A liderança de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pela Presidência da República e a disparada nas pesquisas de Fernando Haddad (PT), candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anteciparam a defesa do chamado voto útilpelos eleitores e também pelas campanhas.
O primeiro a lançar a estratégia foi Geraldo Alckmin (PSDB). Estacionado na corrida com 9% das intenções de voto, conforme pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (14), o tucano tem apelado à defesa do voto útil com foco no antipetismo, que já era marca de sua campanha, na busca por eleitores do centro e da direita que hoje estão alinhados com Bolsonaro.
Alckmin tem repetido em entrevistas e também nas redes sociais que votar em Bolsonaro é "abrir caminho para a volta do PT". "Basta ver a simulação de segundo turno para perceber que o Bolsonaro é um passaporte para a volta do PT. Você vota num, elege o outro", escreveu na quarta-feira (12), no Twitter.
"O que eu puder fazer para evitar isso [volta do PT], eu vou fazer. Acho que vai ter voto útil à medida que vai avançando a campanha", disse o tucano na quinta (13), em sabatina do jornal O Globo.
Também conhecido como voto estratégico, o voto útil é aquele em que o eleitor, a fim de evitar a vitória de determinado candidato, põe de lado a sua convicção política.
"É antecipar o voto naquele candidato que você acredita ser capaz de derrotar o seu adversário. O eleitor abre mão da sua preferência por uma estratégia, para evitar um mal maior, digamos assim", afirma o cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Alckmin calcula que o plano do PT de transferir votos de Lula para Haddad será bem-sucedido, com chance de o ex-prefeito de São Paulo passar para o segundo turno.
A avaliação tucana em relação a Bolsonaro, por outro lado, é de que a candidatura do ex-capitão pode morrer na praia. Líder isolado com 26% das intenções de voto no primeiro turno, Bolsonaro tem dificuldade em vencer qualquer adversário nas simulações de segundo turno. Alckmin, por sua vez, venceria Haddad com certa folga (40% contra 32%, mas com 25% de indecisos), ainda de acordo com o último Datafolha.
O tucano também pode ser beneficiado pela ausência de Bolsonaro das ruas para crescer entre o eleitorado. Esfaqueado no último dia 7 durante ato de campanha, Bolsonaro continua internado em estado grave e deve passar por um processo lento de recuperação. Longe de seu comando, a campanha atravessa uma crise, e aliados admitem que não têm condições de "levar milhares às ruas" como faz o candidato.
Enquanto Alckmin tenta abocanhar votos de Bolsonaro, os candidatos empatados no segundo lugar, Ciro Gomes (PDT) e Haddad – ambos ex-ministros de Lula – tentam conquistar os eleitores alinhados à esquerda para garantir uma vaga no segundo turno. Uma série de memes sobre essa possível divisão já circula nas redes sociais.
Com a credencial de "candidato do Lula", Haddad saltou de 4% das intenções de voto, no Datafolha de 22 de agosto, para 9% em 10 de setembro e 13% na pesquisa desta sexta. Ciro também cresceu, mas manteve os 13% do levantamento anterior.
Se na centro-direita o voto útil é aquele que pode derrubar o PT, na esquerda o objetivo é evitar a vitória de Bolsonaro escolhendo um candidato com potencial para derrotá-lo. Para os eleitores dispostos a fazer esse cálculo, a atenção às pesquisas eleitorais é essencial.
"Quanto mais pesquisas, melhor. Esse é o princípio. O cenário em que o cidadão está mais informado é aquele em que as pesquisas foram mais numerosas", diz o cientista político Bruno P. W. Reis, vice-diretor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"A ideia [do voto útil] é votar dentro de um parâmetro minimamente realista, informado pelas pesquisas. É legítimo, o eleitor tem o direito de fazer isso", conclui o professor.