Caso Braskem: impacto social atinge áreas vizinhas, revela documentário

O isolamento social e econômico provocado pelo desastre ambiental da Braskem em Maceió é o tema central do documentário “Ainda há moradores aqui”, que será lançado nesta terça-feira, 25, no Teatro Deodoro. Com 42 minutos de duração, o filme destaca a realidade de quem ainda vive nas áreas afetadas pelo afundamento do solo causado pela mineração de sal-gema.

Um dos personagens retratados é Valdemir dos Santos, vendedor de churros e morador do bairro Flexal de Cima. Desde 2018, quando ocorreu o primeiro tremor de terra ligado à atividade da mineradora, ele enfrenta dificuldades para sustentar a família. A desocupação dos bairros próximos transformou a região em um “bairro-fantasma”, prejudicando o comércio local e a vida dos que permaneceram. Segundo Valdemir, mais de 2,5 mil famílias foram obrigadas a sair de suas casas, mas ele recusou a indenização de R$ 25 mil oferecida pela Braskem.

O documentário tem direção de Tiago Rodrigues e busca trazer visibilidade ao impacto humano da tragédia. Segundo ele, muitos brasileiros ainda desconhecem a gravidade do ocorrido. Para Maurício Macedo, roteirista do filme, o maior impacto observado foi o psicológico, com aumento de casos de depressão entre os moradores.

A Defensoria Pública de Alagoas alerta que houve um subdimensionamento da área de risco. Imóveis localizados na borda da região afetada apresentam problemas estruturais graves, além de um forte isolamento social. O defensor Ricardo Melro aponta que cerca de 80% da população do Flexal deseja sair da área, onde vivem aproximadamente 2,7 mil pessoas.

Sobre as obras de revitalização, o Ministério Público Federal está avaliando as ações da mineradora, que incluem construção de creche, unidade de saúde e apoio a pescadores. Em nota, a Braskem afirmou que já implementou 14 das 23 iniciativas acordadas com as autoridades e que oferece apoio psicológico aos moradores afetados. A mineradora também informou que o pagamento de indenizações por ilhamento social foi realizado para 99% das famílias.

Enquanto isso, Valdemir dos Santos segue buscando clientes pelas ruas vazias do bairro onde criou seus filhos e construiu sua história. Para ele, o documentário representa uma nova esperança de que a situação dos moradores afetados volte a ser lembrada. “Tenho muita saudade da vizinhança, da praça, da igreja, de tudo”, desabafa.