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Acidente
14/11/2025 22:00:00

EUA anunciam operação militar na América Latina sem detalhes claros sobre objetivos

Iniciativa 'Lança do Sul' visa combater o narcoterrorismo na região, enquanto tensões aumentam com Venezuela e Colômbia

EUA anunciam operação militar na América Latina sem detalhes claros sobre objetivos

Nos últimos dias, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos revelou a execução da ação militar denominada 'Lança do Sul', sem fornecer informações específicas sobre suas metas ou duração, o que gerou incertezas quanto ao seu propósito real. A decisão veio num momento de crescente pressão do presidente Donald Trump contra movimentos de narcotraficantes na América Central e Caribe.

O anúncio foi feito na quinta-feira, 13 de novembro, pelo secretário de Guerra, Pete Hegseth, através de sua conta oficial na plataforma X. Ele descreveu a operação como uma missão de combate aos 'narcoterroristas' que atuam na zona hemisférica, além de afirmar que o objetivo é proteger os EUA do fluxo de drogas oriundo da América Latina.

"Essa missão defende nossa nação, elimina os narcoterroristas do hemisfério e assegura a proteção contra substâncias que ameaçam nossa população. O hemisfério ocidental faz fronteira com os Estados Unidos, e nossa responsabilidade é defendê-lo", declarou Hegseth em sua postagem.

Apesar do anúncio oficial, não foram apresentados detalhes sobre o escopo ou o cronograma da operação, o que levanta dúvidas se trata de uma ação semelhante às já realizadas pelo país na área do Caribe e do Pacífico, ou se indica uma postura mais confrontadora na região. Sob o argumento de combater o tráfico de drogas, a administração Trump intensificou suas ações contra cartéis latino-americanos considerados terroristas, aos quais declarou estado de conflito armado.

Desde agosto, forças norte-americanas reforçaram suas presenças no Atlântico, deslocando tropas e embarcações de guerra para a região. Na tentativa de eliminar embarcações suspeitas de transportar drogas, Washington realizou ataques a navios, resultando na destruição de pelo menos 20 embarcações e na morte de cerca de 75 indivíduos a bordo, até o momento.

Documentos sigilosos do Departamento de Justiça, obtidos pelo New York Times, tentam legitimar juridicamente essas ações, alegando que os ataques são atos de legítima defesa, uma interpretação que se fundamenta na existência de um conflito armado com os cartéis.

A operação também levou à mudança do nome do órgão liderado por Hegseth para 'Secretaria de Guerra', reforçando a postura agressiva do governo. Segundo Hegseth, o ataque foi ordenado diretamente pelo presidente Trump, sem necessidade de aprovação do Congresso, já que as ações não expõem militares americanos a perigos diretos, conforme argumenta o documento.

Críticos dessas estratégias consideram os bombardeios como crimes de guerra, além de acusar os ataques de violarem a soberania de países latino-americanos. Diferentemente das operações anteriores do governo dos EUA na região, que interceptavam embarcações e julgavam seus tripulantes dentro do devido processo legal, as ações atuais parecem mais direcionadas a ações extrajudiciais que resultaram na morte de civis inocentes.

Paralelamente às ações militares, os Estados Unidos ampliam seus exercícios no Panamá e em nações aliadas próximas, incluindo Trinidad e Tobago, que fica a apenas 10 km da Venezuela.

Pela primeira vez em mais de duas décadas, forças terrestres americanas foram enviadas ao Panamá, enquanto o país vizinho realiza um referendo para permitir a presença de tropas estrangeiras novamente, numa tentativa de fortalecer sua postura de defesa. As tensões com a Venezuela e Colômbia se intensificaram após o anúncio da operação, com Trump sinalizando a possibilidade de ataques em águas territoriais desses países.

Uma reportagem da CNN revela que os EUA consideram atacar instalações de produção de cocaína e rotas de transporte dentro do território venezuelano, o que marcaria uma escalada na intervenção. A força militar norte-americana na região inclui destróieres com mísseis guiados, caças, bombardeiros, drones, um submarino nuclear e um grupo de ataque anfíbio com 4,5 mil soldados a bordo do porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior da frota.

Essa força representa cerca de 8% do total de navios de guerra dos EUA globalmente. Adicionalmente, Washington reforçou sua presença militar na área ao deslocar tropas terrestres ao Panamá, além de realizar exercícios em países como Trinidad e Tobago.

O deslocamento de forças na região provoca reações na Colômbia, onde o presidente Gustavo Petro foi acusado por Trump de envolvimento com o narcotráfico, uma alegação rejeitada pelo líder colombiano, que chamou as ações de 'execuções extrajudiciais'.

O foco principal da administração Trump permanece em Nicolás Maduro, líder venezuelano, a quem acusa de administrar o Cartel de los Soles para exportar drogas aos EUA. Maduro, por sua vez, denuncia a presença militar americana como uma tentativa de promover uma mudança de regime e tirar o chavismo do poder, respondendo com mobilizações militares e convocando a população para uma possível resistência armada.

O presidente venezuelano também anunciou o deslocamento de 200 mil soldados e a mobilização de diversos meios militares, incluindo forças terrestres, aéreas e navais, em uma demonstração de força contra a ameaça americana. Líderes de oposição, como Maria Corina Machado, prêmio Nobel da Paz de 2025, declarou que o país vive momentos decisivos, defendendo uma transição pacífica, mas sem mencionar explicitamente a ofensiva dos EUA, o que alimenta especulações sobre um possível ataque direto.

A chegada prevista do USS Gerald R. Ford na região é vista como um ponto de inflexão, dado que o maior navio de guerra dos EUA entrou na zona do Comando Sul poucos dias após a divulgação da operação 'Lança do Sul'. A presença do porta-aviões, que ainda não chegou à Venezuela, é interpretada por analistas como uma demonstração de poder, gerando ansiedade na Venezuela e na região, com muitos observando se os EUA estão dispostos a utilizar força militar de fato.

Apesar de Rubio afirmar que o único objetivo é combater o tráfico de drogas, especialistas alegam que a presença do porta-aviões serve mais como uma pressão política sobre Caracas.

A possibilidade de usar o poder militar para atingir objetivos estratégicos, como forçar Maduro a recuar ou até mesmo renunciar, é vista como uma possibilidade real pelos analistas, que destacam a disposição do governo Trump em recorrer à força em busca de seus interesses na região.