A invasão da Ucrânia pela Rússia revelou a vulnerabilidade do Brasil quanto à dependência de insumos essenciais para a agricultura. A disparada dos preços e o risco de escassez levaram o governo a reforçar iniciativas para alcançar a autossuficiência.
Atualmente, mais de 80% dos fertilizantes utilizados no país são importados, sendo o potássio um dos principais insumos. Historicamente, 95% do potássio consumido no Brasil vem do exterior, com Rússia, Belarus e Canadá entre os principais fornecedores. Em 2022, com as incertezas sobre o fornecimento devido à guerra, os preços dispararam, impulsionando a criação do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). O valor da tonelada de cloreto de potássio saltou de menos de 300 dólares para mais de 1.200 dólares.
Diante desse cenário, o governo do então presidente Jair Bolsonaro estabeleceu a autossuficiência como prioridade, incentivando a mineração em território nacional, inclusive em terras indígenas. O projeto mais significativo está localizado em Autazes, no Amazonas, mas enfrenta desafios jurídicos e ambientais.
Com o tempo, o mercado de fertilizantes passou por uma "normalização", segundo especialistas, com os preços retornando aos patamares anteriores à crise. Atualmente, a tonelada de potássio custa cerca de 300 dólares. A Rússia continua sendo o maior fornecedor do Brasil, representando 25,7% das importações em 2024, um crescimento de quase 20% em relação ao ano anterior. Em contrapartida, as compras de Belarus diminuíram devido a sanções internacionais.
Apesar da estabilização, o Brasil segue investindo na exploração de potássio nacional. O vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu a extração em Autazes, alegando que a atividade pode suprir até 25% da demanda interna. Estudos indicam que 11% das reservas da Bacia do Amazonas estão em terras indígenas, enquanto Minas Gerais detém 75% do potássio fora da Amazônia. No entanto, desafios tecnológicos e logísticos dificultam a exploração em outras regiões.
O projeto de mineração em Autazes enfrenta resistência do povo indígena Mura, que teme o deslocamento forçado e impactos ambientais. O Observatório dos Conflitos da Mineração no Brasil destacou o caso como uma das disputas mais intensificadas recentemente. Além disso, há denúncias de coação de lideranças indígenas para facilitar a exploração.
Em abril de 2023, o governo do Amazonas concedeu a primeira licença ambiental para o projeto, avaliado em mais de 2,5 bilhões de dólares e conduzido pela Brazil Potash. No entanto, em agosto, o Ministério Público Federal solicitou uma revisão urgente da autorização, alegando irregularidades na aquisição de terras e ameaças à população indígena.
Apesar da controvérsia, o governo do Amazonas manifestou apoio à iniciativa, destacando a geração de empregos e o desenvolvimento econômico. A Brazil Potash prevê o início da extração para 2029, mas a viabilidade do projeto dependerá da resolução dos conflitos socioambientais e jurídicos.