Os incêndios florestais contribuíram para um aumento de 31% das emissões resultantes da invasão russa da Ucrânia nos últimos 12 meses. Desde o início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, estima-se que quase 230 milhões de toneladas de CO2 equivalente tenham sido liberadas na atmosfera, um valor comparável às emissões anuais combinadas da Áustria, Hungria, República Checa e Eslováquia.
A pesquisa foi realizada pela Iniciativa de Contabilidade de Gases do Efeito Estufa da Guerra, com apoio do governo ucraniano, e busca responsabilizar a Rússia pelos danos ambientais causados pelo conflito. O estudo, coassinado por Svitlana Krakovska, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, foi apresentado durante a 62ª sessão do órgão em Hangzhou, na China.
Incêndios florestais intensificam crise climática
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais indicam que, em 2024, a Ucrânia enfrentou uma quantidade excepcional de incêndios florestais, em grande parte desencadeados pela guerra. Nos últimos 12 meses, a área total devastada pelo fogo ultrapassou 92 mil hectares, mais que o dobro da média anual dos dois anos anteriores.
As emissões provenientes dos incêndios florestais atingiram 25,8 milhões de toneladas de CO2 equivalente, um aumento de 118% em relação aos anos anteriores. A maioria dessas queimadas ocorreu na linha de frente ou em áreas fronteiriças.
Segundo Lennard de Klerk, autor principal do relatório, os bombardeios, explosões, quedas de drones e até fogueiras acesas por soldados são as principais fontes de ignição. A dificuldade de acesso dos bombeiros às áreas afetadas faz com que os incêndios se tornem mais intensos e prolongados, só cessando quando todo o material combustível é consumido.
O agravamento da seca na região leste da Ucrânia, combinado com sucessivas ondas de calor, elevou significativamente o risco de incêndios. De acordo com especialistas, o aquecimento global tem favorecido as condições para a propagação das chamas, gerando um ciclo vicioso em que as alterações climáticas aumentam o risco de incêndios, a guerra os desencadeia e as emissões resultantes contribuem para um aquecimento ainda maior.
Fontes adicionais de emissões na Ucrânia
A continuidade dos combates nos últimos 12 meses fez com que as emissões resultantes da atividade militar ultrapassassem os impactos da reconstrução de edifícios e infraestruturas.
Os veículos militares, como tanques e caças, que consomem grandes quantidades de combustíveis fósseis, foram responsáveis pela maior parte das emissões, somando 74 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
O uso crescente de drones não reduziu significativamente o impacto ambiental da guerra, pois projéteis de artilharia de alto teor de carbono continuam sendo amplamente utilizados.
Além disso, ataques às infraestruturas energéticas causaram um aumento de 16% nas emissões relacionadas a esse setor. A destruição de refinarias e instalações petrolíferas levou a um crescimento nas emissões, que passaram de 1,1 milhão de toneladas nos primeiros dois anos de guerra para 2,1 milhões de toneladas nos últimos 12 meses.
O espaço aéreo sobre a Rússia e a Ucrânia segue restrito, forçando aviões a percorrerem distâncias maiores, o que resultou em um aumento nas emissões da aviação associadas ao conflito, totalizando 14,4 milhões de toneladas de CO2 equivalente desde 2022.
As emissões relacionadas à fuga de refugiados permaneceram praticamente inalteradas.
Ucrânia busca compensação por danos ambientais
O governo ucraniano defende que a Rússia deve ser responsabilizada pelos danos ambientais decorrentes da guerra. A ministra da Proteção Ambiental e dos Recursos Naturais da Ucrânia, Svitlana Grynchuk, destacou que a destruição ambiental provocada pelo conflito não se limita às fronteiras do país e agrava a crise climática global.
Os pesquisadores propõem que a Rússia compense a Ucrânia pelos prejuízos ambientais, seguindo uma decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas de 14 de novembro de 2022. Com base no custo social do carbono de 185 dólares por tonelada de CO2 equivalente, o impacto ambiental da guerra já ultrapassa 42 bilhões de dólares.
Embora as negociações de paz ainda sejam incertas, especialistas afirmam que os custos climáticos do conflito não podem ser ignorados.