Muitos dos que protestam atualmente no Chile reclamam que seus salários não são suficientes para cobrir seus custos de vida.
Embora essa não seja a única razão por trás da convulsão social que tomou as ruas chilenas, há uma clara insatisfação com os altos preços de produtos e serviços essenciais e com a desigualdade que persiste apesar do crescimento econômico registrado nas últimas décadas, com a riqueza concentrada numa pequena parcela da população.
Depois que o governo enviou os militares para conter os protestos e o país mergulhou no caos por causa de uma crise que já deixou 18 mortos, o presidente Sebastián Piñera se desculpou pela sua "falta de visão" em cadeia nacional.
"É verdade que os problemas se acumularam por muitas décadas e que os diferentes governos não foram capazes de reconhecer essa situação em toda a sua magnitude", disse o presidente.
Então, Piñera anunciou uma série de reformas para tentar responder à crise e disse que o governo ouviu "as demandas legítimas" dos cidadãos, depois de cinco dias de manifestações pacíficas contra seu governo, que foram ofuscadas por cenas de violência, saques e tumultos em algumas partes do país.
O gatilho para os protestos foi o aumento da passagem no metrô de Santiago, para aproximadamente US$ 1,17 (R$ 4,72), uma medida que o governo posteriormente suspendeu.
Mas isso não deu fim às manifestações, que o Executivo tentou conter decretando um estado de emergência e um toque de recolher, algo que não se vê desde o fim do regime militar há três décadas.
Mas qual é o custo de vida no Chile em relação a outros países?
A mediana dos salários dos chilenos é de US$ 550 (R$ 2.220) por mês. Esse é o salário que 50% da população economicamente ativa recebe, enquanto o salário mínimo atual é de US$ 414 (R$ 1.671), de acordo com a Pesquisa de Renda Suplementar, preparada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
No caso de aposentados, a pensão média é de US$ 286 (R$ 1.154) mensais.
Essa tem sido uma das questões mais controversas dos últimos anos, porque a população está envelhecendo rapidamente, e o país tem um sistema privado de capitalização individual, em que o valor da pensão depende principalmente das economias feitas pelo cidadão.
Outro conceito que pode ser comparado é o salário mínimo pago em diferentes países da América Latina.
A tabela a seguir inclui os salários mínimos de países da região, em dólares. O mais alto é o pago no Panamá, seguido pelos de Costa Rica, Uruguai, Chile e Equador.
A lista também inclui salários ajustados pela paridade do poder de compra.
Em dólares (valores de 2018)
País | Salário mínimo | Salário mínimo ajustado pelo poder de compra |
---|---|---|
Panamá | 744 | 1.250 |
Paraguai | 370 | 853 |
Honduras | 371 | 746 |
Equador | 386 | 727 |
Guatemala | 384 | 699 |
Chile | 420 | 684 |
Bolívia | 298 | 672 |
Costa Rica | 463 | 668 |
Colômbia | 270 | 622 |
El Salvador | 300 | 610 |
Uruguai | 428 | 572 |
Peru | 283 | 558 |
República Dominicana | 236 | 543 |
Argentina | 356 | 514 |
Nicarágua | 179 | 474 |
Brasil | 243 | 383 |
Haiti | 161 | 373 |
México | 138 | 295 |
Venezuela | 45 | 82 |
No caso do Chile, depois da alimentação, o transporte é a segunda despesa mais importante das famílias, seguida pela habitação e serviços básicos, de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar.
Mas como os salários da maioria da população não são suficientes para cobrir as despesas mais comuns (que também incluem saúde, educação e outros), 60% das famílias gastam mais do que recebem como renda, o que explica por que existem tantas famílias endividadas.
Por isso, escolhemos alguns indicadores que ajudam comparar o custo de vida no Chile com os de outros países latino-americanos.
Com as informações fornecidas pelos correspondentes da BBC Mundo, selecionamos alguns dos produtos mais comuns no carrinho de compras em Santiago, Buenos Aires e Cidade do México.
Em dólares
Produto | Santiago | Buenos Aires | Cidade do México |
---|---|---|---|
1 kg de coxa de frango | 2,34 | 1,65 | 2,87 |
1 litro de leite integral | 0,94 | 0,61 | 1,09 |
1 kg de arroz | 1,09 | 0,61 | 0,68 |
1 kg de açúcar | 0,89 | 0,51 | 1,46 |
1 kg de massa | 0,78 | 1,15 | 1,3 |
1 kg de batata | 1,64 | 0,34 | 1,56 |
1 bisnaga de pão | 0,95 | 0,92 | 0,26 |
1 kg de maçã | 1,64 | 0,85 | 2,09 |
1 kg de tomate | 1,72 | 1,02 | 1,56 |
1 litro óleo vegetal | 1,38 | 0,75 | 1,04 |
1 dúzia de ovos | 2,19 | 1,5 | 1,2 |
4 rolos de papel higiênico | 1,17 | 1,62 | 1,04 |
1 barra de sabão | 1,24 | 0,59 | 0,52 |
1 pacote de absorventes | 1,36 | 1,62 | 1,04 |
1 tubo de pasta dental | 1,38 | 1,6 | 0,73 |
A centelha que provocou os protestos no Chile foi o aumento da passagem do metrô em Santiago, para aproximadamente US$ 1,17 (R$ 4,72), uma medida que o governo posteriormente suspendeu.
