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Alagoas
17/03/2019 11:00:00

É cada vez maior a quantidade de mulheres que engravidam após os 35 anos em AL


É cada vez maior a quantidade de mulheres que engravidam após os 35 anos em AL

"Foi uma surpresa. Eu não esperava porque não senti nada, nem mesmo enjoo. A minha menstruação parou, mas eu achei que estava ligado ao emocional. Porém, com o passar do tempo, senti as roupas começarem a apertar. A partir daí, eu cismei e fui na médica pedir um exame", relatou Maria de Fátima Santos de Menezes, de 53 anos, sobre a época em que descobriu que estava grávida aos 44 anos. 

Essa é uma realidade que está se tornando constante na vida de diversas mulheres que desejam se tornar mamães de primeira viagem apenas após os 35 anos - período considerado de risco -, por escolha ou não. Elas quebram o tabu ao priorizar cada vez mais o empoderamento e a independência. 

 

Algumas delas almejam a estabilidade financeira e outras pretendem 'subir os degraus' na conquista de um cargo maior dentro da empresa em que trabalham. Um terceiro grupo espera pelo parceiro ideal e, até mesmo, há aquelas em que o aspecto estético é posto como um fator importante a se pensar. 

Contudo, especialistas concordam que não há benefícios físicos com uma gravidez tardia e, sim, uma série de riscos à saúde dos bebês e das mamães durante a gestação. O obstetra, ginecologista e coordenador do curso de medicina da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), Alberto Sandes, afirma que a quantidade de mulheres 'parindo' tardiamente está cada vez maior em Alagoas. 

"A mulher corre atrás do tempo desde o momento em que respira aqui fora na terra. Ela já nasce com as células reprodutivas prontas nos ovários, diferente dos homens que estão produzindo. Todos os meses, a mulher perde cerca de 25 a 20 células reprodutivas, o que é muita coisa. Quando chega aos 40 anos, a qualidade dessas células reprodutivas, popularmente conhecidas como óvulos, já está envelhecida. Então, 90% desses óvulos já estão comprometidos em mulheres de 40 anos, podendo, assim, ter alguma alteração genética", explicou. 

 

Mulheres quebram o tabu ao priorizar cada vez mais o empoderamento e a independência 

FOTO: REPRODUÇÃO/IGOSPEL

 

 

O obstetra ainda acrescenta que as futuras mães precisam entender a diferença dela em relação ao homem no processo da reprodução, visto que, na maioria das vezes, ela é considerada como culpada das alterações genéticas por estarem com uma idade avançada. 

Entretanto, o que poucos sabem é que o espermatozoide não tem a mesma qualidade em homens com mais de 35 anos. E, acima dos 40, a situação não melhora, pois os fatores de risco para síndromes nos filhos é elevadíssimo. 

"O homem produz espermatozoide todos os dias, se ele vai durar 200 anos, esse homem vai produzir durante os 200 anos. Não quer dizer que este espermatozoide seja de qualidade, esse é um ponto importante. Então, esse espermatozoide também é um fator de alteração genética. Na hora que se faz aconselhamento genético e é conversado sobre questões da fertilização do casal, isso tem que ser colocado de forma aberta".

Diante disso, a Revisão da Projeção de População, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em julho de 2018, mostra que Alagoas terá uma redução na população antes de 2048. Isso, conforme aponta o levantamento, acontece devido às taxas de fecundidade - estimativa em relação ao número médio de filhos que uma mulher poderia dar à luz.

Assim como a Região Norte e o estado do Maranhão, Alagoas possui índices de fecundidade total mais elevadas, no entanto, se situam mais tardiamente na transição da produtividade. Por isso, a idade média da população em Alagoas é de 30 anos. 

