De São Paulo para a BBC Brasil
Não por coincidência, a
obesidade também saltou 60% entre 2007 e 2016 - hoje 18,9% da população é
considerada obesa, de acordo com dados do governo. Entre o grupo feminino,
porém, esse índice é um pouco mais elevado: atinge 19,6% das mulheres. Quando o
critério é sobrepeso, o resultado é pior: mais da metade (53,8%) dos
brasileiros pesa mais do que deveria.
Para o médico João Eduardo
Nunes Salles, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e
da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), as doenças são irmãs. "O
aumento do diabetes se dá basicamente pelo aumento da obesidade e do
sedentarismo, é a mesma relação. As pessoas morrem de medo de ter diabetes, mas
não tem medo da obesidade", alerta.
Neste ano, uma campanha nacional de
prevenção para o Dia Mundial do Diabetes - comemorado nesta terça - organizada
pelas duas sociedades médicas tem como tema "Mulheres e Diabetes - Nosso
direito a um futuro saudável". Até esta quarta, haverá ações voltadas
principalmente para o público feminino em todas as capitais brasileiras.
Em dez anos, o diagnóstico
do diabetes saltou de 6,3% para 9,9% da população feminina, índice bem maior
que o registrado entre os homens (7,8% da população masculina) e mais alto que
a média nacional (8,9%).
Em geral, a doença afeta
pessoas com menos anos de estudo e aquelas acima dos 55 anos. As mulheres com
mais de 35 anos com obesidade abdominal, hipertensão arterial e triglicérides
elevados são o público com maior risco de desenvolver a doença.
A obesidade abdominal
ocorre entre aqueles com circunferência da cintura acima de 88 cm, no caso das
mulheres, e de 102 cm, nos homens.
"Todas as mulheres
nessa condição estão sob o risco eminente de ter diabetes, mas muitas não se
cuidam", diz Salles. "As mulheres estão ganhando mais peso e cada vez
mais precocemente - antes era por volta dos 40 anos de idade, mas agora ocorre
muito mais cedo. Isso faz com que elas apresentem um risco maior de desenvolver
o diabetes", afirma.
Diabetes
durante a gravidez
As mulheres também correm risco de desenvolver o
diabetes gestacional, desencadeada por alterações no metabolismo materno e
agravada por fatores de risco, como ganho de peso excessivo durante a gestação,
idade materna mais avançada e quadro de hipertensão arterial.
O diabetes gestacional quase sempre desaparece após
a mãe dar à luz - a condição, porém, aumenta as chances da mulher desenvolver
doenças cardiovasculares e a probabilidade dela apresentar a doença após a
menopausa, aponta Salles. O bebê também fica com risco de desenvolver diabetes
no futuro.
"A mulher tem que saber antes de engravidar se
tem ou não da doença. Se tiver histórico na família e engravidar após os 30
anos, ela tem que ficar muito atenta para fazer um diagnóstico precoce da
doença e evitar o diabetes gestacional."
Diabetes
e doenças fatais
A condição aumenta em até três vezes o risco de o
paciente desenvolver doenças cardiovasculares, como derrame e infarto.
Entre as mulheres, a falta de controle da doença
pode estar relacionada a uma menor redução de casos de acidentes vasculares
cerebrais (AVC) nos últimos anos, segundo uma pesquisa publicada em agosto na
revista científica Neurology.
O estudo, feito a partir dos registros de saúde de
1,3 milhão de pessoas dos estados de Ohio e Kentucky, nos Estados Unidos,
hospitalizadas entre 1990 e 2003, apontou que o número de AVCs por 100 mil
habitantes reduziu 37% entre o público masculino - entre as mulheres, porém, os
pesquisadores não encontraram redução estatisticamente relevante no período.
O estudo não identificou os fatores de risco que
levaram à menor redução de derrames entre mulheres, mas uma das causas
discutidas pelos cientistas é a prevalência do diabetes entre elas.
"A preocupação é que essa estabilidade dos
casos de AVC nas mulheres esteja relacionada ao mau controle do diabetes e de
outros fatores de risco no público feminino, como a hipertensão, o tabagismo, o
colesterol e a obesidade", afirma o médico Breno Caiafa, secretário-geral
da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro
(SBACV).
Além de maior risco de AVC e de infarto, o diabetes
é uma das principais causas de cegueira, falência do rim e amputações de
membros inferiores.
A tendência de crescimento da doença no Brasil e no
mundo preocupa autoridades de saúde. De acordo com a Organização Mundial de
Saúde (OMS), em 2030 o diabetes será a sétima principal causa de mortes no
mundo - hoje, é a nona.
O que é
o diabetes e como prevenir
O diabetes é uma doença crônica que ocorre ou
quando o pâncreas não produz insulina suficiente - hormônio que regula os
níveis de açúcar no sangue - ou quando o corpo não consegue utilizar de maneira
efetiva a insulina que o organismo produz. A doença se divide em dois tipos,
além da diabetes gestacional:
Tipo 1:
Essa condição é caracterizada por uma produção
deficiente de insulina pelo organismo e demanda aplicações diárias do hormônio.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, a
doença atinge principalmente crianças e adolescentes. Dos que sofrem com o
diabetes, entre 5% e 10% do total são diagnosticados com o tipo 1. As causas
são desconhecidas, e não há métodos de prevenção.
Tipo 2:
Esse tipo ocorre quando o organismo não consegue
utilizar a insulina produzida pelo corpo. A condição atinge a maioria das
pessoas com diabetes ao redor do mundo e, ao contrário do tipo 1, está
amplamente associada ao excesso de peso e ao sedentarismo.
A forma de prevenir o diabetes tipo 2 é por meio da
reeducação alimentar, redução do consumo de açúcar e de gorduras saturadas,
além da prática de exercícios físicos regulares. A OMS recomenda pelo menos 30
minutos de atividade física na maioria dos dias da semana.
"Hoje o diabetes do tipo 2 é uma doença que a
gente consegue prevenir. Mas os pacientes acabam sendo vítimas da obesidade,
uma outra doença extremamente prevalente no Brasil", diz Salles.