As patologias inflamatórias intestinais, incluindo a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, representam condições de longa duração que acometem milhões de indivíduos globalmente.
No Brasil, observa-se um aumento preocupante na frequência dessas enfermidades. Apesar de seus sintomas muitas vezes serem confundidos com outras doenças, o progresso na medicina tem possibilitado diagnósticos mais precisos, terapias eficazes e melhorias na qualidade de vida dos pacientes.
Sempre que considerados, os sintomas podem parecer semelhantes a outras condições comuns, como intoxicações alimentares ou a síndrome do intestino irritável (SII), podendo atrasar o reconhecimento da doença. Segundo dados da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), mais de 40% dos pacientes levam além de um ano para receber um diagnóstico correto, enquanto aproximadamente um quinto aguardam por três anos ou mais.
Dr. Sérgio Teixeira, diretor médico da empresa Ferring no Brasil, destaca que esse atraso pode impactar negativamente na qualidade de vida e aumentar o risco de complicações, além de permitir o agravamento da enfermidade de leve para moderada ou severa. Para reduzir esses tempos, campanhas de conscientização e capacitação de profissionais de saúde são essenciais.
Outro aspecto importante é que, no país, a incidência dessas doenças cresce aproximadamente 15% ao ano, segundo a maior pesquisa já realizada com dados de mais de 212 mil usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa expansão foi observada ao longo de nove anos, atingindo uma taxa de 100 casos por 100 mil habitantes, com maior concentração nas regiões Sudeste e Sul.
É fundamental que os profissionais de saúde e as políticas públicas priorizem o diagnóstico precoce, além de garantir acesso a tratamentos eficientes. Além do impacto no sistema digestivo, as DII podem causar manifestações em outros órgãos, como a pele, os olhos, as articulações e o fígado, atingindo de 10% a 30% dos pacientes.
Lesões cutâneas, inflamações oculares como uveíte e episclerite, dores articulares, especialmente em joelhos, tornozelos e coluna, além de inflamações hepáticas, podem preceder ou ocorrer junto aos sintomas intestinais, complicando ainda mais o diagnóstico.
Estudos citados pela Fundação Oswaldo Cruz indicam que fatores relacionados ao estilo de vida, como consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, uso indiscriminado de antibióticos na infância, redução do aleitamento materno e diminuição da diversidade microbiana intestinal, contribuem significativamente para o aumento dessas doenças em países em desenvolvimento.
Apesar de ainda não possuir cura definitiva, a medicina avançou bastante nos últimos vinte anos. Com medicamentos e estratégias de tratamento personalizadas, muitos pacientes conseguem alcançar períodos de remissão clínica. Dr. Sérgio Teixeira afirma que atualmente existem tratamentos capazes de controlar não só os sintomas, mas também a inflamação, alterando o curso natural da enfermidade e prevenindo complicações.
Além do uso de medicamentos, hábitos como uma alimentação equilibrada, a prática regular de exercícios físicos e acompanhamento multidisciplinar são essenciais para manter a saúde e evitar recaídas. Por fim, um estudo recente aponta que a saúde mental ainda é um tema pouco discutido em entrevistas de emprego, reforçando a necessidade de maior atenção a esse aspecto.