O presidente da ABDI, Guto Ferreira, afirma que a cidade vai contribuir com a evolução dos meios de transporte, além de abrir caminho para o ingresso da alta tecnologia no dia a dia das pessoas. “É muito importante demonstrar as soluções em ambiente real, numa cidade com características que permitam a avaliação dos resultados para a população e para a indústria associada”, diz. “E, entre as soluções, o compartilhamento de veículos elétricos se encontra em fase mais madura, com testes sólidos no Parque Tecnológico e na Itaipu Binacional. A ABDI tem como objetivo mudar o pensamento da nossa sociedade para que as novas tecnologias tenham mais aderência. O compartilhamento de veículos elétricos é uma delas, é o futuro da nossa mobilidade.”
A tecnologia está transformando a forma como os trens trafegam pelos trilhos. Sistemas de comunicação inovadores, softwares de previsão e monitoramento, detectores de trilhos e aplicativos tornaram mais eficazes e rápidas as avaliações e os reparos de segurança da ferrovia.
Arnaldo Soares, gerente-geral de Engenharia de Transportes da MRS (Malha Regional Sudeste), ressalta o que já é realidade na ferrovia. “Locomotivas passaram a ter eletrônica embarcada, com motores de corrente alternada. Existem detectores de descarrilamento, para paralisar a composição quando identificado o problema. O controle é remoto”, conta. Até o fim do ano, a empresa deve implantar automação onde os perfis dos trilhos têm muitas rampas. “O trem é feito para terrenos mais planos”, explica. A MRS também tem projeto de transformar a operação nos pátios adjacentes por controle remoto.
“Parece que a ferrovia tem baixa tecnologia agregada, mas, na verdade, estamos dando saltos. Conseguimos passar de 40 milhões de toneladas, em 1996, para 175 milhões no ano passado, na mesma linha de 1,6 mil quilômetros, graças à implementação tecnológica para aumentar produtividade, processos de trabalho e segurança”, afirma.
A MRS usa um sistema pioneiro, chamado Comunication Basic Train Control (CBTC), um circuito ao longo de toda a ferrovia que faz a supervisão do que está ocorrendo. “Se o maquinista estiver fazendo errado, o sistema toma o controle”, frisa. A companhia tem vários laboratórios. “Só inovando para conseguir ganhos”, ressalta. Outro projeto, o Trip Optimizer, está sendo validado. “No trajeto, o Trip opera de forma autônoma, com foco em economizar combustível, mas precisa de ajuste.”
Além da MRS, empresas como Rumo e VLI apostam em inovação. Na Rumo, softwares de previsão e monitoramento conseguem antecipar complicações e reduzir ocorrências em todas as malhas. A empresa inovou patenteando projetos como o Detector de Trilhos Quebrados (DTQ) e o aplicativo Chave na Mão, que tornaram mais eficazes e rápidos avaliações e reparos de segurança da ferrovia. “O DTQ é uma tecnologia inédita no Brasil. O aparelho é instalado em trechos de até 8km. Quando o trem passa pelos locais monitorados, as condições dos trilhos são repassadas para o Centro de Monitoramento de Redes. Se for identificada uma anomalia no trilho, o maquinista é informado em tempo real, eliminando o risco de descarrilamento”, informa a Rumo.
A VLI, por sua vez, tem um plano estruturado de transformação digital com mais de 100 iniciativas em desenvolvimento. “Temos sistemas de alta complexidade, dinâmicos e com um volume crescente de variáveis em tempo real. Ao empregar novas tecnologias, como o uso de inteligência artificial e machine learning, conseguimos processar dados com agilidade e tomar decisões baseadas em evidências e em cenários melhores”, explica.
Obstáculos aos avanços no Brasil
As pesquisas na área de veículos autônomos não são novas, mas a aplicação prática para os projetos ganharem escala comercial ainda encontra obstáculos no Brasil. O caos do trânsito e a legislação vigente emperram o avanço de carros, ônibus e caminhões autômatos. Na visão de especialistas, é questão de tempo para tomarem as ruas. Mas a revolução que a inteligência artificial provoca nos transportes não se limita ao modal rodoviário e às alternativas de mobilidade. A inovação também está sobre trilhos, entre as nuvens, flutuando nas águas e atracada nos portos.
As pesquisas na área são desenvolvidas há mais de 20 anos. Países como Estados Unidos, França, Japão e Alemanha investem pesado para reduzir o número de acidentes e tornar o fluxo no trânsito mais eficiente. O professor André Monteiro, especialista em desenvolvimento de soluções em inteligência artificial do Instituto de Gestão e Tecnologia da Informação (IGTI), afirma que a tecnologia é cada vez mais popular em termos globais. “No Brasil, tem a questão legislativa, por isso a demora”, justifica. “Além disso, a computação é complexa para o veículo tomar a decisão acertada no trânsito, e tudo passa pela conectividade. Os equipamentos têm cada vez mais capacidade para coletar dados, mas a rede disponível ainda não é ideal. A conexão tem de ser muito eficaz”, acrescenta.
Apesar de parecer coisa do futuro, o desenvolvimento na tecnologia de carros autônomos começou em 2007 no Brasil. Dois anos depois, o Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAD) da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) começou o projeto Iara (Intelligent Autonomous Robotic Automobile), liderado pelo professor Alberto Ferreira de Souza. Inicialmente, eram estudos de visão computacional e robótica móvel em ambientes simulados e dados de sensores reais, em tarefas de mapeamento, localização, detecção e reconhecimento por meio de imagens de câmeras.
