Um navio petroleiro que teria desligado seu sistema de rastreamento e passado oculto dos radares na costa brasileira será apresentado na quinta-feira (21) ao Senado como um dos suspeitos de derramar o petróleo que atinge cidades do Nordeste desde 30 de agosto. Segundo o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Humberto Barbosa, a embarcação fugiu da sua rota e navegou por águas internacionais no mesmo período em que o óleo que atinge o Nordeste teria sido derramado no mar.
O pesquisador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis/UFAL), disse que seu grupo tem compartilhado informações com uma Comissão Especial do parlamento e explicou que os especialistas vão apresentar as suspeitas em uma audiência pública nesta semana.
A equipe do Lapis/UFAL trabalha em hipóteses sobre o desastre desde o começo da crise. No fim de outubro, o grupo comandado por Barbosa apontou ter identificado uma mancha característica de óleo, na região sul da Bahia, com 55 km de extensão e 6 km de largura, a uma distância de 54 km da costa do Nordeste. Os pesquisadores suspeitavam que pudesse haver ligação entre o óleo e vazamento no pré-sal.
A Marinha analisou os dados e negou relação entre as imagens e o petróleo nas praias nordestinas. Em nota técnica, o Ibama descartou que o uso de satélites possa identificar o vazamento e negou que seja óleo a mancha vista no Sul da Bahia no dia 28 de outubro.
Pouco tempo depois, no início de outubro o grupo de pesquisa da UFAL localizou outra mancha, desta vez no litoral do Rio Grande do Norte, que poderia ter relação com o derramamento de óleo. A imagem, capturada no dia 24 de julho, mostraria uma mancha de um fluido, possivelmente petróleo, seguida por dois navios.
Agora, com base no novo desdobramento das pesquisas, Barbosa disse ao G1 que a identificação de um navio-tanque foi feita após um levantamento de informações de satélites que durou quase um mês. Ao todo, foram encontradas 111 embarcações que navegaram pela costa brasileira na região onde suspeitam que tenha ocorrido o vazamento.
"A primeira suspeita, é baseada na imagem do dia 24 de julho de 2019, que é uma grande mancha que está ali na costa do Rio Grande do Norte e que possivelmente está associada a um navio", disse o pesquisador.
"Criamos um filtro pra mapear toda a costa do estado e em função da data, chegamos a 111 navios que transportavam óleo cru."
O especialista em imagens de satélite disse que, entre as embarcações, uma apresentou um comportamento suspeito ao viajar com o sistema de comunicação desligado. Além disso, a equipe do laboratório investigou o itinerário do petroleiro e seu histórico.
A embarcação tem bandeira de um país asiático que Barbosa preferiu não identificar e percorre a rota Ásia-África-América com frequência, e transportava petróleo venezuelano. Além disso, o pesquisador destaca o que seria uma manobra "extremamente anômala" da embarcação, que parte em direção dos Estados Unidos antes de retornar à rota original.
O pesquisador preferiu não divulgar o nome da embarcação porque disse acreditar que a investigação não compete à universidade.
"A missão do Lapis foi levantar dados, transformar em informações e gerar conhecimento para que as autoridades possam investigar. (...) O laboratório não sente confortável em divulgar essas informações até que a gente converse com as autoridades." - Humberto Barbosa, pesquisador do Lapis/Ufal
Entretanto, o especialista dá pistas sobre a embarcação que recentemente passou pela costa com destino a Venezuela e agora está em seu trajeto de retorno ao país de origem contornando Guiana Francesa.
O petroleiro está sendo monitorado pela equipe de pesquisadores do laboratório e deve se aproximar ainda nesta semana da costa nordestina.
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G1