de Jesus. O evangelista São Lucas relata esse título:
“ |
Ao
iniciar seu ministério, Jesus tinha mais ou menos trinta anos e era, conforme
se supunha, filho de José. |
” |
A profissão de José é mencionada pelo evangelista Mateus quando afirma,
no capítulo XIII e versículo 55 de seu evangelho, que Jesus era filho de um tekt?n
(??????): termo grego que costuma receber várias interpretações. Ainda que a
tradição lhe atribua estritamente a profissão de carpinteiro, o fato é que o
título grego é genérico, sendo usado para designar os trabalhadores envolvidos
em atividades econômicas ligadas à construção civil. Outras vertentes costumam
considerar José como sendo um canteiro, ou seja, um operário que talhava artisticamente
blocos de rocha bruta.
Os evangelhos reivindicam que Jesus, antes de iniciar sua vida pública,
desempenhou a profissão do pai. O primeiro evangelista que atribui-lhe o título
é São Marcos,
que refere-se a Jesus como "o Carpinteiro", no capítulo VI, versículo
3 da sua narrativa sinótica que relata uma sua visita a Nazaré
na qual seus compatriotas chamavam-no ironicamente pela profissão para
desqualificá-lo como pregador. Mateus, por sua vez, retoma o mesmo episódio na
sua versão do evangelho, mas com uma variante:
“ |
Não
é o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos
Tiago, José, Judas e Simão? |
” |
|
— Evangelho segundo Mateus, XIII, 55, Bíblia de
Jerusalém, |
A tradicional tradução da expressão grega tekt?n por carpinteiro
se deve ao fato de que os Padres da
Igreja e a própria Vulgata de
São Jerônimo
versavam-na para o nominativo latino f?b?r, fabri: termo
que denota o artesão.
A
genealogia e vida pré-matrimonial
As notícias dos evangelhos sinóticos sobre São José são
escassíssimas. Lucas e Mateus narram episódios cristocêntricos em que o
carpinteiro está envolvido, dizendo que José era descendente do rei Davi e
residia no pequeno povoado de Nazaré; João apenas o menciona como membro da Sagrada
Família5 ;
ao passo que Marcos sequer cita expressamente seu nome.
As versões dos dois evangelistas que pormenorizam a árvore genealógica de Jesus divergem no que se
refere a quem teria sido o pai de José:
“ |
Jacó
gerou José, o esposo de Maria da qual nasceu Jesus chamado Cristo. |
” |
|
— Evangelho segundo Mateus, I, 16, Bíblia de
Jerusalém, |
“ |
Ao
iniciar seu ministério, Jesus tinha mais ou menos trinta anos e era, conforme
se supunha, filho de José, filho de Eli. |
” |
|
— Evangelho segundo Lucas, III, 23, Bíblia de
Jerusalém, |
A teologia protestante tenta elucidar essa discrepância,
afirmando que Lucas, na verdade, estivesse registrando a genealogia de Maria,
ao passo que Mateus, esse sim, a de José. Segundo esta vertente, Mateus segue a
linhagem de José segundo a lei, remontando a Salomão,
filho de Davi; Lucas, por sua vez, estaria seguindo a linhagem consanguínea de
Jesus, por meio de Maria, esposa de José, mencionando Natã,
filho de Davi. Como não havia designação própria para genro7 ,
José teria sido considerado um filho de Eli por ter se casado com Maria, filha
de Eli. A interpretação é compartilhada pela Igreja Católica, cuja tradição
considera ser Eli (Eliaquim ou Joaquim) o pai de Maria.
Se por um lado os evangelhos canônicos são reticentes em relação ao
carpinteiro de Nazaré, os apócrifos oferecem detalhes interessantes,
especialmente o Protoevangelho de Tiago, escrito
provavelmente no ano de 150
que afirma que José era originário de Belém
e, antes do matrimônio com a Virgem Maria, teria se casado com uma mulher com
quem teve seis filhos: quatro homens (Judas, José, Tiago e Simão) e duas
mulheres (Lísia e Lídia). No entanto, teria ficado viúvo bem cedo e com os
filhos para educar. A Igreja Ortodoxa acolhe esta versão, retratada nos
mosaicos da Igreja de São Salvador em Chora
de Constantinopla,
ainda que a Igreja Católica rejeite essa tradição.