Em 2012, um carro Ford Escape Hybrid foi adaptado para permitir o controle do sistema de acionamento de volante, acelerador, freios, entre outros dispositivos do veículo, por meio de sistemas computadorizados desenvolvidos pelo projeto Iara. Desde então, as pesquisas avançaram bastante, e Iara está cada vez mais completo.
O professor explica que a aplicação prática esbarra no Código de Trânsito Brasileiro, que determina que o motorista precisa estar com as duas mãos no volante.
O pesquisador também está desenvolvendo projeto para BRT autônomo, ônibus que usa pista exclusiva. “O grande gargalo é o caminhão, mas a tecnologia está pronta. Até o fim de 2020, estará operando um caminhão autônomo para a Vale usar em local interno”, antecipa.
Projeto
O Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), câmpus São Carlos, também tem projetos de veículos autônomos coordenados pelos professores Denis Wolf e Fernando Osório, ambos do Laboratório de Robótica Móvel do ICMC. O projeto Carina (Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma) foi desenvolvido para navegar em ambientes urbanos sem a necessidade de um condutor humano. Em 2013, houve uma demonstração pública de navegação autônoma nas ruas de São Carlos.
“Para que a autonomia funcione, é necessário que os algoritmos desenvolvidos sejam rápidos o suficiente a fim de o computador tomar decisões corretas em curto intervalo de tempo”, explicam os pesquisadores. A universidade também desenvolveu, em parceria com a Scania, um protótipo de caminhão autônomo, fruto de convênio de cooperação tecnológica firmado em 2013 entre a montadora sueca e o ICMC. Ao todo, foi destinado ao projeto R$ 1,2 milhão, e a Scania disponibilizou dois caminhões para a realização da pesquisa.
Inovações nos portos
A velocidade nas operações de embarque e desembarque de cargas nos navios é fundamental, por isso, reduzir o tempo que as embarcações ficam paradas nos portos é alvo de pesquisas contínuas. Em Cingapura, já existe um porto totalmente automatizado. No Brasil, isso ainda não é realidade, mas a tecnologia avançou muito, tanto nos navios quanto nos terminais, explica Murillo Barbosa, presidente da Associação dos Terminais Portuários Privados (ATP).
A inteligência artificial e navios autônomos passam por fase de experiência para redução de gás carbono e economia de combustível. “Já estão em teste na Alemanha. No Brasil, ainda não estamos tão evoluídos, mas existem inovações importantes”, diz. A Portonave, que opera em Navegantes (SC), substituiu todos os guindastes que fazem a movimentação nos pátios, antes a diesel, por veículos elétricos.
Segundo a empresa, com a implantação do sistema Busbar System (barramento de transporte de energia), 18 equipamentos passaram a ser alimentados com energia elétrica, com investimentos de R$ 25 milhões. “Com o projeto, foi observada uma redução anual em torno de 87% das emissões dos gases de efeito estufa (GEE).”
A cabotagem de madeira realizada na região sul da Bahia, pela Suzano Celulose, opera com sistema pioneiro. Desde 2018, a operação conta com guindastes gigantes, substituindo máquinas carregadeiras de pequeno porte que precisavam entrar na barcaça. Foram investidos mais de R$ 60 milhões. O novo modelo é responsável por dobrar de 25% para 50% a participação no abastecimento de madeira da fábrica de celulose em Aracruz. “São contribuições importantes para o setor”, assinala Murillo Barbosa.
Aeronaves futuristas
Da indústria aeronáutica saem as tecnologias mais modernas, que resultam em aplicações presentes no cotidiano. No Brasil, a Embraer é responsável pelos projetos mais inovadores. A EmbraerX, subsidiária para negócios disruptivos da companhia, foca esforços colaborativos para ativar e acelerar a mobilidade urbana.
A empresa apoia o desenvolvimento de um ecossistema colaborativo permitindo que as pessoas imaginem um mundo em que os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (eVTOL) farão parte do dia a dia. Em parceria com dezenas de controladores de tráfego aéreo, acadêmicos, pilotos e especialistas do setor, a empresa publicou o “FlightPlan 2030”. O projeto propõe uma visão baseada em procedimentos para um novo paradigma de gerenciamento de tráfego aéreo com vistas ao futuro da indústria de mobilidade aérea urbana.
“A mobilidade aérea urbana evoluirá para se tornar um meio de transporte significativo na próxima década e exigirá um ecossistema verdadeiramente colaborativo”, ressalta Antonio Campello, presidente da EmbraerX. “Nosso conceito de Gerenciamento de Tráfego Aéreo Urbano (UATM, na sigla em inglês) garante acesso equitativo e seguro ao espaço aéreo urbano para um amplo espectro de aeronaves, incluindo helicópteros convencionais, aeronaves de asa fixa e eVTOLs. O FlightPlan 2030 apresenta o que acreditamos serem os primeiros passos necessários em direção às capacidades autônomas.”
O novo conceito foi apresentado durante o Uber Elevate Summit 2019, em Washington, nos Estados Unidos, em junho deste ano. O evento reuniu uma comunidade global de fabricantes, investidores e representantes governamentais com o objetivo de tornar realidade a mobilidade aérea urbana compartilhada.
A companhia também anunciou uma parceria entre Embraer e WEG, duas das maiores exportadoras de produtos manufaturados de alta tecnologia do Brasil. Elas divulgaram acordo de cooperação científica e tecnológica para desenvolvimento de soluções capazes de viabilizar propulsão elétrica em aeronaves. O objetivo é aumentar a eficiência energética desses veículos a partir da integração de motores elétricos.
Correio Braziliense