Pesquisadores da Universidade de Nova York (NYU) desenvolveram um exame inovador chamado PCR digital de gota ultrarrápida (UR-ddPCR), capaz de identificar mutações genéticas em células tumorais cerebrais em apenas 15 minutos. A nova ferramenta é prática, eficiente e pode ser utilizada em tempo real durante cirurgias, tornando os procedimentos de remoção de tumores cerebrais mais precisos e seguros.
De acordo com o estudo publicado na revista Cell Press Med, o UR-ddPCR mostrou desempenho superior ao ddPCR tradicional, que também quantifica células tumorais com alta precisão, mas leva várias horas para fornecer um resultado. Esse tempo reduzido pode auxiliar neurocirurgiões a removerem o máximo possível do tumor e das células cancerígenas próximas, sem comprometer áreas saudáveis do cérebro.
Nos testes iniciais, a nova tecnologia foi aplicada ao sequenciamento genético de 75 amostras de tecido de 22 pacientes submetidos a cirurgias para remoção de gliomas, um tipo comum de câncer cerebral. Os resultados foram equivalentes aos obtidos com o método padrão, demonstrando a confiabilidade do UR-ddPCR. Além disso, o exame foi usado para identificar mutações genéticas específicas, como IDH1 R132H e BRAF V600E, frequentemente associadas a tumores cerebrais.
A equipe responsável pelo desenvolvimento da tecnologia implementou diversas otimizações para reduzir drasticamente o tempo do exame. O tempo de extração do DNA, por exemplo, caiu de 30 minutos para menos de cinco, enquanto algumas etapas laboratoriais, que antes levavam duas horas, agora são concluídas em menos de três minutos. Essas melhorias permitem a realização da análise durante a própria cirurgia.
Rodrigo Bovolin, especialista em oncologia clínica do hospital Sírio-Libanês em Brasília, destaca que essa inovação pode transformar a abordagem cirúrgica no tratamento do câncer cerebral. Com informações mais detalhadas em tempo real, os médicos podem remover tumores com maior precisão, reduzindo o risco de recorrência e melhorando a recuperação dos pacientes. O oncologista Igor Morbeck, da Oncoclínicas Brasília, reforça que um dos maiores desafios nas cirurgias de tumores cerebrais é lidar com lesões infiltrativas, que penetram no tecido cerebral e dificultam a remoção completa da doença. O novo exame pode auxiliar nesse processo ao fornecer dados imediatos sobre a presença do tumor e suas mutações genéticas, permitindo um tratamento mais eficaz.
Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores afirmam que a técnica ainda precisa ser refinada antes de uma aplicação mais ampla. O próximo passo do estudo é automatizar o UR-ddPCR para torná-lo ainda mais rápido e acessível. Além disso, a equipe pretende expandir sua aplicação para identificar mutações genéticas em outros tipos de câncer, abrindo novas possibilidades para diagnósticos e tratamentos mais eficazes.