A presença do porta-aviões USS Gerald R. Ford, próximo às águas da América Latina, simboliza o agravamento das tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela.
Este movimento representa a maior demonstração militar norte-americana na região desde a invasão do Panamá, ocorrida em 1989. Assim como ocorreu com o então líder panamenho Manuel Antonio Noriega (1934-2017), há mais de três décadas, o atual mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, também foi acusado de envolvimento com o tráfico de drogas, acusação que ele nega veementemente.
A movimentação do maior e mais avançado porta-aviões do mundo nas proximidades do litoral venezuelano desperta incertezas quanto às intenções dos EUA. Enquanto isso, Caracas parece estar se preparando para uma possível ofensiva, conforme anunciado pelo ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, na última terça-feira (11/11).
Ele informou sobre um "deslocamento em massa" de tropas terrestres, marítimas, aéreas, fluviais, além de unidades de mísseis e civis, distribuídos por todo o país, com o objetivo de defender o governo de Nicolás Maduro. Durante uma transmissão na televisão, Padrino López revelou que Maduro ordenou a mobilização de quase 20 mil soldados como parte dessa operação de defesa.
A chegada do porta-aviões norte-americano é vista por analistas como uma escalada na campanha militar liderada pelo presidente Donald Trump, direcionada a combater supostos cartéis de drogas atuando na Venezuela. Recentemente, ações no mar do Caribe resultaram na morte de mais de 75 pessoas, vítimas de embarcações não tripuladas e lanchas rápidas.
Especialistas indicam que tais ações podem fazer parte de uma estratégia maior com o objetivo de enfraquecer ou derrubar o governo Maduro, que Washington classifica como ilegítimo, devido às eleições presidenciais do ano anterior, consideradas fraudulentas por opositores e organismos internacionais. Por outro lado, há debates sobre a real força do exército venezuelano.
Maduro declarou, em setembro, que mais de 8 milhões de cidadãos estavam cadastrados para defender o país, sugerindo a formação de uma milícia numerosa. Contudo, especialistas como James Story, ex-embaixador dos EUA na Colômbia, afirmam que esses números são exagerados, destacando que Maduro não obteve nem 4 milhões de votos na última eleição e que a tropa apresenta altos índices de deserção. Dados do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos apontam que a Venezuela conta com aproximadamente 123 mil soldados ativos, 220 mil milicianos e 8 mil reservistas.
Ainda assim, a real capacidade de combate das forças armadas é questionada por analistas, visto que grande parte do equipamento militar venezuelano, como os sistemas de defesa antiaérea, está obsoleta ou fora de operação.
O ex-embaixador americano explica que, embora existam unidades capazes de combater, muitas delas não possuem treinamento adequado ou condições de manutenção. A tecnologia militar venezuelana, apesar de possuir alguns recursos únicos na região, é considerada vulnerável às forças dos EUA, que possuem sistemas mais modernos e uma maior disponibilidade de peças de reposição.
Entre os arsenais mais notáveis estão cerca de 20 caças Sukhoi, adquiridos da Rússia em 2006, e uma série de F-16, que na década de 1980 foram comprados dos Estados Unidos, quando Caracas tinha forte aliança com Washington. Os Sukhoi, segundo especialistas, são superiores a tudo na região, enquanto poucos F-16 permanecem operacionais.
Na defesa aérea, Maduro anunciou a instalação de 5 mil mísseis antiaéreos Igla-S russos, considerados por ele como uma arma poderosa contra qualquer ameaça aérea. Estes sistemas portáteis, com alcance de baixa altitude, são capazes de destruir mísseis de cruzeiro, drones, helicópteros e aviões de baixa altitude. Além disso, a Venezuela possui veículos blindados chineses VN-4 e, recentemente, tornou-se o único país na América do Sul a desenvolver drones armados, como os modelos Antonio José de Sucre, derivados de plataformas iranianas.
Também recebeu lanças de ataque rápido Peykaap-III, de origem iraniana, equipadas com mísseis antinavio. Sistemas avançados como Pantsir-S1 e Buk-M2E, importados recentemente por Caracas, complementam o arsenal antiaéreo. Contudo, analistas como Andrei Serbin Pont alertam que muitas dessas capacidades são meramente teóricas, pois grande parte do equipamento está inativo ou é de difícil manutenção devido à escassez de peças de reposição.
Os sistemas de defesa venezuelanos, embora considerados eficazes, seriam relativamente fáceis de neutralizar por forças americanas, que possuem tecnologia superior. Serbin Pont destaca que os mísseis Buk, instalados ao redor de Caracas, apresentam baixa disponibilidade por causa da falta de componentes. Maduro afirma possuir aproximadamente 5 mil mísseis Igla-S, mas o especialista aponta que o número real é de cerca de 700 lançadores, uma quantidade significativa que poderia representar uma ameaça considerável caso caísse em mãos de grupos paramilitares ou dissidências.
No entanto, essa quantidade não seria suficiente para resistir a uma ofensiva direta dos EUA. Segundo análises de especialistas, a estratégia de Maduro poderia envolver dispersar armamentos entre a população, com o objetivo de gerar caos ou resistência prolongada diante de uma intervenção militar norte-americana. A preocupação maior recai sobre grupos armados, como o Exército de Libertação Nacional e dissidências das FARC, que poderiam obter essas armas. Muitos especialistas acreditam que Maduro estaria se preparando para um conflito de guerrilhas, com o ministro do Interior, Diosdado Cabello, afirmando que o país está preparado para uma guerra de longa duração. As forças armadas vêm treinando civis em uso de armas, e há suspeitas de que armas possam vir a ser utilizadas por grupos rebeldes.
No entanto, o analista James Story desqualifica essa possibilidade, afirmando que Maduro não possui popularidade suficiente ou o respaldo necessário para liderar uma campanha de guerrilha de larga escala. Segundo dados do Conselho Nacional Eleitoral, Maduro teve cerca de 6,4 milhões de votos nas últimas eleições, número contestado pela oposição e por organismos internacionais, que consideram essas eleições fraudulentas.
Diante desse cenário, a questão central permanece: será que a força militar venezuelana, liderada por Maduro, consegue fazer frente ao poder militar superior dos Estados Unidos?
Enquanto as forças venezuelanas possuem armamento avançado, sua efetividade na defesa de uma agressão estrangeira é amplamente questionada pelos especialistas.