A exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, trouxe promessas de desenvolvimento e prosperidade para a região, mas a realidade vivida pelos moradores tem sido bem diferente. Em vez de melhorias na qualidade de vida, a chegada das mineradoras resultou em inflação, expulsão de famílias de suas terras e impactos ambientais significativos.
Crescimento da mineração e impactos locais
O Brasil se tornou um dos principais produtores mundiais de lítio, mineral essencial para a fabricação de baterias usadas em veículos elétricos. No entanto, moradores de cidades como Araçuaí e Itinga relatam que o aumento da atividade mineradora não trouxe benefícios diretos à população. Pelo contrário, o custo de vida disparou e o preço dos aluguéis aumentou em até 400%, obrigando muitas famílias a deixarem suas casas.
Além do impacto financeiro, comunidades próximas às minas enfrentam problemas como rachaduras em casas causadas por explosões e aumento da poeira gerada pela atividade de mineração. Agricultores temem a contaminação de nascentes e a escassez de água, enquanto quilombolas da região lutam para garantir o direito às suas terras antes que sejam tomadas pela mineração.
Desenvolvimento sustentável ou novo colonialismo?
A corrida pelo lítio atraiu dezenas de mineradoras, como a Sigma Lithium e a Atlas Lithium, que já operam na região. O governo de Minas Gerais lançou o projeto "Lithium Valley" para incentivar investimentos, alegando que já foram gerados mais de 10 mil empregos diretos e indiretos. No entanto, especialistas alertam que a promessa de crescimento econômico pode aprofundar desigualdades e comprometer recursos naturais essenciais para a população.
Pesquisadores da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri afirmam que o avanço desenfreado da mineração pode intensificar a precarização dos serviços públicos, aumentar a violência urbana e acelerar o deslocamento forçado de comunidades tradicionais. Além disso, um inquérito do Ministério Público mineiro aponta que a Sigma Lithium teria causado danos a áreas protegidas, como a Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha.
Futuro incerto para a população local
Enquanto mineradoras e investidores lucram com o chamado "ouro branco", moradores do Jequitinhonha continuam lutando por condições dignas de vida. O alto custo de moradia, os riscos ambientais e a falta de infraestrutura básica são desafios que contrastam com o discurso otimista do governo e das empresas.
Diante desse cenário, cresce o debate sobre a necessidade de políticas públicas que garantam uma transição energética justa, sem sacrificar as comunidades locais em nome do progresso econômico.