As novas tarifas comerciais impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, previstas para entrar em vigor na próxima semana, não devem gerar impactos significativos na Zona Franca de Manaus (ZFM). A avaliação é de representantes do setor produtivo do Amazonas, que já esperavam efeitos limitados mesmo antes da divulgação da lista de exceções adotada pelo governo americano.
O secretário de Estado de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), Serafim Corrêa, destacou em entrevista à TV A Crítica que o Polo Industrial de Manaus (PIM) exportou, no último ano, US$ 99 milhões para os EUA, o que representa menos de 1% das exportações totais do polo. Já as vendas para o mercado interno brasileiro chegaram a US$ 37,5 bilhões.
Segundo Corrêa, o polo industrial vive um momento de grande produção e aquecimento econômico. “Nos primeiros seis meses do ano, o polo de Duas Rodas fabricou 1 milhão de motocicletas. Levamos dez anos para atingir esse número no passado. Agora fizemos isso em apenas meio ano”, afirmou.
A declaração foi uma resposta às previsões da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que inicialmente estimava prejuízos de até R$ 1,1 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) do Amazonas devido às tarifas. Após revisão, a própria CNI corrigiu os dados e reduziu a projeção de impacto para R$ 1,1 milhão, classificando o estado como o menos afetado do país.
Serafim Corrêa reforçou que a ZFM tem foco no abastecimento do mercado interno, e que a relação comercial com os EUA é desequilibrada, já que o Brasil importa muito mais do que exporta. “A dependência do Amazonas em relação ao mercado norte-americano é mínima. Nós compramos peças que são transformadas aqui e depois vendidas no Brasil. Não haverá qualquer prejuízo com as tarifas, que inclusive repudiamos”, ressaltou.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, também minimizou os possíveis efeitos. Segundo ele, a lista de exceções divulgada pelos EUA inclui cerca de 700 produtos, entre eles itens produzidos no Amazonas, como madeira e castanha-do-pará. Para Silva, os impactos serão pontuais e a estrutura da ZFM, voltada para o consumo interno, permite absorver eventuais mudanças no comércio internacional.
Ele explicou que menos de 1,5% do faturamento total da ZFM corresponde a exportações, e apenas 10% desse valor tem os EUA como destino, o que significa que apenas 0,15% do faturamento poderia ser atingido pelas tarifas. “É um impacto marginal. A maior parte da produção é voltada ao mercado brasileiro, o que nos deixa menos vulneráveis a medidas desse tipo”, disse.
Lúcio Flávio de Oliveira, presidente executivo do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), lembrou que, entre os 27 estados brasileiros, o Amazonas ocupa a 16ª posição em volume de exportações para os EUA. Segundo ele, as vendas externas do estado somaram quase US$ 100 milhões, com uma pauta bastante variada, tendo como destaque as motocicletas de alta cilindrada.
Ele também citou outros itens relevantes exportados, como nafta de Urucu (Coari), querosene de aviação e madeira, todos incluídos na lista de exceções das tarifas. Lúcio Flávio alertou, no entanto, que qualquer redução nas exportações brasileiras em geral pode afetar o poder de consumo interno, o que, por consequência, impactaria indiretamente a demanda pelos produtos fabricados na Zona Franca.
O superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, divulgou os dez produtos mais exportados do Amazonas para os Estados Unidos em 2025, reforçando a ideia de que o impacto é pequeno. Entre os principais estão motocicletas com cilindrada superior a 125 cm³ (US$ 10,4 milhões), distribuidores automáticos de papel-moeda (US$ 6,5 milhões), engrenagens e componentes de transmissão (US$ 4,5 milhões), lentes para óculos (US$ 3,4 milhões), madeiras tropicais (US$ 1,93 milhão), querosene de aviação (US$ 1,46 milhão), motocicletas de menor cilindrada (US$ 1,3 milhão), insumos para bebidas (US$ 927,6 mil), castanhas-do-pará (US$ 772,8 mil) e cartas de baralho (US$ 541,7 mil).