De acordo com os apócrifos, José, já em idade avançada, se uniu a um
grupo de homens celibatários da Palestina, todos descendentes de Davi, reunidos por pregadores
provenientes de Jerusalém. O sacerdote Zacarias teria ordenado que todos os
filhos da estirpe real fossem convocados para disputar o matrimônio com a
Virgem Maria, futura Mãe de Jesus, à época com doze anos e que vivera por nove
anos no Templo de Jerusalém. Por indicação divina,
estes homens castos conduziram até o altar o seus cajados, dentre os quais Deus
faria florir o do escolhido: José foi o escolhido. Hesitante no começo devido a
grande diferença de idade, foi admoestado por Zacarias a se submeter à vontade
divina, acolhendo a moça em sua casa.
A
vida familiar em Nazaré[editar | editar código-fonte]
Os evangelhos resumem em poucas palavras a infância de Jesus, um período
aparentemente normal, durante o qual, na oficina de José, o menino se preparava
para a sua missão. Apenas um momento escapa a essa normalidade e é descrito por
Lucas. Quando Jesus tinha 12 anos, José levou-o juntamente com Maria em
peregrinação até Jerusalém para as festividades da Páscoa.
Transcorridos, porém, os dias da festa, enquanto voltava para casa, Jesus ficou
na Cidade Santa, sem que José e Maria percebessem. Depois de tê-lo procurado
por três dias entre a multidão de peregrinos, foram finalmente encontrá-lo no
templo, discutindo as Escrituras com os doutores da
Lei. De acordo com o evangelista Lucas, sua mãe o repreendeu,
falando-lhe da preocupação que afligiu-a assim como ao marido. Jesus, por sua
vez, afirma ter Deus por Pai, na presença de José.
“ |
Ao
vê-lo, ficaram surpresos, e sua mãe lhe disse: 'Meu filho, por que agiste
assim para conosco? Olha que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos'. Ele
respondeu: 'Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu
Pai?' |
” |
|
— Evangelho segundo Lucas, II, 48-49, Bíblia de
Jerusalém, |
No entanto, ainda que tivesse ciência de que José não fosse seu genitor,
o adolescente Jesus comportava-se diante dele como um verdadeiro filho,
respeitando-o. É o que confirma o trecho subsequente da mesma narrativa de
Lucas.
“ |
[Jesus]
Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém,
conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração. |
” |
|
— Idem, II, 51, Bíblia de Jerusalém, |
Quando Jesus começou sua vida pública aos 30 anos, muito provavelmente
José já era morto. De fato, sua presença não é mencionada depois do segundo
capítulo de Lucas. Soma-se à suposição o fato de que, quando Jesus é
crucificado, este confia Maria ao seu discípulo amado, o qual, segundo o
evangelista João, "A partir dessa hora, a recebeu em sua casa"9
: uma preocupação que não teria sentido se José ainda fosse vivo.
Os livros canônicos mantêm-se silenciosos em relação ao término da vida
de José. Há, contudo, livros apócrifos que relatam como teriam sido as horas
derradeiras do pai adotivo de Jesus. Um exemplo é a narrativa apócrifa História de José, o Carpinteiro,
escrita entre os séculos VI-VII, e que descreve detalhadamente o falecimento do
santo. Segundo o escrito, composto em língua copta,
José morreu no dia 26 do mês egípcio de epip (20 de julho
no calendário gregoriano),
aos 111 anos, gozando sempre de ótima saúde, "com todos os dentes
intactos", e trabalhando até seu último dia. Avisado por um anjo sobre a
eminente morte, vai ao Templo de Jerusalém adorar a Deus e, no retorno, contrai
uma doença fatal que o faz sucumbir. Extremado em seu leito, envolto pelo temor
da morte, só encontra consolação em Jesus, o único que consegue acalmá-lo.
Circundado pela esposa e pelos filhos de um primeiro casamento, sua alma é
arrebatada pelos Arcanjos
Miguel e Gabriel e
conduzida ao Paraíso.
“ |
Nenhum
dos que rodeavam José havia percebido a sua morte, nem sequer minha mãe
Maria. Eu confiei a alma do meu querido pai José a Miguel e a Gabriel, para
que a guardassem contra os raptores que saqueiam pelo caminho e encarreguei
os espíritos incorpóreos de continuarem cantando canções até que, finalmente,
depositaram-no junto a meu Pai no céu. |
” |
|
— História de José, o Carpinteiro, XXIII, |
De acordo com o apócrifo, o próprio Jesus teria banhado e ungido com
bálsamo o corpo de José, pronunciando sobre ele uma bênção. Não se sabe ao
certo onde se encontram os restos mortais de São José. Nas crônicas dos
peregrinos que visitaram a Palestina, se encontram algumas indicações acerca do
sepulcro do santo. Duas delas apontam Nazaré e outras duas, Jerusalém no Vale do
Cédron. Não existem, no entanto, argumentos consistentes que
respandem nenhuma das alegações.