A lista a seguir considera o valor de uma passagem no transporte público a partir de uma média das tarifas de ônibus, metrô e trem. A média em Santiago é semelhante à de cidades internacionais como Hong Kong e superior à de Moscou.
No caso específico das tarifas de metrô, o preço de uma passagem no Chile durante o horário de pico é de US$ 1,10. Estas são as tarifas do metrô em algumas outras capitais da América Latina (em dólares):
Capital | Passagem (em dólar) |
---|---|
Brasília | 1,22 |
Santiago | 1,1 |
Medellín | 0,74 |
Cidade do Panamá | 0,5 |
Santo Domingo | 0,37 |
Buenos Aires | 0,32 |
Cidade do México | 0,26 |
Lima | 0,44 |
No início deste mês, as contas de eletricidade chilenas aumentaram 9,2% em média. Na capital, o aumento atingiu 10%.
O primeiro aumento, em maio deste ano, foi de 10,5%, portanto o aumento médio acumulado em 2019 subiu para 19,7%.
Considerando a tarifa residencial de eletricidade — medida pelo valor em megawatt/hora (em dólares) — o Uruguai tem o preço mais alto da América do Sul, seguido por Brasil e Chile.
Os dados a seguir fazem parte de um estudo realizado pela consultoria SEG Ingeniería, que inclui exclusivamente Uruguai, Brasil, Chile, Argentina e Paraguai. Por esse motivo, é apenas uma aproximação parcial dos custos de energia elétrica na região.
Em dólares por megawatt por hora (US$/MWh)
País | Preço |
---|---|
Uruguai | 256 |
Brasil | 208 |
Chile | 186 |
Argentina | 119 |
Paraguai | 66 |
A Superintendência de Serviços Sanitários do Chile fez um estudo comparativo da taxa por metro cúbico de água potável e saneamento em 2017 em algumas cidades do mundo.
Segundo o relatório, o preço em Santiago é de US$ 1,45 (R$ 5,85) por m3, um valor que excede o de muitas cidades da América Latina, mas está abaixo da tarifa média de países mais desenvolvidos.
Em dólares.
Cidade | País | Tarifa por metro cúbico |
---|---|---|
San Salvador | El Salvador | 2,05 |
Rio de Janeiro | Brasil | 2,04 |
Bogotá | Colômbia | 1,48 |
Santiago | Chile | 1,45 |
Cali | Colômbia | 1,44 |
Montevidéu | Uruguai | 1,26 |
La Rioja | Argentina | 0,69 |
Assunção | Paraguai | 0,53 |
Cidade da Guatemala | Guatemala | 0,49 |
Puebla | México | 0,48 |
Segundo um estudo da consultoria americana IMS Health (IQVIA) publicado em 2018, o valor médio de um medicamento vendido ao público no Chile é de US$ 9,30 (R$ 37,51), 23% mais barato que no resto da América Latina.
Mas quando se trata de medicamentos originais, que detêm uma patente comercial de um princípio ativo, é o país com o preço médio mais alto da região: US$ 28,50 (R$ 115).
Criado em 1986 pela revista britânica The Economist, o índice Big Mac compara o preço deste sanduíche vendido pelo McDonald's em diferentes países.
Segundo o índice de 2019, o Brasil é o país da América Latina com o Big Mac mais caro da região, com um preço aproximado de US$ 4,50 por unidade, enquanto no Chile é de US$ 3,90.
Preço do sanduíche em dólares.
Alguns países não foram incluídos no índice, como é o caso da Bolívia, um mercado em que a rede McDonald's parou de operar por falta de rentabilidade ou o da Venezuela, que foi temporariamente excluído do índice devido à crise que o país enfrenta.
O preço dos combustíveis é uma das questões mais sensíveis para o bolso dos consumidores, sejam eles proprietários ou não de um veículo.
O que é pago pelo combustível não apenas determina quanto gasta uma pessoa que usa seu carro, mas também influencia os preços das mercadorias e, por exemplo, o transporte de pessoas e produtos.
O preço médio da gasolina comum na América Latina é de cerca de US$ 0,86 (R$ 3,47) por litro, de acordo com o índice Global Petrol Prices com base em dados de 30 de setembro de 2019.
Na região, existem casos extremos, porque, na Venezuela, o custo é de US$ 0,001 por litro, enquanto no outro extremo, o Uruguai é o país onde se paga mais por litro, chegando a US$ 1,49 (R$ 6).
País | Preço por litro (US$) |
---|---|
Argentina | 0,84 |
Bolívia | 0,54 |
Brasil | 1,05 |
Chile | 1,15 |
Colômbia | 0,71 |
Costa Rica | 1,08 |
Cuba | 0,09 |
Equador | 0,63 |
El Salvador | 0,88 |
Guatemala | 0,9 |
Hondruas | 0,99 |
México | 1,05 |
Nicarágua | 0,99 |
Panamá | 0,8 |
Paraguai | 1,04 |
Peru | 1,09 |
Porto Rico | 0,84 |
República Dominicana | 1,13 |
Uruguai | 1,49 |
Venezuela | 0,001 |
Preço médio | 0,8646 |