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henrique coelho e igor mello
O dia 20 de janeiro de 1983 tinha tudo para ser de uma festa da fé, abençoada por São Sebastião, mas uma tragédia deixou o mundo do futebol e o Brasil, de forma geral, inconsoláveis. Morria Manoel Francisco dos Santos. O caçador de passarinhos, o Anjo de Pernas Tortas, o único jogador capaz de fazer a superfície de um lenço parecer um latifúndio, como bem descreveu Armando Nogueira. Um homem simples de Magé, interior do Rio, depois de 49 anos cheios de altos e baixos. Naquele 20 de janeiro, o Brasil e o mundo perderam Mané Garrincha.
>> Leia a crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre Garrincha, publicada em sua coluna no JB
Ídolo máximo do Botafogo, clube no qual viveu seu auge, e bicampeão mundial com a Seleção Brasileira, o jogador acabou derrotado pelo único marcador no qual não conseguiu aplicar o drible que o imortalizou mundialmente: o álcool. Faleceu vítima de complicações causadas por uma cirrose.
O craque nasceu em Pau Grande, distrito de Magé, na Baixada Fluminense, em 28 de outubro de 1933. Criança levada, gostava de caçar passarinhos. O alvo preferido eram as garrinchas, aves abundantes na região, que lhe renderam o apelido e o primeiro caso curioso. Em seu primeiro treino como jogador do Botafogo, em meados de 1953, houve uma intensa discussão entre os jornalistas presentes sobre a grafia de sua alcunha. Botafoguense fanático, o cronista do Jornal do Brasil Sandro Moreyra, na época ainda trabalhando para o Diário da Noite, decidiu batizá-lo de Gualicho, nome de um famoso cavalo de corridas, que vencera o Grande Prêmio Brasil daquele ano. A tentativa, porém, não passou disso, uma tentativa. Como todos viram, o que prevaleceu foi o apelido de infância.