A Petrobras informou ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que irá cancelar o contrato mantido com o escritório dele, de acordo com reportagem publicada na noite desta terça-feira (6) pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
Segundo o jornal, o escritório de Santa Cruz atuava em causas trabalhistas e, no ano passado, venceu causa estimada que evitou um pagamento, pela Petrobras, de R$ 5 bilhões em horas extras atrasados a funcionários embarcados nas plataformas de petróleo.
Ao jornal, Santa Cruz disse que entrará na Justiça com uma ação para reparação de danos. "Há claramente uma perseguição política em curso", afirmou.
A Petrobras informou que não irá comentar o assunto.
Santa Cruz foi alvo de um comentário do presidente Jair Bolsonaro na semana passada. Bolsonaro disse na ocasião que "um dia" contará ao presidente da Ordem como o pai do advogado desapareceu na ditadura militar, caso a informação interesse ao filho.
Segundo afirmou Bolsonaro na ocasião, Santa Cruz "não vai querer saber a verdade" sobre o pai. Depois, disse que Fernando Santa Cruz foi morto por companheiros da Ação Popular (AP), organização de esquerda na qual ele militava e classificada pelo presidente como "grupo terrorista".
Documentos da Comissão da Verdade, da Marinha e da Aeronáuticaindicam que o militante foi preso por agentes do regime militar um dia antes da data em que morreu.
O atestado de óbito diz que ele teve morte "morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985".
Santa Cruz entrou no STF na última quarta-feira (31) com um pedido de explicações. O ministro Luís Roberto Barroso deu 15 dias para que Bolsonaro, caso queira, se manifeste.
Na peça judicial, Felipe Santa Cruz afirma que não é a primeira vez que Bolsonaro o ataca e tenta desqualificar a memória do seu pai.
O presidente da OAB diz que o pai foi vítima de desaparecimento forçado praticado por agentes da ditadura, o que “foi oficialmente reconhecido pelo próprio Estado brasileiro, em reiteradas oportunidades”.
“As ofensas à memória de Fernando de Santa Cruz, bem como o contexto intimidatório da fala, parecem sugerir que o Exmo. Sr. Jair Bolsonaro pretende ofender diretamente o Requerente em sua dignidade e decoro, bem como desqualificar sua reputação. Embora ainda equívoca, pois situada na fronteira entre a bravata e a intimidação, a fala do Presidente da República aparenta poder se subsumir à figura típica de injúria e contra Felipe Santa Cruz”, escreveu.
G1