Uma segunda pesquisa realizada pelo Instituto revela que dos 2,86 milhões de nascimentos registrados no país no ano de 2017, em 35,1% dos casos a mãe tinha 30 anos ou mais de idade na ocasião do parto. Os dados da Estatísticas do Registro Civil também confirmam um aumento de 9,4% no número de mulheres que engravidam mais tarde ao fazer o comparativo com 2007. Neste ano, o mesmo levantamento mostrou que em 25,7% dos nascimento a mãe tinha mais de 30 anos.

PERIGOS DOS 35 

Uma vez que a autonomia feminina bateu na porta da maternidade, as mulheres atrasaram em alguns anos a emoção de estar grávida, vivenciar o bebê chutar pela primeira vez, sentir o amor à primeira vista, segurar o filho, vê-lo andar, crescer e se desenvolver. Embora que, mesmo realizando um sonho, a tranquilidade não seja o ponto alto da gestação.

Em outras palavras, obstetras alertam que uma série de riscos estão atrelados a gravidez depois dos 35 anos, como: diabetes gestacional e, consequentemente, pode progredir para uma diabetes crônica do tipo 2; ter um trabalho de parto prematuro e suas complicações; hemorragias; quadros de urgência e emergência - exemplo disso é quando acontece o deslocamento de placenta; doenças autoimunes; rupturas prematuras de membranas; malformações e abortos. 

 

Yara perdeu o bebê após ter um estresse com um aluno

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Este último aconteceu com a professora Yara Cavalcante, de 48 anos. Ela relatou que vinha planejando mais um filho com o companheiro há um tempo. "Eu e o pai queríamos muito, estávamos tentando e, depois, descobrimos que fomos agraciados. Como eu fui em um ginecologista no início de 2018 para exames de rotina e não tinha nenhum problema, não procurei o médico imediatamente. Mas, sim, a gravidez era um desejo dos dois".

 

A mamãe de terceira viagem ressaltou que estava feliz e preparada para a jornada, já que é mãe de Júnior, de 25 anos, e de Lucas, de 16 anos - segundo filho que deu à luz aos 32 anos. No entanto, Yara acabou perdendo o bebê após ter um estresse com um aluno e começar a sangrar. 

Sandes observa que o estresse pode ter desencadeado algum outro fator e provocado o aborto. "Os níveis de estresse de cada pessoa leva a liberação de um hormônio chamado de cortisol. Se a mãe estiver com algum fator predisponente ao abortamento, o cortisol faz com que piore a probabilidade de perder o bebê." 

Outras doenças que acometem as progenitoras são as tromboembólicas, como a trombose venosa profunda - causada pela formação de coágulos no interior das veias. O obstetra ressalta que, se as complicações dela forem estudadas a fundo, será constatado uma presença maior do que os diagnósticos mostram atualmente. 

"Uma mulher jovem e grávida tem 20 vezes mais chances de ter trombose do que uma mulher não grávida. Então, imagine uma mulher mais velha e grávida, aumenta mais seis vezes a chance dela ter uma trombose", adverte. 

Muitas mulheres, que conhecem as ameaças dos 35 anos, também avaliam a possibilidade do bebê vim ao mundo sindrômico, como acontece quando as crianças nascem com Síndrome de Down. As células maternas começam a envelhecer após os 35 anos e aumentam as chances do desenvolvimento da doença, que promove alterações genéticas no cromossomo 21, esclarece o obstetra. 

A fim de exemplificar, ele ainda apresenta dados que revelam o aumento das chances do caso acontecer com uma mulher acima dos 40 anos. Portanto, aos 30 anos, a mamãe pode ter um bebê sindrômico em uma estatística de um para mil. Já acima dos 40 anos, o número é de um para 100. Quando atinge a faixa dos 45 e 49 anos, o índice muda e a cada 10 bebês um pode de nascer sindrômico. 

 

Fátima, que desenvolveu hipertensão gestacional, com as duas filhas 

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Por fim, os médicos alertam às futuras mamães sobre os quadros hipertensivos gestacionais, que fazem parte dos riscos e podem aparecer em algum momento dos nove meses de gestação. Segundo Sandes, as complicações do aumento na pressão mais conhecidas são: as pré-eclampsias - quando a mãe convulsiona - e a Síndrome de Help - quando ocorre o desenvolvimento de uma modificação hepática e renal. 

