Os Estados Unidos deram sinais de que podem se afastar dos esforços internacionais para processar a Rússia pela invasão da Ucrânia, gerando preocupações quanto ao futuro do Tribunal Especial para o Crime de Agressão. A hesitação americana ficou evidente durante uma reunião do grupo central de países que organiza um tribunal nos moldes de Nuremberg para julgar Vladimir Putin e as forças russas, conforme reportado pelo jornal The Telegraph.
Esse grupo lidera uma coalizão de 40 nações que busca criar um tribunal inspirado na resposta aos crimes de guerra cometidos pelos nazistas após a Segunda Guerra Mundial. O crime de agressão, que não pode ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia, demandaria que os Estados Unidos e outros países concedessem jurisdição a uma corte criminal dedicada a investigar não apenas os responsáveis diretos, mas também seus cúmplices.
O governo de Donald Trump, no entanto, se recusou a assinar uma declaração do G7 que classificava a Rússia como “agressor” e evitou apoiar uma resolução da ONU que reafirma a integridade territorial da Ucrânia e exige a retirada das forças russas. Essa postura representa uma mudança significativa em relação à política de Joe Biden, que havia classificado Putin como um “criminoso de guerra” e apoiado declarações internacionais identificando a Rússia como o país agressor.
A resistência dos Estados Unidos em endossar essas declarações e a relutância em rotular formalmente a Rússia como agressora colocam em risco os preparativos para a reunião final do grupo no próximo mês. Um oficial envolvido nas negociações destacou que sem esse reconhecimento, a participação dos EUA se torna inviável. A eventual retirada de Washington representaria um forte golpe para a credibilidade e o status internacional do projeto.
Um diplomata europeu, sob anonimato, manifestou grande preocupação com a mudança de posição americana, afirmando que tentar reescrever os fatos e minimizar a responsabilidade russa na guerra é algo inaceitável.
Apesar dessas incertezas, os Estados Unidos ainda não formalizaram sua saída do grupo e devem participar da próxima reunião, prevista para ocorrer em Estrasburgo, na França. No entanto, documentos diplomáticos indicam que representantes europeus ficaram surpresos com as recentes declarações americanas em encontros internacionais, nas quais sugeriram que a Rússia deveria ser reintegrada ao cenário global. Diante desse cenário, diversas capitais europeias discutem a possibilidade de o tribunal especial não se concretizar caso a saída dos EUA se confirme.