BBC - Se você soubesse
como os dentes eram tratados no passado, talvez pensasse duas vezes antes de
sentir medo de ir ao dentista - ainda que, para alguns, esse temor realmente
seja uma fobia.
Richard Barnett, pesquisador da história da
ciência, foi a fundo nessa investigação: em seu livro The Smile Stealers: The Fine and Foul Art of Dentistry ("Os
ladrões de sorrisos: a fina e suja arte da Odontologia", em tradução
livre), ele resgata o modo como diferentes sociedades em várias épocas lidavam
com problemas como cáries e métodos de higiene bucal.
"Acredito que a razão pela qual tememos (a
Odontologia) de uma forma diferente de outros ramos da medicina é que ela é
ainda muito física: estamos muito conscientes quando nos sentamos naquela
cadeira e sentimos aqueles dedos com luvas entrarem na boca, tocando nossas
bochechas e tateando nossas gengivas. Nós sentimos aquele calor ", disse
Barnett à BBC.
Selecionamos 11 histórias do livro do historiador - que vão
da "reutilização" de dentes de mortos à disputa pelos sorrisos mais
saudáveis na Guerra Fria.
Alguns
dos exemplos mais antigos de cárie dentária foram encontrados em crânios do
Egito Antigo. Acredita-se que elas fossem causadas por pães duros e vegetais
fibrosos. E nenhuma escova de dente ou artefato de cuidados dentários foram
encontrados em qualquer um dos túmulos.
Uma
das primeiras explicações para as cáries dentárias foi a ideia de que pequenos
vermes ou demônios cavavam os dentes e gengivas. Os sumérios acreditavam que as
terminações nervosas eram esses pequenos vermes - as quais tratavam de retirar.
Em
decorrência de sua obsessão pelas sobremesas, a rainha Isabel 1ª, da
Inglaterra, estava com os dentes pretos em 1578.
Naquela
época, o açúcar era uma verdadeira iguaria.
Apesar
da dor, a rainha recusava tratamentos. Assim, o bispo John Aylmer passou ele
próprio por uma cirurgia, retirando um dente, para mostrar que a operação era
menos dolorosa do que ela temia.
Na
Idade Média, as extrações de dentes eram realizadas sem anestesia, em público e
por barbeiros.
Para
isso, era utilizado um instrumento amedrontador chamado "pelicano
dental" e, mais tarde, uma "chave dental" - fórceps para a
extração de dentes.
O
médico francês Pierre Fauchard, que atuou entre o final do século 17 a princípios
do século 18, é tido como o pai da Odontologia.
Ele
é celebrado pelas explicações científicas da anatomia oral básica e por
procedimentos dentários pioneiros, como a eliminação de cáries e transplantes
dentários.
Mas
ele também recomendava fazer bochechos generosos com... a própria urina.
Andrômaco
- o médico do imperador romano Nero (37-68 d.C.) - usava teriaga, um antídoto
para venenos, para tratar dor de dente, bem como para todo tipo de doença.
Como
ele dizia, se o antídoto não curava, sem dúvida fazia as pessoas se sentirem
melhor - o que provavelmente era verdade, já que seu principal ingrediente era
o ópio.
Você
sabia que escovar os dentes pode ser um ato político?
Durante
a Guerra Fria, a propaganda oficial dos Estados Unidos dizia que uma boa saúde
dental era a maneira ideal de demonstrar a superioridade sobre os bolcheviques.
Na
União Soviética, também se pedia para que os cidadãos escovassem os dentes pela
pátria-mãe.
Em
média, o americano usa 38,5 dias em toda a vida para escovar os dentes. Mas,
surpreendentemente, a obsessão americana com a saúde dental começou apenas
depois da Segunda Guerra Mundial.
Os
soldados americanos que haviam sido enviados ao exterior trouxeram de volta
consigo a importância de manter os dentes limpos.
No
século 19, os vivos usavam dentes postiços arrancados de cadáveres.
Depois
da Batalha de Waterloo, ocorrida na região onde fica a Bélgica, foram retirados
os dentes de 50 mil mortos, e isso não era um segredo: essas dentaduras
ganharam o nome de "dentes de Waterloo".
No
Japão, algumas mulheres buscam dentistas para que eles... deformem seus dentes.
A moda se chama yaeba e consiste
em desalinhar, afinar e alongar os dentes. Segundo esse padrão estético, isso
torna seus sorrisos mais ternos e inocentes, fazendo-as parecer mais jovens.
A
pasta de dentes mais antiga de que se tem notícia foi desenvolvida pelos
egípcios entre 3000 mil e 5000 anos a.C.
A
composição incluía mirra, pedra-pome, cinzas e cascas de ovos.
Na
Grécia e Roma Antiga, eram usados ossos e conchas de ostras trituradas.
Mais
tarde, no século 16, a pasta de dente adotada na Inglaterra incluía substâncias
que nos aterrorizariam hoje, como pó de tijolos, porcelana e talheres
triturados, além de conchas de moluscos.
Atribui-se
ao empresário inglês William Addis a confecção da primeira escova de dentes, em
1780, usando ossos de vacas e pelos de javali.
A
primeira escova comercial surgiu na década de 1930, nos Estados Unidos.