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Saúde
12/08/2025 10:00:00

O mundo está ficando mais quente — e isso está afetando nossos cérebros

O mundo está ficando mais quente — e isso está afetando nossos cérebros

O aumento das temperaturas globais tem impactos profundos não apenas no meio ambiente, mas também na saúde do cérebro humano. A história de Jake, um garoto diagnosticado com Síndrome de Dravet, exemplifica esse desafio: suas convulsões, já graves por si só, são agravadas por ondas de calor intenso, que se tornam cada vez mais frequentes com as mudanças climáticas.

A Síndrome de Dravet é uma condição neurológica rara que afeta cerca de 15 mil crianças no Brasil e traz múltiplas dificuldades, incluindo epilepsia, deficiência intelectual e problemas motores. O calor intenso, além de desencadear convulsões, interfere no sono e no bem-estar dessas pessoas.

Segundo o neurologista Sanjay Sisodiya, da University College London, muitas doenças neurológicas, como epilepsia, AVC, esclerose múltipla e enxaqueca, são sensíveis ao aumento da temperatura e da umidade. Ele destaca que durante ondas de calor recentes na Europa, cerca de 7% das mortes adicionais tiveram ligação direta com problemas neurológicos.

O cérebro, que gera calor próprio ao funcionar, depende de uma eficiente regulação térmica para manter suas funções. A exposição a altas temperaturas pode comprometer a transmissão de sinais entre neurônios e alterar processos cognitivos, afetando o humor, aumentando irritabilidade, agressividade e depressão.

Além disso, pessoas com condições neurológicas enfrentam maior risco, pois a regulação da temperatura corporal pode estar prejudicada. Medicamentos usados para tratar transtornos psiquiátricos também podem aumentar a vulnerabilidade ao calor.

O impacto do calor também é evidente no aumento de casos de acidente vascular cerebral (AVC). Estudo internacional revelou que, a cada mil mortes por AVC, dois ocorrem em dias mais quentes, o que pode resultar em mais de 10 mil óbitos adicionais anuais no mundo. Países de baixa e média renda são os mais afetados, aumentando desigualdades em saúde.

Outra consequência preocupante é o aumento dos partos prematuros associados a ondas de calor, que podem prejudicar o desenvolvimento neurológico das crianças.

O aquecimento global também favorece a proliferação de mosquitos transmissores de doenças como Zika, chikungunya e dengue, que podem afetar diretamente o cérebro, especialmente no caso do vírus Zika, associado à microcefalia.

Embora ainda haja muitas questões em aberto sobre como o calor afeta o cérebro em diferentes indivíduos e condições, já é claro que a adaptação e a proteção dos mais vulneráveis são urgentes. Estratégias como sistemas de alerta, ambientes climatizados e compensações para trabalhadores em dias de calor extremo podem ser necessárias.

Como afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, "a era do aquecimento global acabou, a era da ebulição global chegou". O impacto das mudanças climáticas no cérebro humano é uma realidade que começa a se revelar e demanda atenção global.