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Justiça
14/06/2012 19:17:06

Júri condena 'Laércio Boiadeiro' pela morte de ex-prefeito de Batalha

Júri condena 'Laércio Boiadeiro' pela morte de ex-prefeito de Batalha
Fórum de Justiça em Maceió

gazetaweb //
geysa miranda, janaina ribeiro e jobison barros

 

O agropecuarista José Laelson Rodrigues de Melo, 'Laércio Boiadeiro', foi condenado a 35 anos pelo assassinato do ex-prefeito de Batalha José Rodrigues Dantas, conhecido como “Zé Miguel”, e da esposa do ex-chefe do Executivo, Matilde Tereza Toscano de Souza, ocorridos em 1999. Por cada crime, o juiz José Braga Neto estipulou a pena de 17 anos e seis meses.

O promotor de Justiça que participou do júri popular, Flávio Gomes da Costa, requisitou presidente do Tribunal do Júri que fosse decretada a prisão preventiva do condenado.

Pela segunda vez, o agropecuarista senta no banco dos réus sob a acusação de duplo homicídio triplamente qualificado.

Em depoimento prestado no Fórum do Barro Duro, em Maceió, Boiadeiro negou qualquer envolvimento nos crimes, bem como garantiu 'relação amigável com a família Dantas'.

Porém, os familiares que se encontravam no fórum não tinham dúvidas de que o réu seria o responsável pela morte do ex-prefeito. "Não tinhamos dúvida de que ele matou o meu irmão. Acredito que a morte tenha sido motivada, também por uma questão pessoal, e não só política", disse Luiz Dantas.

Já o filho da vítima, José Emílio Dantas, afirma que, apesar do crime ter acontecido em 1999, a família continua com medo e acredita na condenação do réu. "Nunca pensamos em revidar o que aconteceu, pois acreditados que violência não resolve nada. Porém, até hoje temos medo do que possa acontecer com outros membros da família, pois matar é o meio de vida dele", afirmou José Emílio.

Durante a oitiva, Laelson explicou que se encontrava no Estado do Ceará, no dia da emboscada, e que jamais cometera 'tamanha barbaridade'. “Nunca andei no veículo utilizado na ação e não sei como foi o crime, tampouco a quantidade de tiros deflagrados. A única informação que tenho é a que li nos jornais, ou seja, que o casal foi vítima de uma emboscada, sendo atingido por vários disparos durante uma viagem”, afirmou.

Ao Ministério Público (MP), o réu negou quaisquer motivações para o fato, quando questionado a respeito de “litígios políticos” entre as famílias Dantas e Boiadeiro. Segundo o agropecuarista, não havia razão de seu envolvimento nas mortes, já que, segundo o acusado, o ex-prefeito - que almejava retornar à Prefeitura de Batalha - era seu correligionário.

“Não tenho nada a ver com isso. Tínhamos uma excelente relação. Jamais houve algum atrito entre nós, enquanto pessoa, tampouco como político”, argumentou José Laelson, ao solicitar ao juiz e aos representantes da acusação que algumas perguntas fossem destinadas a seu advogado, Raimundo Palmeira.

Processo criminal

Em entrevista ao portal Gazetaweb, a defesa confirmou não haver prova nos autos que acuse direta ou indiretamente o acusado. Conforme explicou Palmeira, possíveis rixas de cunho político não condizem com a realidade apresentada.

“Se houvesse qualquer atrito, haveria provas que conduziriam o réu à condenação. O ex-deputado federal Luiz Dantas, irmão da vítima, em depoimento prestado à Polícia Civil, disse que não havia nenhuma relação de inimizade entre as famílias. Acredito que o réu seja absolvido no processo criminal”, sustentou.

Acusações

Laércio Boiadeiro responde pelo mesmo crime em novo júri, uma vez que o colegiado do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) anulou a condenação de 44 anos ao alegar a existência de equívocos durante fase da oitiva. O acusado ficou detido por quatro anos no Presídio Desembargador Luiz de Oliveira Souza, em Arapiraca.

Acusado também pelo assassinato, também em Batalha, do advogado Rui Néri - do qual conseguiu a absolvição -, Laelson deverá retornar ao tribunal do júri. Quanto a outro crime praticado na Paraíba, o acusado não mais vai responder, em virtude da prescrição do processo.

Caso seja condenado pelo corpo de jurados, o réu poderá pegar de 12 a 30 anos de prisão por cada um dos crimes, já que duas pessoas foram mortas (o ex-prefeito e sua esposa).

Emboscada

O ex-prefeito de Batalha José Rodrigues Dantas viajava com a esposa, Matilde Tereza Toscano de Souza, para a cidade de Jaramataia, quando o veículo foi atingido por mais de 20 disparos de metralhadora e espingarda calibre 12. José Miguel foi baleado com nove tiros e sua mulher, com sete.

A emboscada aconteceu na Rodovia AL-220, em março de 1999.

Já segundo o promotor Flávio Gomes, acusado tinha pretensões políticas na cidade, almejando a Prefeitura ou vaga na Câmara de Vereadores. “Apesar de não existirem testemunhas, o caso é emblemático. Em quase todos os momentos da oitiva, o acusado pediu em alto e bom tom para formular perguntas ao seu advogado. Isenção total do réu”, afirmou.

Liberdade

O juiz indeferiu o pedido do Ministério Público de que o réu respondesse ao processo em liberdade - já que a defesa afirmou que irá recorrer. Segundo o magistrado, ele é réu primário e seu comportamento não evidencia riscos à ordem pública. No entanto, Laércio não poderá sair do município de Batalha e terá que usar uma tornozeleira eletrônica para o seu monitoramento.

Revoltada, a família da vítima virou as costas a José Braga Neto após o anúncio da decisão. Já a família do réu comemorou a liberdade de Laércio, que afirmou estar com a consciência limpa e que pretende voltar a trabalhar cuidando das suas três fazendas e participando de movimentos políticos, com o apoio ao seu filho na candidatura a vereador em Craíbas.

"Hoje a justiça foi feita contra a vítima, pois teremos que conviver com o assassino, já que ele não poderá sair da cidade", disse Emílio, filho da vítima.