 

Maria de Fátima, citada no início da reportagem, desenvolveu hipertensão gestacional quando teve a filha em 2009. Ela, que já era mãe de Pâmella Menezes, que tinha apenas 12 anos, salientou que a doença surgiu devido a um problema ligado ao trabalho, pois a vida era muito 'corrida' e a chegada de um novo membro não poderia provocar nenhuma mudança na rotina.

"A Paolla, que hoje tem nove anos, não foi planejada. Na época, eu até estava um pouco depressiva por conta de problemas pessoais com um negócio meu. Eu tinha muitas vendedoras, mas acabei ficando com dívidas. Engravidei enquanto passava por isso, então toda a gestação foi cercada por preocupações", disse, ao acrescentar que continuou internada na maternidade por mais cinco dias para tratar a hipertensão.

Em relação ao parto, o obstetra explica que o risco no processo depende das particularidades de cada caso. De acordo com ele, desde março de 2016, o Conselho Federal de Medicina (CFM) sugere que todas as mulheres tenham o direito de escolher se desejam passar por um parto normal ou cesáreo. 

"Eu costumo dizer que o melhor parto é o que todos saem felizes. A gente tenta aconselhar essas mães a fazerem o melhor parto para ela. Mulher não é só corpo. Não adianta pegar uma que sofreu um estupro, abuso sexual ou violência doméstica para realizar um parto natural que, muitas vezes, vai ser frustrado. Então, essa mulher deve ser conduzida e receber explicações sobre os prós e os contras de cada parto", orientou. 

 

Hipertensão gestacional pode gerar duas complicações: pré-eclampsia e Síndrome de Help

FOTO: REPRODUÇÃO

 

 

EFEITOS EMOCIONAIS

Desde jovens, as mulheres são condicionadas a almejar e planejar uma gravidez ao lado dos companheiros. Essa forma de vida vem mudando e tornando a escolha de ser mãe cada vez mais atrasada. Entretanto, tanto quando mais jovens ou como mais maduras, o que permanece é o mesmo sentimento de ansiedade e expectativa sobre o novo. 

É deitar na cama e alisar a barriga enquanto imagina o rostinho do filho, a inquietação que sente no momento em que o médico diz: 'preciso de mais exames, a agonia que tira o sono com a chegada de cada ultrassom ou a pressão que as pessoas ao redor põe sobre a mamãe de primeira viagem. 

Com isso, o professor e psicólogo Hélton Walner explica que a gravidez, além de ser um evento orgânico puramente da mulher, é também um fenômeno social sobre o qual incidem diferentes discursos, como: o médico, psicológico, familiar, social e político. Além disso, esses discursos não são iguais e, por vezes, soam como contraditórios e carregados de julgamento.

"A mulher entra numa gravidez carregada de expectativas individuais e coletivas: daquilo que acredita ser uma gestação, dos impactos que essa gestação pode ter em sua vida e daquilo que recebe enquanto resposta dos familiares e das pessoas próximas. Assim, os fatores emocionais do período gestacional, seja ele em período de risco ou não, devem ser considerados em associação com a história de vida dessas mulheres e suas expectativas estabelecidas sobre a gravidez", frisou.

 

Psicólogo aconselha que gestantes mantenham um acompanhamento adequado

FOTO: GETTY IMAGES

O especialista ainda acrescenta que a forma como as gestantes esperam pode aumentar ou diminuir os riscos nos nove meses. Por isso, é aconselhável manter um acompanhamento adequado para evitar as potenciais chances de agravar o quadro de saúde da mulher e do bebê.

