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06/10/2025 13:00:00

Desafios contemporâneos na educação diante da era digital e inteligência artificial

Especialistas destacam obstáculos na formação de professores, uso responsável da tecnologia e impacto na leitura e equidade

Desafios contemporâneos na educação diante da era digital e inteligência artificial

Na atualidade, o uso intensivo de smartphones entre estudantes é evidenciado por imagens como as do banco Freepik.

Desafios na leitura, informações triviais e direitos digitais na geração conectada

Um professor aponta o declínio na prática de leitura aprofundada, salientando que a dificuldade de concentrar-se em textos extensos, livros e obras literárias não é novidade, mas o hábito de leitura atenta vem sendo substituído pelo fluxo constante de vídeos curtos no Instagram e TikTok.

Segundo ele, o maior obstáculo dos educadores atualmente é reacender o interesse dos alunos pela reflexão crítica através da leitura, diante de uma enxurrada de informações superficiais e enganosas, uma questão que se intensifica com o avanço da inteligência artificial.

O especialista também alerta para questões relacionadas aos direitos autorais e à origem de conteúdos digitais. “Quando solicitamos a uma IA que crie uma imagem de um gatinho dançando na Praia do Marco dos Corais, devemos questionar a procedência dessa imagem e seus direitos de uso. Essa prática pode servir como um estímulo para os estudantes explorarem bancos de imagens gratuitos, como Pexels e Unsplash.”

Gonzalo enfatiza o risco do uso “passivo” da tecnologia, declarando que é fundamental evitar uma utilização acrítica dessas ferramentas de grande potencial, pois elas também podem apresentar falhas — e rotulá-las de 'alucinações' é um eufemismo para as limitações sistêmicas.

Formação de professores e acesso digital equitativo

Isabel Muniz Lima, docente na Faculdade de Letras da Ufal (FALE-UFAL) e especialista em Linguística, reforça que a maior dificuldade reside na capacitação dos educadores.

Ela observa que muitas escolas ainda enfrentam dificuldades para incorporar práticas de leitura e escrita que fazem parte do cotidiano dos estudantes. Além disso, os professores continuam lidando com conceitos básicos de letramento digital e, de repente, precisam compreender e orientar o uso de tecnologias avançadas como a inteligência artificial generativa.

Para ela, o debate sobre a implementação da IA na educação deve focar na forma de seu uso. “Se os estudantes já utilizam a IA para criar conteúdos, devemos avançar da questão ‘se’ para o ‘como’ usar de maneira crítica e ética.

A especialista destaca que a tecnologia pode ser uma aliada valiosa, desde que o aluno mantenha uma postura ativa na aprendizagem. “Quando aplicada de forma crítica, a IA auxilia na revisão de textos e na elaboração de ideias. Caso contrário, pode limitar o raciocínio analítico e a interpretação, atrofiando habilidades essenciais.”

Ela também adverte sobre o aumento da desigualdade social, afirmando que, sem políticas públicas voltadas à inclusão digital, a IA pode aprofundar ainda mais o fosso entre quem tem acesso às novas ferramentas e quem fica à margem. “Investimentos em conectividade e formação contínua para professores da rede pública são essenciais. Caso contrário, a diferença entre quem utiliza a IA para potencializar o aprendizado e quem a emprega apenas para disfarçar a ausência de conhecimento se tornará ainda maior.”

O futuro chegou, mas o preparo ainda é insuficiente

No cenário estadual, observa-se que, embora jovens já tenham adotado as novas tecnologias, muitas instituições de ensino ainda estão atrasadas na implementação. Educadores e gestores tentam equilibrar o entusiasmo com as preocupações, buscando inovar sem perder o protagonismo na formação dos estudantes.

De acordo com Gonzalo Abio, o papel do professor precisa ser reformulado diante do avanço digital. Ele destaca que a inteligência artificial deve servir para aliviar o trabalho do educador, não para criar tarefas adicionais.

O especialista também salienta que a IA pode ser uma ferramenta poderosa no dia a dia dos professores, especialmente para automatizar tarefas repetitivas, como elaboração e correção de avaliações.

Para Gonzalo, o maior potencial da tecnologia está em liberar o docente de atividades mecânicas, permitindo que ele se concentre em estimular a curiosidade, o pensamento crítico e o aprendizado de forma mais significativa. “A inteligência artificial já está presente na rotina dos estudantes, e o que precisamos agora é garantir que ela seja uma aliada, sem substituir a capacidade mental deles”, conclui.