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Leitura de Domingo
16/11/2025 10:00:00

Descobertas revelam por que o diabetes infantil é mais severo em crianças pequenas

Pesquisas indicam que o estágio de desenvolvimento das células beta no pâncreas pode explicar a agressividade da doença em menores de sete anos

Descobertas revelam por que o diabetes infantil é mais severo em crianças pequenas

O diabetes tipo 1 é uma condição autoimune na qual o sistema imunológico ataca as células produtoras de insulina no pâncreas, responsáveis por regular os níveis de açúcar no sangue. Estudos recentes evidenciam que o grau de vulnerabilidade dessas células em crianças é maior antes dos sete anos, pois o órgão ainda está em fase de formação, tornando-se mais suscetível às agressões imunológicas.

De acordo com os pesquisadores, o desenvolvimento de novos fármacos poderia permitir que o pâncreas amadureça adequadamente, retardando a progressão da doença. No Reino Unido, estima-se que aproximadamente 400 mil pessoas convivem com o diabetes tipo 1.

Um exemplo impactante é o de Gracie, uma menina de oito anos de Merseyside, que em 2018, durante o Halloween, apresentou sintomas de doença que inicialmente lembravam um resfriado comum, mas que rapidamente se agravaram. Seu pai, Gareth, relata: "Ela era uma criança muito feliz, que ia à creche, dançava e cantava, e em menos de 48 horas, quase chegou a falecer.

" O diagnóstico foi um choque para a família, pois, segundo Gareth, tudo que antes era simples passou a ser mais difícil, de dez a vinte vezes. Desde então, a família teve que fazer ajustes constantes, controlando rigidamente a alimentação e ingestão de líquidos de Gracie, monitorando os níveis de glicose e administrando insulina para que ela pudesse usar a energia do sangue.

Hoje, Gracie utiliza um monitor de glicose conectado a uma bomba de insulina e tem conseguido lidar bem com a condição, conforme assegura seu pai, que a chama de "superestrela."

Contudo, permanece o mistério do porquê do quadro ser tão mais agressivo em crianças tão jovens, sobretudo menores de sete anos, em comparação com adolescentes ou adultos.

A pesquisa publicada na revista Science Advances explica que tal diferença está relacionada ao desenvolvimento das chamadas células beta, que residem no pâncreas. Essas células têm a função de liberar insulina ao perceberem o aumento de glicose após as refeições. Para compreender melhor esse processo, cientistas da Universidade de Exeter analisaram amostras de pâncreas de 250 doadores, acompanhando a formação e o comportamento dessas células ao longo do envelhecimento, bem como sua resposta na ocorrência do diabetes tipo 1.

Inicialmente, constataram que as células beta surgem como pequenos aglomerados ou unidades isoladas, evoluindo para grupos maiores, conhecidos como ilhotas de Langerhans, à medida que a pessoa envelhece.

O estudo mostrou que, ao iniciar o ataque imunológico, as pequenas aglomerados de células beta eram destruídas antes de alcançarem maturidade, enquanto as células presentes em ilhotas maiores resistiam por mais tempo, mantendo uma produção residual de insulina e, assim, minimizando os efeitos do diabetes.

A especialista Sarah Richardson, da mesma instituição, destaca: "Essa descoberta é fundamental para entender por que o diabetes tipo 1 é mais agressivo em crianças." Ela acrescenta que o panorama para os pequenos diagnosticados atualmente é mais otimista, com possibilidades de triagens para identificar precocemente a doença e o desenvolvimento de imunoterapias que possam atrasar seu avanço.

No Reino Unido, já foi aprovada uma medicação chamada teplizumabe, que atua como imunoterapia para impedir que o sistema imunológico ataque as células beta, potencialmente permitindo que elas se desenvolvam por mais tempo, embora ainda não esteja disponível pelo NHS.

Segundo Richardson, com o avanço no uso de novos medicamentos, há esperança de que seja possível prevenir ou retardar o início da condição em crianças, proporcionando uma melhor qualidade de vida. Essa pesquisa integrou o projeto Type 1 Diabetes Grand Challenge, promovido pela Steve Morgan Foundation, Diabetes UK e Breakthrough T1D. Rachel Connor, representante da Breakthrough T1D, comenta: "Essa investigação preenche uma lacuna importante, esclarecendo por que o progresso do diabetes tipo 1 é mais acelerado em crianças do que em adultos."

Elizabeth Robertson, diretora de pesquisa da Diabetes UK, reforça que entender a agressividade do diabetes em crianças pequenas pode abrir caminho para o desenvolvimento de imunoterapias capazes de desacelerar ou bloquear a resposta imunológica, possibilitando que algumas crianças permaneçam livres da terapia de insulina por mais tempo, ou até com a eliminação definitiva da necessidade por ela.