De acordo com dados do Unicef, mais de 175 milhões de crianças não estão matriculadas na educação infantil ao redor do mundo. Isso significa que apenas 1 em cada 5 crianças frequenta a escola em países pobres ou em desenvolvimento.
Os dados são do primeiro relatório global realizado pela instituição, apresentado nesta segunda-feira (8).
O documento A World Ready to Learn: Prioritizing quality early childhood education (Um mundo pronto para aprender: Priorizando a educação infantil de qualidade), ainda mostra que o Brasil não conseguiu alcançar a meta de universalizar o acesso à pré-escola proposta pelo Plano Nacional da Educação (PNE) .
De acordo com Ítalo Dutra, chefe da área de Educação do Unicef Brasil, o relatório deixa claro a necessidade de investimento na educação na primeira infância.
“Esse investimento é o que vai garantir o desenvolvimento e a aprendizagem ao longo da vida da criança e do adulto. O nosso objetivo é fazer um esforço em conjunto com o poder público para compreender por que crianças de zero a 5 anos não estão frequentando escolas e creches”, explicou o especialista ao HuffPost Brasil.
No País, apenas 32,7% das crianças de até 3 anos frequentavam a creche em 2017. Entre os principais motivos apontados pelos responsáveis para a não frequência à pré-escola estão a dificuldade de acesso, a falta de vaga ou a inexistência de escola na localidade da moradia.
Mas um grande percentual - 53% ou cerca de 1,4 milhão de pais ou responsáveis - não queria que a criança frequentasse a instituição.
“Se os próprios pais não querem as crianças na escola, isso é um indicativo de não compreensão acerca do que a oferta da educação infantil pode fazer por seus filhos. Ou até a crença na pouca qualidade da educação que tem sido oferecida”, explica Dutra.
Entre as crianças de 4 e 5 anos, 91,7% estavam na pré-escola em 2017, totalizando quase 4,9 milhões.
Embora esse percentual venha crescendo, o aumento não foi suficiente para que o Brasil alcançasse a universalização da pré-escola em nenhuma das regiões do País.
“A gente tem cada vez mais famílias chefiadas por mulheres no Brasil e a gente tem um esforço grande a ser feito no sentido de ampliar essas matrículas e a qualidade do que será oferecido, porque a criança fora da creche não atinge só o desenvolvimento da criança, mas toda uma organização familiar. É preciso entender como estão sendo desenhadas as redes de apoio paralelas e como o poder público pode trabalhar para melhorá-las”, diz Dutra.
Para combater a exclusão escolar no País, o Unicef trabalha com o projeto de Busca Ativa Escolar, uma plataforma para apoiar os governos na identificação, no registro, controle e acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão.
Por meio dela, os municípios e os Estados poderão obter dados concretos para planejar, desenvolver e implementar políticas públicas que contribuam para a inclusão escolar.
“Não é só fazer campanhas de matrículas. É preciso ir atrás das famílias que não têm conhecimento nem de como elas acessam os serviços”, afirma Dutra.
Neste sentido, o especialista em educação teme que a falta de direcionamento no Ministério da Educação - cujo ministro, Ricardo Vélez, foi demitido nesta segunda-feira (8) - acabe por alienar as propostas da primeira infância.
“O plano de governo de Jair Bolsonaro citou dados da Unicef que reconhece o problema da exclusão escolar. No entanto, ainda não foram apresentadas ações claras para lidar com as consequências disso, desde a falta de vagas até o transporte adequado. Também é preciso uma proposta para a implementação da base comum curricular que seja eficiente”, explica.
Para o Unicef, os governos deveriam investir pelo menos 10% de seus orçamentos nacionais de educação para ampliar a educação infantil e investir em professores, principalmente em regiões de vulnerabilidade social. No Brasil, a região Norte é a mais atingida pela falta de acesso a creches e pré-escolas.