Após uma breve interrupção de apenas 96 horas, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta sexta-feira (11/10) a recondução de Sébastien Lecornu ao cargo de chefe do Executivo, pouco tempo após sua renúncia formal.
Este movimento foi impulsionado por Macron mesmo diante de expectativas de que uma nova liderança pudesse resolver o impasse que perdura na política francesa, especialmente no que diz respeito à aprovação de uma lei orçamentária. Lecornu, que já ocupa o quinto cargo de primeiro-ministro no mandato iniciado em 2022, recebeu a nomeação oficialmente do Palácio do Eliseu: "O presidente da República nomeou Sébastien Lecornu como primeiro-ministro e incumbiu-o de formar um governo", declarou a instituição.
Após a oficialização, Lecornu declarou que sua aceitação se fundamentava no sentimento de dever. "Precisamos encerrar a crise política", afirmou, ressaltando a urgência de estabilizar o cenário nacional. Desde o ano passado, o país enfrenta um entrave político agravado pela convocação de eleições antecipadas por Macron, que resultaram em um Parlamento fragmentado em três blocos principais: uma coalizão de esquerda, o centro aliado do presidente, e a ultradireita, sem nenhum deles detendo maioria absoluta.
A crise se agravou após Lecornu, aliado próximo de Macron e ex-ministro da Defesa, ter apresentado sua demissão na última segunda-feira. A decisão veio apenas 14 horas depois de divulgar sua equipe ministerial, marcada por críticas devido à manutenção de nomes do governo anterior, como Bruno Le Maire, que foi reconduzido ao Ministério da Defesa.
Pressionado por aliados e adversários, Lecornu optou por deixar o cargo, alegando que sua missão estava cumprida, mas concordou em permanecer por mais dois dias para dialogar com diferentes partidos e avaliar a possibilidade de novas eleições. Após consultas, Lecornu comunicou a Macron que a maioria na Assembleia Nacional rejeitava uma nova dissolução do Parlamento, uma medida que poderia ameaçar a estabilidade do próprio presidente. Segundo o gabinete de Macron, "há uma plataforma para a estabilidade", resultado das análises feitas por Lecornu.
Com o retorno de Lecornu ao comando, há a previsão de que um novo ministério seja formado, incluindo mais representantes de partidos aliados. Lecornu acredita que é viável aprovar uma nova lei orçamentária até o final do ano, uma tarefa crucial, pois a França, altamente endividada, precisa votar seu orçamento até a próxima segunda-feira, data limite formal. A tentativa de Macron de evitar uma crise total no governo francês é vista como a última oportunidade para manter o controle do executivo sem paralisia completa.
No cenário político, figuras de oposição criticaram duramente a recondução de Lecornu. Jordan Bardella, líder do partido de ultradireita Reagrupamento Nacional, declarou que sua permanência é uma "piada de mau gosto" e prometeu buscar sua destituição imediata. A coalizão de esquerda, também oposição a Macron, qualificou a decisão como um "gesto obsceno" ao povo francês. Os socialistas, que possuem peso no Parlamento, afirmaram que não apoiam Lecornu e que, se ele não suspender a reforma previdenciária de 2023 — que elevou a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos —, derrubarão seu governo.
A controvérsia permanece, sobretudo devido às medidas de austeridade que continuam a dividir o legislativo francês, tendo causado a queda dos dois governos anteriores de Lecornu por conflitos orçamentários. Além das tensões internas, Macron também enfrenta críticas de aliados históricos. O ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, pré-candidato à presidência em 2027, chegou a sugerir que Macron deveria renunciar após a aprovação do orçamento.
Apesar disso, Macron reafirmou seu compromisso de concluir seu mandato, enquanto Lecornu reforçou que futuros membros do governo devem abandonar ambições presidenciais, especialmente em relação às eleições de 2027.