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Saúde
18/11/2025 12:00:00

Dispositivo portátil sem necessidade de bateria detecta precocemente sinais de câncer de pele

Tecnologia inovadora utiliza propriedades elétricas da pele para identificar lesões suspeitas de forma rápida e não invasiva

Dispositivo portátil sem necessidade de bateria detecta precocemente sinais de câncer de pele

Pesquisadores da Wake Forest University School of Medicine criaram um adesivo inteligente capaz de identificar alterações precoces na pele relacionadas ao câncer, sem utilizar componentes eletrônicos tradicionais como chips ou baterias. Fixado na superfície cutânea, o dispositivo consegue distinguir com exatidão áreas saudáveis de manchas potencialmente perigosas, por meio da medição das propriedades elétricas do tecido, independentemente do tom de pele. A descoberta foi publicada na revista científica npj Biomedical Innovations.

A importância de monitorar a saúde da pele vai além da estética, pois a detecção precoce de mudanças cutâneas possibilita diagnósticos mais precisos de doenças graves, como o câncer. Quando detectadas rapidamente, essas alterações podem levar ao início imediato do tratamento, aumentando as chances de cura. Contudo, os métodos atuais de diagnóstico requerem o acesso a clínicas especializadas, o que limita sua abrangência.

O novo adesivo foi desenvolvido para ser acessível, confortável e de fácil utilização, podendo ser utilizado até mesmo fora do ambiente clínico. Consoante ao líder do estudo, Mohammad J. Moghimi, professor assistente de engenharia biomédica na Wake Forest, essa tecnologia permite que pacientes e profissionais de saúde monitorem suspeitas de forma contínua, agilizando o encaminhamento para atendimento especializado.

O equipamento é leve, descartável e de baixo custo, pois não necessita de baterias ou chips eletrônicos. Em contrapartida ao método visual tradicional, ele fornece dados numéricos objetivos sobre a condição da pele, reduzindo a realização de biópsias desnecessárias e auxiliando médicos na tomada de decisão mais precisa.

Para validar a eficácia do adesivo, um estudo contou com a participação de dez voluntários. Cada um teve o dispositivo aplicado em uma pinta e em uma área de pele saudável próxima. A medição da bioimpedância — ou seja, como a corrente elétrica passa pelo tecido — revelou diferenças nítidas entre pele saudável e lesionada através dos sinais elétricos coletados.

Segundo o dermatologista Eduardo Oliveira, especialista em oncologia cutânea, a bioimpedância avalia a resistência e a capacidade de condução elétrica dos tecidos, refletindo características celulares mais profundas. Ele explica que lesões malignas, como o melanoma, alteram significativamente essas propriedades devido ao metabolismo acelerado, aumento de água intracelular e mudanças na estrutura celular, o que resulta em impedância elétrica menor em manchas suspeitas em comparação à pele normal ao redor.

Embora o princípio seja comprovado e utilizado em outros sensores, o adesivo requer validação adicional para assegurar sua capacidade de diferenciar definitivamente lesões benignas de malignas. Estudos com dispositivos portáteis similares, sem a característica vestível, já demonstraram sensibilidade acima de 90% e especificidade de até 75%, o que indica um potencial promissor na técnica.

A vantagem dessa abordagem reside na geração de dados quantitativos e reprodutíveis, ao contrário do exame visual ou dermatoscópico, que dependem da experiência do profissional e podem variar entre operadores. No entanto, a sensibilidade e especificidade do dispositivo precisam ser elevadas para garantir sua relevância clínica, motivo pelo qual estudos de validação continuam em andamento.

Outro desafio técnico refere-se à necessidade de alinhamento preciso entre o adesivo e o módulo externo de leitura, que deve estar a poucos milímetros de distância para garantir a transferência eficiente de energia. Movimentos ou desvios podem comprometer a qualidade do sinal e, consequentemente, a precisão das medições, ressaltou Oliveira.

O uso do dispositivo em diferentes tons de pele é um aspecto crucial, pois amplia a democratização do diagnóstico de câncer de pele. Tecnologias ópticas, incluídas aquelas baseadas em inteligência artificial, apresentam menor desempenho em peles com maior concentração de melanina, dificultando a visualização de padrões suspeitos. Por isso, a medição das propriedades elétricas do tecido oferece uma vantagem significativa, pois independe do tom de pele, garantindo maior abrangência.

A equipe projeta melhorias futuras, incluindo a incorporação de eletrodos de hidrogel condutor para aprimorar o desempenho e o conforto do adesivo. A próxima fase envolve testes clínicos mais amplos, com a finalidade de verificar a efetividade do dispositivo na prática, bem como sua capacidade de distinguir entre lesões benignas e malignas, consolidando sua utilidade na rotina médica diária.