 

 "Talvez você já tenha ouvido falar de casos em que as mulheres engravidam para manter seus casamentos, ou que engravidam sem programação prévia e, por isso, precisam reprogramar suas vidas. Todos esses são casos nos quais as mulheres vivenciam conflitos emocionais, algumas vezes com a presença de sinais e sintomas de adoecimento psíquico mais graves", salientou. 

CUIDADOS IMEDIATOS

Quando a mulher descobre a gravidez, vai ao médico e toma conhecimento sobre os diferentes perigos que a gestação tardia pode trazer, uma palavra deve segui-la até o dia do parto: prudência. Dessa forma, o aconselhável é procurar um obstetra de confiança e que tenha experiência com o alto risco para acompanhá-la do início ao fim. 

Alberto Sanders aponta que diversos cuidados já podem ser colocados em prática antes mesmo de um aconselhamento médico. Um deles é a ingestão de uma quantidade elevada de água, porque a gestação pede um aporte maior do fluído. Além disso, deve parar o consumo de qualquer bebida alcoólica. Ela provoca alterações cerebrais e retardo mental na criança e síndromes de dependência e abstinência nas mamães. 

Inclusive, as gestantes precisam cuidar da pele ao utilizar protetores solares de, no mínimo, fator 40. Tomar 'banho' solar nos horários indicados para a absorver vitamina D, que está relacionada a diminuição do parto prematuro e a menores fatores de riscos para o autismo. Evitar utilizar medicações sem prescrição médica, mesmo que para coibir dores de cabeça e enjoos. Diminuir a ingestão de cafeína, presente não apenas no café, mas também em chás ou chocolates e suspender o hábito de fumar. 

Em sequência, usar repelente e vestir roupas mais claras que não atraiam os insetos ou evitar o contato com áreas endêmicas, como bairros que tenham o maior acúmulo de lixo e regiões lagunares. Além de tudo, manter-se atenta ao manusear equipamentos perigosos e cortantes, já que as grávidas costumam ficar mais sonolentas e indispostas.

 

Alberto Sandes aponta que número de mulheres 'parindo' tardiamente está cada vez maior em Alagoas

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Para completar, necessita começar imediatamente o consumo de ácido fólico. Atualmente, conforme Sandes, o Brasil padronizou o uso de apenas um comprimido ao dia. 

 
"A gestação deve ser conduzida de forma diferente e especial. O ideal é usar pelo menos três meses antes da gravidez, mas, se descobriu de forma acidental, já pode comprar em uma farmácia. O consumo de ácido fólico previne alterações no sistema nervoso. A mais frequente é a espinha bífida - alteração que ocorre na coluna vertebral. Usar a vitamina é praticamente obrigatório em todas as redes, sendo privadas, públicas ou suplementares."

 

Para perpetuar o bem-estar do mãe e do bebê do início ao fim, toda grávida deveria ter o acompanhamento de uma equipe multiprofissional composta por um nutricionista, psicólogo, fisioterapeuta, educador físico e um cirurgião-dentista.  

"Costumo dizer que não se faz mais medicina sozinha. Hoje, a saúde bucal da paciente também está associada a desfechos positivos e negativos. Um simples tártaro leva a uma gengivite que pode ser a causa de um parto prematuro. Um médico obstetra vai orientar e direcionar para especialidades quando ocorrer algumas alterações no caso", afirmou o obstetra.

Foi o que aconteceu com Fátima Menezes. Ela relatou que possui asma ligada ao sistema nervoso e sempre se consultou com um pneumologista - responsável por investigar doenças relacionadas ao aparelho respiratório - para deixar a saúde em dia. 

"Quando eu descobri que seria mãe de novo, marquei um encontro com uma obstetra e perguntei se os remédios para asma afetariam o bebê. Ela indicou que eu voltasse para o pneumologista, que tirou todas as dúvidas em relação ao medicamento que eu tomo", contou.

Yara Cavalcante, mãe de Júnior, de 25 anos, e de Lucas, de 16 anos, perdeu o terceiro filho aos dois meses de gestação

FOTO: ARQUIVO PESSOAL
 
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