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tribuna hoje
A seca em Alagoas, considerada uma das piores dos últimos 40 anos, já atinge aproximadamente metade do território do Estado. De acordo com o relatório da seca, da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil, mais de 458 mil alagoanos foram afetados com a seca até agora, o que gerou um prejuízo de quase R$ 66,6 milhões distribuídos entre os 36 municípios atingidos pela falta de chuva.
Falta de alimento e de água para matar a fome e a sede do sertenejo e dos seus animais são as consequências da seca em Alagoas, onde cerca de 70% da população dos 36 municípios que decretaram situação de emergência vivem na zona rural.
“A seca tr0az um prejuízo muito grande. É difícil até de calcular”, declara Jarbas Ricardo, prefeito de São José da Tapera, afirmando que o município é o maior em extensão e em população entre os que foram afetados pela seca.
Os municípios de Água Branca, Batalha, Belo Monte, Cacimbinhas, Canapi, Carneiros, Craíbas, Delmiro Gouveia, Dois Riachos, Estrela de Alagoas, Girau do Ponciano, Inhapi, Jacaré dos Homens, Jaramataia, Major Izidoro, Maravilha, Mata Grande, Minador do Negrão, Monteirópolis, Olho d’Água das Flores, Olho d’Água do Casado, Olivença, Ouro Branco, Palestina, Palmeira dos Índios, Pão de Açúcar, Pariconha, Piranhas, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, São José da Tapera, Senador Rui Palmeira e Traipu tiveram o reconhecimento pelo governo federal da Situação de Emergência por causa da seca.
Coité do Nóia, Igaci e Quebrangulo já decretaram situação de emergência e aguardam o reconhecimento do governo federal.
Segundo o major Sandro Cavalcante, auxiliar executivo da Defesa Civil do Estado, R$ 12 milhões foram liberados para minimizar as consequência da seca: R$ 10 milhões do governo federal e R$ 2 milhões do governo estadual.
Relatório afirma que só parte da população afetada recebe água
A operação carro-pipa, coordenada pelo Exército brasileiro, atende a 36 municípios alagoanos afetados pela seca, segundo relatório divulgado esta semana pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. O documento afirma que 229 mil pessoas foram beneficiadas com a água, ou seja, apenas metade da demanda.
Segundo o oficial do 59° Batalhão de Infantaria Motorizada (BIMtz), major Ednaldo Cândido, cerca de 170 carros-pipas cadastrados estão fazendo a distribuição de água no Sertão alagoano.
“A operação carro-pipa está transcorrendo dentro da normalidade, e os fiscais do Exército estão trabalhando diariamente, desde a captação de água até a entrega nos municípios”, explica. Todos os 33 municípios que tiveram o decreto de situação de emergência reconhecido pelo governo federal, além de Igaci, que aguarda o reconhecimento, estão recebendo água da operação carro-pipa. De acordo com o relatório da seca, os municípios de Belém e São Brás, embora não tenham decretado situação de emergência, também são beneficiados com a água.
Consta no relatório que os municípios de Coité do Nóia e Quebrangulo não estão recebendo água.
“O Exército não tem a competência de aumentar ou diminuir o número de comunidades atendidas pela operação carro-pipa, é apenas o intermediador”, esclarece o oficial do 59° BIMtz, acrescentando que as Coordenadorias Municipais de Defesa Civil (Comdecs) é que devem apontar a demanda.
“O processo vem pra cá, encaminhamos para Recife que, por sua vez, encaminha para Brasília, para a Defesa Civil Federal, responsável pela autorização da inclusão do município, ou dos povoados, na operação”, conta o major Cândido.
A representante da Secretaria de Estado da Agricultura, Inês Pacheco, explicou que o Exército atende a partir da demanda que chega dos municípios, e que a água é colocada em sisternas coletivas. “O Exército não pode abastecer as sisternas individuais. Existe um projeto para transformá-las em coletivas, não para atender apenas a família que detém a propriedade, mas todas que moram próximas a ela”, esclarece.
Moradores matam fome com sementes doadas
Sem saber o que fazer diante da difícil situação causada pela seca, sertanejos do município de Coité do Nóia estão utilizando as sementes doadas para a plantação como alimento para a família, é o que revela o prefeito da cidade, Bueno Higino.
“Aqui, a situação está mesmo complicada. As sementes não foram suficientes para a plantação e, sem nenhum sinal de chuva, alguns agricultores estão comendo as sementes de feijão para matar a fome”, declara Higino.
O prefeito relata ainda que alguns sertanejos estão passando fome e que a prefeitura não tem recurso suficiente para sanar o problema da falta d’água.
“A prefeitura só tem condição de manter apenas um carro-pipa, pois não tem chegado nenhum da operação coordenada pelo Exército brasileiro”, informou o prefeito, acrescentando que um carro-pipa não é suficiente, apesar das 52 viagens que ele dá por semana. “Só essa semana, mais de dez pessoas foram na [Secretaria de] Assistência Social pedir ajuda para comprar passagem para ir para São Paulo em busca de trabalho”, revela Bueno Higino.
O prefeito declara ainda que o município precisa urgentemente de ajuda. “A água daqui é salobra, não temos água doce no município”.
SÃO JOSÉ DA TAPERA
A prefeitura do município de São José da Tapera gasta por mês R$ 120 mil com carros-pipas. São 13 caminhões que, juntos, fazem 52 abastecimentos diários, é o que conta o prefeito Jarbas Ricardo. Ele afirma que os cinco carros da operação do Exército não são suficientes.
Para o prefeito, o Bolsa Família contribui para amenizar os efeitos da seca. “O Bolsa Família atende muito bem a população. As pessoas vivem quase que normal. O problema é a água”, afirma.
“Não vai dar tempo de fazer poços. A população precisa de algo mais rápido”, desabafa o prefeito.