Após quatro anos desde sua abertura de capital, que marcou a maior venda de ações na América Latina, a Raízen, uma joint venture entre Cosan e Shell, se vê em uma situação delicada, buscando uma injeção de capital. Sua dívida cresceu 56% no último ano e o valor de suas ações despencou cerca de 70%.
Nesta quinta-feira (14), as ações da empresa caíram até 15% em São Paulo, atingindo um recorde de desvalorização de R$ 1,02, após a divulgação de que a companhia estava à procura de novos investimentos. Este declínio representa a maior baixa desde a abertura de seu capital, em contraste com o preço inicial de R$ 7,60.
No dia 15 de agosto de 2025, às 14h40, o cenário se tornava ainda mais sombrio para a Raízen. Em Sertãozinho, uma cidade no centro da produção de cana, trabalhadores da usina Santa Elisa foram surpreendidos pela triste notícia de que suas funções estavam ameaçadas. A fábrica, que sustentou a economia local por quase 90 anos, havia sido paralisada indefinidamente.
"Senti como se tivesse sido atingido por um golpe. Ao olhar para os rostos das pessoas, percebi a tristeza refletida em seus olhos", comentou Natã Nóbrega, um instrumentista que atuou na usina por 20 anos, em entrevista à Bloomberg News no mês anterior. "Ninguém esperava por isso."
O fechamento da Santa Elisa, anteriormente a maior usina do Brasil, simbolizou uma drástica reviravolta na trajetória da Raízen, que havia se mostrado promissora durante sua IPO em 2021.
Recentemente, o diretor financeiro Rafael Bergman revelou que a empresa está em negociações para uma injeção de capital, uma medida necessária após a empresa ter perdido R$ 7 bilhões em três meses até junho. Essa situação crítica fez com que analistas do UBS BB, liderados por Matheus Enfeldt, indicassem que a diluição das ações poderia afastar investidores, apesar da esperança de recuperação.
A Raízen, formada em 2011, tinha um futuro brilhante em mente, com estimativas de um valor de mercado de até US$ 12 bilhões. No entanto, a realidade se mostrou diferente, com a dívida líquida subindo para R$ 49 bilhões, em comparação aos R$ 31,6 bilhões do ano anterior.
Além disso, a empresa adquiriu, em fevereiro de 2021, a Biosev, uma produtora de açúcar que enfrentava dificuldades financeiras. As expectativas de crescimento, que incluíam investimentos em biocombustíveis de segunda geração e etanol sustentável, não se concretizaram a tempo, levando a Raízen a reavaliar seus planos de expansão.
Como parte de suas estratégias para reequilibrar a situação, a companhia já desfez-se de ativos, incluindo a usina de açúcar Leme e 55 unidades que produziam energia renovável. Porém, esses desinvestimentos representam apenas 7% de sua dívida líquida.
A busca por um novo sócio estratégico está em andamento, com Lazard assessorado a Shell e Itaú ajudando a Cosan nas negociações. Espera-se que um novo investidor possa fornecer a liquidez necessária enquanto a venda de ativos não é totalmente finalizada.
Em Sertãozinho, cerca de 1.200 empregos estão em jogo, e a comunidade enfrenta a dura realidade de que a usina não retornará à sua antiga glória, como ressaltou Maurílio Biagi Filho, ex-executivo que gerenciou a Santa Elisa por muitos anos. "Os fatores econômicos superaram qualquer expectativa de recuperação."