Durante a cobertura do primeiro dia de carnaval, o jornalista Roberto Kovalick foi criticado nas redes sociais ao chamar de mulata uma das passistas que se apresentava no sambódromo de São Paulo, na sexta-feira (1).
A escola Colorado do Brás fez uma homenagem ao país africano Quênia e a miscigenação em seu desfile.
“Duas passistas que vão encantar a avenida, uma loira, de branco, uma outra mulata de vermelho”, disse o jornalista ao apresentá-las.
No Twitter, a fala do repórter foi alvo de críticas por parte dos usuários.
De acordo com a etimologia da palavra, o registro do uso do termo mulata ou mulato tem origem em 1539 e durou por todo o período escravocrata brasileiro.
A palavra era usada para se referir aos filhos mestiços, em sua maioria de escravas negras com os colonizadores brancos.
Mulato, ainda, deriva da palavra mula, animal que é estéril e resulta do cruzamento do jumento com o cavalo.
É preciso prestar atenção, contudo, que não é incomum que, ao longo do tempo, as palavras possam ser ressignificadas.
Se em 1500 o termo era amplamente usado, hoje, em pleno 2019, o termo é considerado pejorativo e violento por sua conotação racista por parte do movimento negro.
Ou seja, quando alguém se refere a uma pessoa negra como mulata, inconscientemente está usando uma palavra que não é neutra, como negro ou afrodescendente, que remete à origem da pessoa.
Mulato ou mulata pode ser entendido como um termo carregado de simbolismos que representa um julgamento, uma limitação, uma inconveniência.
“Palavras não são racistas em si. O preconceito vem é dos significados que nós atribuímos à elas”, escreveu a linguista Cris Oliveira, no site Blogueiras Negras.
“A questão é que não faz tanto tempo assim que nós, negros, começamos a ter o direito de contar as nossas estórias usando as nossas próprias vozes, partindo do nosso ponto de vista. Eu sou negra e prefiro que me chamem assim, não de mulata, escurinha ou qualquer eufemismo”, complementou.
Para a linguista, a melhor coisa a se fazer quando se tem dúvidas se um termo é racista ou violento, é perguntar e escutar com sensibilidade.
“Preste atenção como a pessoa se refere a ela mesma”, explica ela em seu texto. “O ser humano tem que admitir a sua ignorância.”