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Guerra
07/10/2025 16:00:00

Caminhos Incertos: O Futuro de Convivência entre Israel e Palestina

Análises indicam que a desconfiança entre as comunidades dificulta uma resolução pacífica e duradoura

Caminhos Incertos: O Futuro de Convivência entre Israel e Palestina

O relacionamento entre israelenses e palestinos atingiu seu ponto mais crítico na história recente, com poucas perspectivas de uma solução pacífica para o conflito na Faixa de Gaza, segundo especialistas. Diversas pesquisas revelam que a confiança entre ambos os povos continua a se deteriorar, aprofundando o isolamento emocional e político. Dados recentes da Universidade Hebraica de Jerusalém apontam que 62% dos israelenses acreditam que 'não há inocentes em Gaza'. Quando considerados apenas os judeus israelenses, essa proporção sobe para 76%, indicando um grau de hostilidade crescente. Essa desumanização foi destacada por Corey Gil-Shuster, professor de resolução de conflitos na Universidade de Tel Aviv, que lamenta a ausência de empatia por crianças, idosos e doentes, incluindo pacientes com câncer. Desde 2012, Gil-Shuster conduz a série de vídeos The Ask Project, onde faz perguntas controversas a moradores de ambos os lados em entrevistas de rua. Em uma dessas, questionou palestinos se apoiariam ações extremas como o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, enquanto em outra, indagou israelenses sobre sua satisfação com o sofrimento na Gaza. Recentemente, uma participante respondeu a uma questão sobre empatia por idosos e doentes com um gesto de indiferença, o que deixou Gil-Shuster profundamente entristecido. Khalil Shikaki, analista político que lidera o Centro Palestino de Pesquisa de Opiniões, reforça que a desumanização tem sido quase completa nos últimos dois anos, com as duas populações incapazes de reconhecer a humanidade do adversário. Sua pesquisa mais recente, de maio de 2025, revela um ceticismo generalizado: 69% dos palestinos na Faixa de Gaza e até 88% na Cisjordânia duvidam que Israel deixaria Gaza se o Hamas entregasse suas armas. Para ele, confiança mútua não deve ser um pré-requisito para diálogos de paz, podendo surgir ao longo do processo. Para promover uma possível reconciliação, o especialista em conflitos Gary Mason, do projeto Rethinking Conflict, traz experiências da Irlanda do Norte, onde questões de território, identidade e religião também marcaram confrontos. Segundo Mason, um cessar-fogo nos próximos meses poderia abrir caminho para uma paz que levaria uma década para se consolidar, como ocorreu na Irlanda, mesmo após 27 anos do Acordo da Sexta-Feira Santa. Apesar do clima de desconfiança, há um desejo comum por uma solução. Gil-Shuster sugere que campanhas de comunicação eficazes podem mudar percepções, reforçando a necessidade de uma narrativa que envolva toda a população, como se fosse um produto que precisa ser repensado. Nos últimos meses, esforços internacionais ganharam força. O plano de 20 pontos apresentado por Donald Trump, em setembro, busca encerrar o conflito por meio de medidas que incluem a cessação imediata das hostilidades e a libertação dos reféns israelenses em Gaza. Uma comissão internacional, liderada por Trump e Tony Blair, supervisionará as ações futuras. Por outro lado, a baixa credibilidade das lideranças políticas é evidente. A maioria dos israelenses mantém resistência ao governo de Netanyahu, enquanto Mahmoud Abbas, chefe da Autoridade Palestina, não possui legitimidade, visto que não realiza eleições desde 2006, e 81% dos palestinos, segundo uma pesquisa recente, pedem sua renúncia. Gil-Shuster enfatiza que a liderança forte é fundamental para avanços, embora atualmente não exista uma figura com esse perfil no horizonte. Quanto à viabilidade do modelo de dois Estados, Shikaki afirma que atores externos confiáveis, como os Estados Unidos e países árabes, precisariam apoiar esse caminho. Pesquisa conjunta indica que, se essa condição fosse satisfeita, a maioria dos israelenses estaria disposta a reconsiderar sua posição.

Embora a ideia de um Estado palestino seja reforçada por alguns países, como França, Reino Unido e Austrália, a implementação enfrenta obstáculos como a fragmentação da Cisjordânia, que torna a criação de um território contínuo praticamente inviável.

Mesmo assim, exemplos históricos, como a Irlanda do Norte, demonstram que coexistir em meio a divisões pode não impedir o processo de reconciliação, especialmente quando há vontade política e esforços contínuos.

Mason destaca que, apesar da persistência de muros e fronteiras temporárias, o tempo pode transformar conflitos em memórias, e a reconciliação, embora desafiadora, permanece uma possibilidade.

A lição da Irlanda do Norte sugere que, com paciência e estratégias adaptadas, a convivência pacífica entre comunidades polarizadas é uma meta alcançável, mesmo após décadas de conflito.